Um dos discursos da Fifa sobre a Copa do Mundo é ressaltar a união dos povos que a competição promove. E nas arquibancadas da Rússia têm ocorrido mais do que isso. Muitas mulheres iranianas também estão sentindo a sensação de liberdade. No embate entre Irã e Espanha, nesta quarta-feira, pela segunda rodada do grupo B, muitas iranianas apareceram no estádio sem burca, com o rosto descoberto e até com pintura da bandeira do país na face, algo impensado em solo iraniano. Lá, as mulheres são proibidas de assistirem in loco a qualquer prática esportiva masculina. A realidade está começando a mudar e não somente na Rússia. O movimento pela liberdade das mulheres em acompanhar o esporte e, principalmente, o futebol dos homens, ganhou um porta-voz de peso.
O capitão da seleção do Irã, o volante Masoud Shojaei, do AEK Atenas (GRE), está em sua terceira Copa do Mundo. Experiente, o atleta decidiu se tornar um interlocutor do público feminino de seu país que deseja acompanhar o futebol. “Eles [governo] deveriam tomar uma atitude para permitir a presença das mulheres nas arquibancadas no futuro”, disse o jogador em entrevista à rede de TV Varzesh3.
E parece que a atitude tem surtido efeito. Nesta quarta-feira, o estádio Azadi, em Teerã, realiza a transmissão do jogo entre Irã e Espanha e as mulheres foram liberadas para comparecer ao estádio, pela primeira vez. Os ingressos estavam à venda por 150 mil rials (cerca de R$ 13). Azadi, que significa liberdade, é o maior estádio do país, e possui capacidade para até 100 mil pessoas. Porém, será utilizado apenas 25% da capacidade do local, que deve receber cerca de 10 mil pessoas, conforme a agência iraniana de notícias Isna.
ورزشگاه آزادی، هماکنون! pic.twitter.com/02j1CiBPVq
— Team Melli IRAN (@TeamMelliIran) 20 de junho de 2018
Imagem (mostrada acima) postada pela Federação Nacional de Futebol do Irã mostra mulheres em um estádio do país pela primeira vez. Milhares delas acompanharam a derrota iraniana para a Espanha, por 1 a 0, por um telão.
A agência de notícias Isna informou ainda que a ideia era transmitir também o primeiro jogo contra Marrocos, mas a autorização para isso não foi conseguida a tempo. As iranianas foram impedidas de ir aos estádios em partidas de futebol dos homens desde a Revolução Islâmica de 1979. As leis do país dizem que a proibição é uma forma de proteção aos comportamentos vulgares e ofensivos. Em partidas do futebol feminino, apenas mulheres podem comparecer aos estádios.
All they are asking for is to be treated as EQUALS. Women are posting photos of themselves inside #Iran's Azadi Stadium, where females have been banned from matches for decades. Today they were allowed to watch a live screening of @TeamMelliIran's #WorldCup match. pic.twitter.com/ydHgGOTbxd
— IranHumanRights.org (@ICHRI) 20 de junho de 2018
ONG Iran Human Rights também registra, em sua conta no Twitter (no post mostrado acima), o momento histórico.
No jogo contra Marrocos, na estreia da seleção do Irã na Copa da Rússia, as iranianas exibiam algumas faixas, como “Apoie as mulheres iranianas para frequentarem os estádios e “Deixem as iranianas entrar nos estádios”.
A ideia é seguir o exemplo da Arábia Saudita que, em janeiro deste ano, permitiu que suas mulheres possam assistir ao futebol masculino nos estádios do país.