No próximo dia 3 de agosto, o Conselho Deliberativo do Cruzeiro vai se reunir, em caráter extraordinário, no Barro Preto, para decidir pela alienação do imóvel conhecido como Campestre II, na Pampulha. O objetivo é dar o local como garantia para pagamento de parte das dívidas do clube na Fifa, entre elas, a que envolve o Al-Wahda e a transferência do volante Denílson, no valor R$ 5 milhões.
O imóvel está localizado no bairro Santa Branca, dentro da Área de Diretrizes Especiais (ADE) Pampulha. Adquirido pelo Cruzeiro em 1944, o local tem 6 mil m². São seis lotes de 1 mil m², numa região com restrições de uso e ocupação, por causa do aeroporto da Pampulha, localizado bem ao lado, e sujeito a incômodo por conta do ruído das aeronaves.
O Super.FC consultou especialistas de mercado para verificar quanto valeria o imóvel. Segundo o corretor Helberth Sousa, que atua na região, o local estaria avaliado em pouco menos de R$ 7 milhões.
"Fiz uma análise e vi os imóveis que vendemos na região da Pampulha, alguns até anunciados. Esse lote não é tão comercial porque ali é restrito de construção por conta do aeroporto. Como acredito que a intenção do Cruzeiro, neste caso, é só alienar o bem, e não vendê-lo, não haveria problema. O valor de venda ficaria em algo entre R$ 6,6 milhões e R$ 6,7 milhões, podendo variar para um pouco para cima ou um pouco para baixo. O metro quadrado sairia entre R$ 1.100 e R$ 1.200. Valeria mais se não fosse próximo ao aeroporto. Ninguém consegue comprar ali e construir um prédio", analisou Sousa.
Batizado oficialmente de Sede Benito Masci, o local funciona como estacionamento para os frequentadores da Sede Campestre do clube, localizada do outro lado da rua. São cerca de 300 vagas. Associados pagavam uma diária simbólica de R$ 5 e, não sócios, de R$ 20. O serviço era terceirizado, mas o Cruzeiro pouco lucrava, com exceção do período de verão.
Só de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), o Cruzeiro paga R$ 76 mil. O clube está com as parcelas do imposto de abril, maio, junho e julho de 2020 (cerca de R$ 7 mil cada) em atraso, período que coincide com pandemia, além de um débito de IPTUs anteriores que somam R$ 42,7 mil.
O clube ainda informou que os imóveis estão em processo de regularização. À reportagem, o Cruzeiro explicou que três empresas especializadas vão avaliar o local para determinar o preço que será pedido. A expectativa nos bastidores é de R$ 14 milhões a R$ 15 milhões.
A área de lazer da Sede Campestre está fechada por conta das condições impostas pelas autoridades de saúde. A reportagem esteve no local nessa quarta-feira (15) e confirmou que o estacionamento não abre desde meados de março, quando a pandemia do coronavírus foi decretada.
ESTACIONAMENTO DO PREJUÍZO
Favorável à venda, o conselheiro cruzeirense Vittorio Galinari, antigo administrador da Sede Campestre, deu detalhes do espaço, usado como estacionamento. O local foi terceirizado pelo clube, mas os registros apontavam prejuízos. Não há uma fiscalização periódica sobre o faturamento do empreendimento.
"Lá é o estacionamento para os associados do clube, com um total de 300 vagas. O valor simbólico da diária era de R$ 5. O clube terceirizava, porque a diretoria apontava que não valia a pena manter um estacionamento. O custo era muito alto, de associados que reclamavam que o veículo entrou perfeito, mas saiu arranhado, amassado, teve o estepe roubado", listou Galinari.
A terceirização foi a solução encontrada. "Resolveram fazer um contrato com uma empresa. Nós não tínhamos, para falar a verdade, o controle, nunca teve. Essa empresa que fazia o controle. Uma vez analisamos as contas deles com as nossas, e a planilha bateu certinho, era época de verão. Por vários meses durante a gestão, nós não recebemos nada. O contrato é até vantajoso para o Cruzeiro, porque era 86% líquido, mas não apurava nada. Ele dava prejuízo na maioria dos meses, a não ser no verão. O valor máximo que recebemos lá foi no máximo R$ 4 mil a R$ 5 mil de aluguel para uma área daquele tamanho ", contou o ex-responsável pela sede Campestre.
O Super.FC procurou os atuais representantes da sede Campestre para saber qual a empresa responsável pela administração do estacionamento. O contrato teria sido encerrado no fim do ano passado. Porém, o nome da empresa não foi encontrado. Galinari foi questionado sobre o nome dos operadores do empreendimento, mas ele afirmou não se lembrar. A reportagem esteve no espaço, mas com o fechamento do local, não foi possível identificar qualquer sinalização dos responsáveis pela gestão.
NOTIFICADO EM FUNÇÃO DO AEROPORTO
Galinari explanou ainda sobre outros detalhes da Campestre II e apontou à reportagem que o Cruzeiro já chegou a receber uma notificação devido ao espaço construído e a proximidade com o aeroporto da Pampulha.
"Vários projetos foram tentados. E tem o problema do aeroporto, você não pode construir nada acima. Na verdade, o Cruzeiro já recebeu até notificação da altura do espaço. Ela passa um pouco do permitido. Foi pedido para desativar uma parte do telhado. Agora é o elefante branco porque não tem nenhuma renda. Houve projeto de fazer uma churrascaria, houve projeto de fazer academia, mas nada foi adiante", concluiu.
APELO
Para a aprovação da alienação do imóvel, a reunião do conselho exige um quórum favorável com a presença e aprovação de 90% dos conselheiros, segundo o ex-presidente José Dalai Rocha.
"Precisamos do seu apoio, vamos agir com muita transparência. A nossa ideia é que após a aprovação, serão feitas três avaliações oficiais. E as propostas serão feitas de forma pública. Vamos fazer uma apresentação completa no dia da reunião", afirmou o presidente, Sérgio Santos Rodrigues, em vídeo encaminhado aos conselheiros.
Mensagem do Presidente @SergioSRoficial aos Conselheiros e Conselheiras do @Cruzeiro. pic.twitter.com/SgjwM9zPNT
— Léo Portela (@leoportela_) July 15, 2020