PORTO ALEGRE. Um criticado Edilson, em péssima temporada, sem jogar bem há meses. Fred, outro que não joga bem faz tempo e vive um jejum que parece interminável, visto como solução para um ataque com apenas um gol nas seis partidas anteriores. Orejuela, que vinha jogando muito bem na lateral-direita, sendo um dos poucos a se salvar no terrível ano celeste, deslocado para a ponta. Foram essas as ideias de Adilson Batista para tentar melhorar o Cruzeiro e buscar uma improvável vitória sobre o Grêmio no Sul do Brasil.
Não fez sentido algum para mim. Talvez não tenha feito sentido algum para você também. Pelas conversas com outros jornalistas e publicações em redes sociais, não parece ter feito muito sentido para ninguém, tirando o próprio Adilson Batista.
No fim das contas, as escolhas por Edilson na lateral, Orejuela na ponta e Fred no ataque se provaram grandes desastres. No entanto, não foram os únicos erros do treinador celeste na derrota para o Grêmio, na Arena, nesta quinta-feira (5), que apertou ainda mais a corda no pescoço do Cruzeiro.
Adilson até tentou se controlar e passar tranquilidade para seus nitidamente nervosos jogadores dentro de campo. Na área técnica, andou de um lado para o outro, vez ou outra olhou para os céus como quem implora por um milagre, mas não aparentou um nervosismo acima do normal, muito menos desespero.
Seu time, porém, estava absolutamente perdido em campo. Errava passes bobos, desperdiçava de formas bizarras os raros bons ataques que conseguia construir com finalizações toscas, o meio-campo não sabia o que fazer, o ataque seguia sem inspiração e a defesa estava uma completa confusão.
Orejuela, seu ponta inventado, em um lance correu desesperado para cobrir o zagueiro Cacá, enquanto o lateral Edilson estava na ponta esquerda, ninguém ocupava a direita e existia um enorme buraco no meio-campo. O lance bizarro é apenas um retrato da bagunça completa que se tornou o Cruzeiro.
Abre parênteses
Muito antes de Adilson chegar, sejamos justos. A escolha por um treinador que há anos faz péssimos trabalhos para salvar um time que mais parece um catado pode e deve ser criticada, mas ele, com menos de uma semana no cargo, está longe de ser o maior culpado pela crise, ainda mais com os adversários e cenários que enfrentou, e fora de casa.
Adilson, porém, certamente é responsável por alguns dos equívocos contra Vasco e Grêmio, principalmente contra o Tricolor, na última noite.
Fecha parênteses
Na beira do campo, no entanto, Adilson Batista tentava passar tranquilidade para seus comandados e consertar os erros da equipe com orientações.
Até que ele perdeu a paciência e cometeu mais erros.
O responsável pela explosão do treinador foi Ariel Cabral, outra de suas invenções, que não vinha sendo titular antes de sua chegada e vive péssima fase faz meses.
Praticamente no lance seguinte após receber cartão amarelo, o argentino cometeu uma falta dura em que poderia ter sido expulso. Todo mundo na Arena achou que Ariel receberia o cartão vermelho, até Adilson. Curiosamente, porém, o árbitro achou que o hermano não deveria deixar o campo e não o expulsou. Mas ele saiu da cancha de outra forma.
Revoltado, Adilson explodiu ao ver a falta de Ariel. Gritou para os lados, para o banco de reservas, para os céus. Gesticulou com força. Chamou Robinho e o mandou ir para o aquecimento.
Quando o jogo parou, o treinador mandou o meio-campista entrar imediatamente na vaga de Ariel. Apesar do temor justificado de uma expulsão, o nervosismo do time já tinha tomado conta também de Adilson Batista. Robinho tinha aquecido por praticamente 30 segundos.
Sua substituição não deu certo e, dentro de campo, suas invenções se provavam um desastre. Ruim e descontrolado, Edilson tinha uma noite daquelas. Os destaques? Uma discussão com Henrique, falhas na marcação e uma cobrança de falta completamente bizarra. Depois do jogo ainda disse estar puto com sua equipe e que seu próprio time foi "cabaço". Já o ponta Orejuela estava completamente perdido em um time completamente perdido. Fred, por sua vez, como em tantas outras partidas, sequer pareceu ter jogado.
Com o tempo passando e o gol milagroso e salvador não chegando, Adilson resolveu queimar substituições. No desespero, queimou suas três com apenas 12 minutos do segundo tempo. Além da de Ariel por Robinho ainda na etapa inicial, em um intervalo de três (!) minutos, tirou Fred e colocou Pedro Rocha e, depois, promoveu a entrada de Ezequiel na vaga de... Orejuela. De forma inacreditável, Edilson seguiu em campo e o treinador não desfez suas invenções bizarras, ainda que a saída de Fred fosse realmente e obviamente necessária.
No entanto, é impressionante como aquele ditado é verdade. Quando a fase não é boa...
Adilson fez substituições ruins e rápidas demais, e ficou sem ter como fazer alterações já aos 12 minutos do segundo tempo, mas como se não bastasse as desgraças já existentes, tudo parece dar errado no Cruzeiro.
Errado ou certo, o treinador sacou Ariel Cabral com medo de perder um jogador expulso e ficar com um a menos. Colocou Robinho em seu lugar. Na sequência, fez outras duas substituições ruins cedo demais. Depois, Robinho acabou se contundido e precisou deixar o campo. Adilson fez uma mudança por medo de ficar com um atleta a menos. Ainda assim, acabou ficando com 10 contra 11.
Tem dias que nada dá certo
No Cruzeiro, porém, faz muito tempo que nada parece dar certo dia algum.
No fim, um nitidamente nervoso e perdido Cruzeiro, de um treinador que também se mostrou nervoso e perdido, acabou derrotado mais uma vez.
A corda no pescoço apertou ainda mais. O time ruim, desorganizado, perdido e que parece entregue psicologicamente, precisa vencer o Palmeiras em casa e torcer para o Botafogo bater o Ceará no Rio de Janeiro para seguir na Série A do Brasileiro. Os dois jogos são neste domingo (8), às 16h (de Brasília). O cenário é desesperador e parece que apenas um milagre pode salvar o Cruzeiro. Um milagre daqueles que Adilson pareceu implorar aos céus durante o duelo com o Grêmio.
A sensação, mais uma vez, é de que só um milagre salva o #Cruzeiro. Time ruim, desorganizado e que parece entregue psicologicamente. Cenário desesperador #GRExCRU
— Gabriel Pazini (@Gabriel_Pazini) December 5, 2019
A saída de Adilson Batista após mais uma derrota. Se o Ceará empatar no domingo, o #Cruzeiro cai #GRExCRU pic.twitter.com/kBbPlXQnCs
— Gabriel Pazini (@Gabriel_Pazini) December 6, 2019