Os muitos anos de vôlei nas costas não tiraram a paixão do central Ronald Garcia em seguir aproveitando enquanto é tempo e sua saúde permite. O jogador, prestes a completar 38 anos, defende o Regatas Lima (PER), no Sul-Americano de clubes, que acontece até sábado no ginásio do Riacho em Contagem. A tendência é que o clube dispute o quinto lugar, nesta sexta-feira, contra o Juan Ferreira (URU), no penúltimo dia de competição.
A longa trajetória o presentou com título do campeonato italiano, o mais concorrido do mundo, pelo Sisley Treviso. Além do Trentino (ITA), jogou na segunda divisão do país da bota, além de Grécia e Finlândia. Hoje, atua em um time de realidade semi-amadora, precisando se virar em outras funções para sobreviver e sustentar esposa, filha, além da família, que segue encarando de frente a crise na Venezuela.
"Nossa liga dura pouco mais de um mês, mas o contrato é de seis meses. A pré-temporada é longa, mas quando o vínculo se encerra, temos que nos virar", conta o jogador, que é formado em Educação Física e atua como auxiliar do time adulto feminino, além de ser técnico da equipe juvenil masculina, aproveitando os cursos internacionais que tem no currículo.
Presente na Olimpíada de Pequim, em 2008, ele se aposentou da seleção venezuelana há 10 anos. "Todos os profissionais nascidos ali dão um jeito de sair do país. Pra mim, foi mais fácil ir para o Peru, me ofereceram passagem e estadia, me ajudaram com o visto de residência, com toda a burocracia necessária", revela.
Dependência
Vendo a família e amigos enfrentarem grande necessidade no seu país, ele fez questão de mandar uma quantia mensalmente. "É algo para eles sobreviverem. Não vou lá há seis anos, o momento é bem delicado. A delinquência cresceu muito, a pobreza também. Sobram pessoas com mente vazia, que buscam as coisas mais fáceis. As empresas estão pobres, não produzem nada, não há serviço médico. É um grande sofrimento", lamenta. "A Venezuela é um país lindo, cheio de potencial. Eu poderia ter me formado por lá, ter conseguido um trabalho, casa e carro. Mas o governo limita tudo, privatizou as empresas e tudo está colapsado", reforça.
O sonho de voltar ao seu país não é somente dele. "Queremos que ali volte a ter uma democracia, um país com união, paz e harmonia, onde cada um possa exercer seus direitos, ter sua própria vida, sem depender do governo. É preciso que as sanções ao país se intensifiquem para que Maduro saia do poder. Aí as coisas vão ficar mais claras. Uma mudança de governo é necessária, é importante o apoio do EUA e da comunidade internacional para reconhecer o governo de Juan Guaidó, que foi eleito de forma legítima pela Assembleia Nacional. Quando tudo se resolver, veremos um retorno maciço de todos pra casa. Será algo muito lindo", projeta.
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