"Sabemos bem que a Copa Brasil não vale muita coisa. É um torneio mais pra gente jogar do que garantir presença em algum torneio". Foi desta forma que a central Fabiana, do Dentil-Praia Clube relembrou do segundo maior torneio do país nos últimos dias.
Não bastando não dar vaga em uma competição de relevância (o campeão joga a Supercopa, em jogo único, no começo da temporada seguinte), o que mais incomoda na Copa Brasil é o desgaste que os quatro times classificados para as semifinais precisaram enfrentar antes e depois do evento.
Enquanto o formato masculino foi disputado em Lages (SC), o feminino aconteceu em Gramado (RS), duas cidades distantes da maioria dos semifinalistas. No entanto, o que mais atrapalhou não foi a distância para as cidades-sede, que fizeram um esforço para receber alguns dos principais times e jogadores do país.
"Nosso questionamento é em relação ao calendário. Antes mesmo da temporada começar, analisamos as datas e alertamos a CBV que em janeiro e fevereiro, a média seria de um jogo a cada três dias. E isso com viagens e deslocamentos entre as partidas. Debatemos, tentamos trocar os jogos e não conseguimos. A CBV foi taxativa, nem colocou o assunto em pauta. Deveria acontecer um descanso maior entre um jogo e outro. As atletas são as principais prejudicadas, é o corpo delas que está em jogo e acaba sendo encurtada, no final das contas", protesta Keyla Monadjemi, diretora do vôlei feminino do Itambé-Minas, campeão da Copa Brasil feminina. "Nem sempre as coisas vão acontecer como os clubes querem. O calendário é corrido mesmo e só resta nos adaptarmos", salienta Bruno Vilela, supervisor do Dentil-Praia Clube.
O time de BH, após conquistar o título no último sábado, viajou durante todo o domingo de volta para Belo Horizonte, precisando treinar na segunda-feira já pensando em compromisso desta terça-feira pela Superliga, competição que divide a liderança com o rival Praia Clube.
Uma outra sugestão dada pelo clube à entidade que rege o vôlei nacional foi estender, em uma ou duas semanas, a Superliga. Desta forma, um espaço maior entre os jogos daria um pequeno descanso para os times que chegam longe em outras competições. "É preciso pensar, urgentemente, em uma mudança global do calendário, envolvendo federações nacionais e internacionais. O argumento da CBV é que precisa atender à seleção brasileira. Uma solução seria colocar jovens jogadoras ou atletas de equipes já eliminadas na Superliga nos primeiros jogos da Liga das Nações", comenta a diretora.
Keyla lembra que os principais atletas, que são pagos pelos clubes durante todo o ano e atendem a seleção por cerca de cinco meses, sofrem com o pequeno período de descanso. "Eles não têm, no total, 15 dias de férias no ano. Isso é desumano. Eles precisam descansar a cabeça, o esporte também tem muito da sua parte mental, vai além da questão física. Claro que queremos ter profissionais na seleção, isso os valoriza. Mas temos que repensar essa situação. É preciso, de verdade, um calendário ininterrupto como acontece nos últimos anos?", questiona.
No masculino, atrasos de vôos, entre outros imprevistos, fizeram as equipes masculinas, como Sada Cruzeiro e Maringá, chegarem a Lages com poucas horas de antecedência para a semifinal. O time do Paraná, por exemplo, desembarcou na cidade-sede das finais, no mesmo dia em que decidiria sua permanência na competição.
Contactada, a CBV fiz que já estuda mudanças para minimizar os efeitos do calendário nas próximas temporadas. "Sabemos da intensidade do calendário e o nosso é feito de acordo com o da Federação Internacional. A questão é que os dois times finalistas da Copa Brasil feminina, especificamente, neste ano tiveram além do estadual, o Sul-Americano e o Mundial de clubes. Estamos atentos a este assunto, temos falado com a própria Federação Internacional sobre este calendário apertado para os atletas, em especial para os que servem à seleção. No último congresso, a FIVB falou sobre a contratação de uma empresa de consultoria para formular um calendário mais de acordo com as necessidades atuais", declarou a entidade.
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