Se em 2014, quando o país sediou a Copa do Mundo, os brasileiros deram um exemplo de educação e hospitalidade aos turistas, agora, o que se vê na Rússia é uma sequência de vexames. Apesar de serem excessão, alguns "conterrâneos" que foram para o país-sede da Copa se comportam de maneira vergonhosa, o que gerou muita repercussão nas redes sociais. São pelo menos cinco casos de machismo já registrados.
Segundo o professor do Departamento de Filosofia da Unicamp, Roberto Romano, o comportamento desses turistas, eticamente, é o pior possível. Segundo ele, pessoas que agem assim são “doentes”.
“Quando um indivíduo está em um certo círculo, ele se comporta de acordo com as regras pré-estabelecidas daquele ambiente, ele os aceita. Mas quando ele se vê no meio de uma multidão, ele se sente liberto, a suas atitudes condizem com o seu caráter”, afirmou.
Romano ainda disse que esse tipo de atitude é característica das redes sociais. “A pessoa quando está na igreja ou no trabalho, se comporta de um jeito. Na internet, ela tem atitudes completamente diferentes, e são elas que definem o que o indivíduo é de verdade”, disse.
Já na análise do sociólogo Antônio Carlos Prates, a atitude vergonhosa dos brasileiros pode ser explicada, em partes, por uma questão cultural. Ele ainda afirma que atitude dos machistas no exterior não tem ligação direta com o país de origem, e sim com o meio esportivo.
“Essa situação está muito ligada ao ambiente do futebol, que tem mais a presença do machismo e da hostilidade. É um comportamento que está nos jogadores e na torcida”, disse.
O sociólogo também acredita que essa não é uma característica exclusiva dos brasileiros. “Isso acontece no mundo inteiro. Não tem a ver com a nacionalidade em si, mas com o meio. Há isso na Inglaterra, na Espanha, em quase todos os países”, afirmou.
As polêmicas
O caso mais emblemático até agora foi o de um grupo de torcedores que tinha, inclusive, um ex-secretário de Turismo de Recife. No vídeo, eles incentivavam uma mulher russa a falar palavras obscenas. Os brasileiros aparecem em volta dela falando sobre a sua genitália, gritando: “buc... rosa, buc... rosa!”.
Três dos torcedores que aparecem nos vídeos já foram identificados: o pernambucano Diego Valença Jatobá, advogado e político, o piauíense Luciano Gil Mendes Coelho, engenheiro civil, além do policial catarinense Eduardo Nunes.
Em outro vídeo, o mesmo grupo diz: “essa é bem rosinha, essa é bem rosinha!”. Sem saber o que os maldosos brasileiros diziam, a russa embarca na empolgação e acaba repetindo as frases.
Nessa terça-feira (19), um outro vídeo viralizou nas redes sociais. Nele, brasileiros que estavam em um voo na Rússia brincavam com a aeromoça enquanto ela passava as instruções de segurança, antes da decolagem. Eles gritavam enquanto ela demonstrava como era o encaixe do cinto e como utiliza-se o colete salva-vidas.
Torcedores brasileiros pegam no pé de uma aeromoça russa antes da decolagem. E aí, o que você achou?
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Em outra publicação, um brasileiro pede para um estrangeiro repetir com ele: “Eu sou um filho da p..., eu sou viado”; e também: “Eu dou para o Neymar”.
Cidade mineira envolvida
Já nesta quarta-feira (20), mais outros dois casos de machismo de grande repercussão. No primeiro, um homem pede para uma mulher estrangeira falar “você vai dar para tomo mundo de Montes Claros” e depois “Montes Claros, melhor b... do mundo”.
O caso de Montes Claros pode trazer graves consequências para o homem na Rússia que, provavelmente, é da cidade do Norte de Minas. A jurista Alena Popova entrou com uma denúncia após recolher assinaturas em uma petição que recrimina o ato de alguns brasileiros no país.
Outro caso que veio à tona foi a do funcionário da empresa aérea Latam Felipe Wilson, que acabou sendo demitido nesta quarta-feira (20). Ele participou de uma gravação na qual pede para três russas falarem em português palavras de baixo calão. Nas imagens, Felipe e um outro homem incentivavam as mulheres a falarem “eu quero dar a b... para vocês”.
A Latam disse ter ficado incomodada com a postura do funcionário, que era supervisor de aeroportos.
*Sob supervisão da jornalista Paula Coura