Viaje por Minas

Serra da Canastra promove II Festival do Queijo nos dias 2 e 3 de agosto

Evento contará com a participação de 56 produtores da região, conhecida por seus queijos premiados

Por Shirley Pacelli
Publicado em 30 de julho de 2019 | 03:00
 
 
 
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Definitivamente, não se pode dizer que falta ousadia (ou melhor seria dizer “garra”?) à turma da Canastra, em São Roque de Minas. A região, reconhecida oficialmente no Estado como uma das sete produtoras do queijo Minas artesanal acumula histórias envolvendo a iguaria. Em 2017, o produtor Guilherme Ferreira, da Estância Capim Canastra, fez um queijo durante um voo de balão. E agora, no caso mais recente, um grupo escondeu 60 queijos nas malas, em meios às roupas e, munidos de fé, acreditando na boa sorte, conseguiram driblar a fiscalização e levar as peças para participar do concurso francês Mondial du Fromage. 

Pelo fato de os queijos serem feitos de forma artesanal, com leite cru, os produtores não tinham autorização das autoridades brasileiras para levá-los para outro país. Além disso, a União Europeia proíbe o transporte de derivados de leite na bagagem... Mas a história teve um final feliz: um saldo de 24 medalhas para a Canastra.

Superouro

Uma das medalhas mais cobiçadas, a super ouro, foi para o queijo do Ivair. O casal Maria Lúcia Oliveira e Ivair José de Oliveira produzem Queijo há 19 anos. “Aprendi a fazer queijo com minha mãe e minha avó”, conta Maria Lúcia, que hoje é quem realmente faz o queijo. “Quando ele (Ivair) entrou para a associação, ficava no sítio sozinho produzindo e eu morava na cidade. Tinhas as filhas na escola e costurava para fora. Por isso ficou sendo o ‘Queijo do Ivair’”, explica a são-roquense. 

Hoje, com as filhas criadas, Maria Lúcia se dedica integralmente ao sítio. “Eu larguei tudo e fui para o sítio. Vi que dava para sobreviver do queijo. Agora estou muito feliz”, diz. Ela conta que mandou dois tipos de queijo com a equipe da Associação dos Produtores de Queijo Canastra (Aprocan) para a França: o superpremiado, produzido com leite da ordenha da tarde e maturação de 30 dias, e outro, da manhã, com maturação entre 35 e 40 dias. Esse último levou uma medalha de bronze. “Foi emocionante. Eu não esperava. Nunca passou pela minha cabeça ganhar uma medalha do tamanho que veio: o prêmio máximo. É assustador às vezes. Demorou para cair a ficha”, brinca. 

Depois da premiação, a demanda está muito grande no sítio do Ivair, que é aberto à visitação. Todas as 35 peças de queijo produzidas diariamente estão sendo vendidas. “Nos dias de férias estava uma loucura. Estamos recebendo entre 15 e 30 pessoas diariamente”, conta Lúcia. Há quem queira levar até seis peças: “tive que colocar o limite de uma por pessoa para atender todo mundo. A produção é pequena”, explica. 

O sítio fica a cerca de 9 km da cidade, mas há sinalização e endereço a um clique no Google Maps. A visita é gratuita. Lúcia apresenta a queijaria e promove uma degustação. Ao final, você pode levar um queijinho “superouro” para casa.

Degustações, viola caipira e aula-show no II Festival da Canastra

O queijo canastra, de casca amarela e branquinho e cremoso por dentro, será o protagonista da festa realizada nos dias 2 e 3 de agosto em São Roque de Minas. O II Festival do Queijo da Canastra contará com a participação de 56 produtores da região. O evento é aberto ao público e inteiramente gratuito. Serão dois dias de atividades voltadas à gastronomia e à cultura. 

Segundo Higor Freitas, gerente de projetos da Associação de Produtores do Queijo da Canastra (Aprocan), a expectativa é atrair um público de cerca de 2.000 pessoas nos dois dias do festival. Na programação estão aulas-show com chefs renomados como Joanne Ribas (2/8, das 18h às 22h) e Renato Freire, Jaime Solares e Gabriel Trillo (3/8, às 17h). 

O festival contará ainda com harmonização dos queijos com vinhos e cervejas e uma aula de fabricação do queijo canastra em plena praça. Para animar a festa, na sexta-feira haverá um tributo a viola com Chico Lobo e trio. No sábado será a vez de Renato Caetano e banda. O público poderá apreciar e comprar produtos artesanais da região, como cerveja, vinho, azeite e doces, além de queijos (entre R$ 35 e R$ 100), é claro. 

Uma programação paralela ocorrerá durante o festival. Turistas poderão fazer roteiros gastronômicos pelas fazendas em atividades, que vão desde um café colonial após um voo de balão até um almoço completo preparado por chefs. 

Diferencial
Freitas explica que o queijo canastra se diferencia dos outros por uma série de fatores; o chamado terroir: características que dão o sabor próprio. “A pureza da água, os minerais do solo, o clima, a vegetação, a raça do gado e a pastagem nativa que ele come interferem”, detalha.

Para quem vive na região, o queijo vai bem com tudo. “É ideal para acompanhar o café puro, uma cerveja ou um vinho. Dá para fazer prato para servir almoço ou jantar. Vai da criatividade de cada um”, garante ele. 

Informações sobre a rota do Queijo Canastra em queijodacanastra.com.br. A Aprocan desenvolveu também um aplicativo da região para facilitar a vida dos turistas que querem conhecer a produção do queijo canastra de pertinho. Disponível para dispositivos Android (bit.ly/2K12).

 

E muito mais...

Da serra da Mantiqueira à Araxá

Nas Terras Altas da Mantiqueira, no Sul de Minas, fica a pequena cidade de Alagoa, com cerca de 2.400 habitantes e 135 produtores de queijo – são cem anos de tradição. Vem de lá o premiado queijo d’Alagoa (@queijodalagoamg), pioneiro na venda pela internet no Brasil. Osvaldo Filho é a pessoa por trás da iniciativa. “Eu nasci em Santo André, em São Paulo, mas meu pai é de Alagoa. E meu bisavô Geremias Sene era tropeiro. Ele atravessava a Mantiqueira vendendo queijo num balaio”, conta.

Osvaldo recebe turistas que fazem um roteiro do azeite e do queijo bastante popular na região. Os visitantes iniciam o tour conhecendo os olivais da Fazenda Caurê, almoçam e depois partem para a Fazenda 2M, que tem queijos premiados na França. O passeio termina na loja da queijo d’Alagoa. Esse roteiro sai a partir de R$ 150 por pessoa. A Zênithe Turismo (zenithe.tur.br) faz o passeio com saída de Penedo (Rio de Janeiro) a partir de R$ 4.557 por pessoa em apartamento duplo. Há tour programado de 18 a 25/8, incluindo transporte, hospedagem, refeições e degustações.

Araxá
Em Araxá, região oficialmente reconhecida como produtora do queijo Minas artesanal, a anfitriã é Dalva de Oliveira, do sítio Real (facebook.com/sitiorealaraxa). 

Ela conta que começou a fazer queijo em 2014 depois que o marido se aposentou. Desde lá, já foram quatro prêmios regionais, três estaduais e dois nacionais. O visitante pode fazer um tour rural com a Therma tour (thermatour.com.br), num passeio que inclui uma cachaçaria e a queijaria a partir de R$ 100 por pessoa.

 

Engenheiro “largou tudo” para viver como maturador

Fernando Rodrigues trabalhava havia 38 anos como engenheiro civil, mas tinha, há quatro décadas, o hobby de fazer a maturação de queijos. “Meus avós tinham entreposto de queijo. Os queijos eram buscados nas fazendas, iam para o armazém e de lá iam para os grandes centros. Como a estrada era ruim, eles não podiam ser transportados ainda frescos. Tinham que atingir uma cura”, explica. Daí, desde a infância, Fernando teve acesso ao universo dos maturadores, que cuidam para que o queijo “endureça”, mas não perca seu sabor. 

Ele tomou gosto por essa arte, que há três anos acabou virando profissão com a Queijenharia (queijenharia.com.br), onde ele usa de sua criatividade para inventar combinações diversas: queijo com azeite, com páprica picante e até café. Ele inclui as especiarias na própria massa. As peças vão de R$ 50 a R$ 180 dependendo de tempo, tamanho, tempo de maturação e sabor. São 14 tipos tendo o queijo Minas artesanal como base da produção. Há tours da Planeta Turismo para a sede em Rio Acima.

 

ENTENDA

Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) responde:

1- Quantas e quais são as regiões do queijo em Minas?
São sete regiões caracterizadas como produtoras do Queijo Minas Artesanal (QMA): Araxá, Canastra, Serro, Campos das Vertentes, Triângulo Mineiro, Serra do Salitre e Cerrado. Atualmente são 276 QMAs certificados pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA).


2 - Como foi feita essa divisão?
Foram levantados estudos de caracterização da produção de QMA, com base em dados históricos da produção dos queijos de cada região. O modo de fazer de cada queijo é característico de cada região, com base na influência das condições de clima, solo e tradição da produção.

3 - Quais os requisitos para ser considerada uma região produtora do QMA?
Para as regiões serem reconhecidas como QMA, é necessária a comprovação de que sua produção é feita com leite cru, coalho, pingo e sal. Considera-se também o histórico de produção, o meio físico favorável à produção, e um grupo de interesse que justifique o reconhecimento como região produtora. Além disso, são considerados os registros de informações das regiões sobre a tradição na produção de QMA. 

 

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