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"Turismo" vai ao Palácio da Liberdade para descobrir o que atrai os visitantes

Próxima visita acontece neste sábado (25) e domingo (26). Novo site do atrativo lançado recentemente é mais moderno e interativo

Por Paulo Campos
Publicado em 22 de junho de 2022 | 09:54
 
 
 
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A engenheira ambiental Tatiana Gontijo, 40, reservou os ingressos na plataforma Sympla na quinta-feira e, na companhia do marido, Geraldo Advíncola, 41, administrador, organizou um passeio dominical com a família ao Palácio da Liberdade, levando os filhos Laura, 10, Daniel, 8, e Vítor, 6, para que as crianças conhecessem um pouco a história de Belo Horizonte. “Queria aproveitar o feriado e fazer um programa cultural sem gasto”, enfatiza ela, que, embora more na cidade, não tinha colocado os pés no icônico atrativo turístico. 
 
Assim como era uma novidade para Tatiana, o Palácio da Liberdade ainda é um mistério para muitos moradores da cidade. “A gente passava na porta, mas não sabia que era possível visitar”, conta Luana Carolina de Oliveira Silva, 27, administradora, que entrava no monumento pela primeira vez, ao lado do namorado, o arquiteto Daniel Cézar Pimentel, 26. O gatilho para a visita foi a exposição “Hinos do Brasil”, que permanece em cartaz até o dia 7 de setembro e exibe, pela primeira vez, as partituras originais de hinos brasileiros. 
 
Desde que foi reaberto à visitação, em outubro do ano passado, o receptivo do Palácio da Liberdade já contabilizou, até 19 de junho deste ano, 8.173 visitantes – o número não inclui a visitação escolar, retomada recentemente de forma gradual, às quartas e quintas-feiras. Os grupos são de até 25 pessoas, nos horários de 10h, 11h, 13h, 14h e 15h; em breve, os horários serão ampliados. Durante nossa visita, a maioria dos visitantes era formada por famílias com filhos e casais (destes, três eram turistas de outros Estados). 
 
Como acontece em todos os finais de semana, no próximo sábado (25/6) e domingo (26/6) o Palácio da Liberdade reabre à visitação pública. O visitante pode escolher entre visitar só palácio com a exposição “Hinos do Brasil” ou só os jardins. Também tem a opção de participar da atividade Caça aos Detalhes, em horários diferenciados. 
 

Bastidores 

 
O Palácio da Liberdade foi construído para ser a residência oficial dos governadores. Desde 2018, um termo de parceria celebrado entre o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG) e a Appa – Arte e Cultura possibilita desenvolver ações de promoção e educação para o patrimônio. “O termo tornou aprazível a visitação, o equipamento ganhou serviços à altura do cidadão”, afirma Luiz Gustavo Molinari, diretor de promoção do Iepha-MG. O espaço, segundo ele, deixou de ser circunscrito ao poder público para ser usufruído por toda a população. 
 
Segundo Carolina Ribeiro, coordenadora do termo na Appa – Arte e Cultura, para que a visitação funcione perfeitamente, há um trabalho desenvolvido nos bastidores, que envolve o treinamento contínuo da equipe do receptivo para que ela possa criar as experiências para os visitantes. Durante a pandemia, foram desenvolvidos os tours virtuais. 
 

Novo site

 
Nesta semana, por sinal, foi lançado o novo site do Palácio da Liberdade, mais moderno e interativo. Com uma estética que privilegia as imagens e facilita a navegação, o internauta tem informações sobre toda a programação do palácio. Na seção "Exposições", por exemplo, ele tem acesso às mostras atuais e as que sairam de cartaz, além de jogos educativos para download e vídeos sobre a história da edificação.
 

Palácio para crianças 

 
Para atrair um novo público, as crianças, em abril foi criada a atividade lúdica Caça dos Detalhes na visitação aos jardins. Programado em dois horários, às 10h30 e às 14h30, a atividade consiste em compartilhar fotos dos detalhes da fachada e dos jardins aos participantes para que, com um olhar mais atento, possam reconhecer os pontos apresentados pelas imagens, como em um quebra-cabeça. Segundo Tatiana Correia, gerente de promoção do palácio, a proposta é que toda a família participe. “É quase um caça ao tesouro, uma forma de as crianças também descobrirem o patrimônio brincando”, pontua. 
 
Bruno Vianna Martins, 43, viu na atividade um motivo a mais para levar a sobrinha Carolina. A garota, de 10 anos, gostou tanto do Caça aos Detalhes que vai incentivar o irmão, que não sai da frente do videogame, a ir ao palácio da próxima vez. “Eu acho que a atividade lúdica estimula a curiosidade. Se fosse só uma visita ao palácio, ela não iria querer vir”, destaca a mãe, Renata. Por sinal, cada um na família tem um propósito diferente na visita. Bruno, por exemplo, tem um interesse em particular por trabalhar com arquitetura. 
 
Já Geovanni Almeida de Souza, 51, demorou 50 anos para conhecer o palacete eclético. “Acho muito bonito o método de construção, como eram manufaturados os materiais na época”, explica Souza, que trabalha com marmoraria. Tinha também em especial curiosidade de conhecer o local de onde os governadores despachavam. “Antigamente, imagina, JK saía daqui e ia tomar café na padaria Savassi”, comenta. Souza, que sempre passou na porta do atrativo, mas só o conhecia por fotos, vídeos e matérias, considerava até então o palácio “intocável”. 
 

A visita 

 
Ao chegar à entrada do palácio, pelo portão da avenida Cristóvão Colombo, o visitante tem o ingresso recolhido, ganha uma pulseira (na minha visita, era na cor azul) e é encaminhado a uma tenda, com direito a banheiro e um armário para guardar os pertences. Depois desse primeiro contato, os visitantes são conduzidos à entrada principal do palácio, onde recebem instruções básicas, entre elas usar máscara durante o percurso, pisar apenas no tapete vermelho e não tocar em objetos. Fotografias só em espaços delimitados. 
 
Na visita do domingo, dia 19, foram disponibilizados 25 ingressos em cada horário, mas 21 pessoas compareceram no horário das 10h. Tatiana lamenta que algumas pessoas reservam ingressos, mas não comparecem. “A gente deixa um recado na plataforma Sympla, para que as pessoas nos informem caso não consigam comparecer na visita, assim ela dá a oportunidade a outro”, destaca. 
 
Quem acompanhava o grupo às visitas ao interior do palácio era Mariana Vileforte, estagiária do receptivo. Ela é a mediadora do grupo, denominada “anjo”, e acompanhada por uma equipe de apoio, os “arcanjos”, cuja função é auxiliar o visitante, inclusive na orientação do uso de máscaras e na acessibilidade. O palácio, por sinal, tem um belíssimo elevador, provavelmente dos anos 1920. Em cada espaço – são 16 ao todo no percurso –, depois de uma breve explicação, os visitantes têm tempo livre de cinco minutos para explorar o aposento e para tirar fotografias. 
 

Fascínio pela escadaria 

 
A catarinense Sabrina Julian, 30, estudante de arquitetura e oriunda de Joinville, aproveitou o feriado de Corpus Christi para visitar o namorado Bernardo De Marco, 40, em Belo Horizonte e explorar a cidade. No hall, ficou fascinada com a escadaria. “Eu vim só para conhecer a escadaria”, reconhece ela ao ver o objeto de estudo em uma aula sobre o estilo art nouveau na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Desde então acalentava o desejo de ver a obra-prima da engenharia de perto. "Acho incrível como essa escadaria chegou da Europa até aqui”, disse. 
 
Da escadaria, o grupo é conduzido ao segundo andar, ao Salão de Honra. Mariana chama atenção para o belíssimo painel no teto, pintado por Antônio Parreiras, e para quatro alegorias – as musas da literatura, pintura, escultura e música. “Nesta sala, tudo tem um significado, nada é aleatório”, pontua. A pausa é para tirar foto na varanda, o parlatório dos governadores, com vista para a praça da Liberdade, o lugar mais disputado pelos visitantes. No teto, uma curiosidade intriga a menina Laura: debaixo da tinta branca descobriram desenhos na última restauração, em 2015. 
 

“Ordem, progresso e amor” 

 
De volta ao hall, o espaço mais ornamentado de todo o palácio, Mariana discorre sobre pinturas no teto feitas pelo artista Frederico Steckel, o brasão com o lema “Ordem e Progresso” (em alusão ao ideário positivista “ordem, progresso e amor”) e a representação da fraternidade e da liberdade, dois dos três lemas da Revolução Francesa. Do lado direito estão a Sala de Couro, com cores mais fortes, e a Sala da Rainha, com cores suaves. 
 
O casal paulista Chiara Picolo, 22, estudante de medicina, e Felipe Crepaldi, 26, médico, se mostravam encantados com tudo. Ela aproveitou o feriado para conhecer a capital mineira e arredores – já tinham visitado Inhotim, Ouro Preto e Mariana, além do Museu das Minas e do Metal, o Prédio Rosa da praça da Liberdade, patrocinado pela Gerdau. Finalizariam a viagem no Mercado Central. “A gente pesquisou os atrativos pelas redes sociais antes da viagem. Queríamos conhecer um pouco a história da cidade”, afirma Chiara. 
 

Ver os hinos de perto 

 
No Salão de Banquete, o espaço mais luxuoso do palácio, o “anjo” Mariana comenta as quatro alegorias nas laterais, referência à fortuna, ao labor, ao Spes e ao Salve. Um dos destaques é a mesa de madeira retrátil, com capacidade para até 50 pessoas. Os visitantes aproveitam a ocasião para conhecer os originais dos hinos expostos. Medalhões no teto com os desenhos do peixe e da lebre denunciam que a sala era utilizada para refeições. Mariana, então, aponta para o piso em parket com desenho de uma estrela com as pontas degastadas, explicando o motivo de o visitante não poder pisar diretamente no assoalho. 
 
Daniel e Luana, já citados no início desta matéria, afirmam que foram por causa da exposição “Hinos do Brasil”. Luana, falante, tem muito interesse em história do Brasil, principalmente a do período imperial. “Eu sempre busco aprender um pouco mais”, conta. No final do tour, ela reconhece que o palácio superou suas expectativas. Não sabia, por exemplo, que elementos greco-romanos influenciaram a decoração. “Muitos detalhes têm simbolismos, revelam inclusive muito dos costumes da época”, conclui. 
 

Negros como protagonistas 

 
Uma das pinturas mostra disparidades sociais da época, que permanecem até hoje. Na Sala de Almoço, um espaço menor ao lado do Salão de Banquete, chama atenção o quadro em homenagem à Comissão Construtora da capital. O detalhe de fundo é o garçom esmaecido, a única pessoa negra da cena. No andar térreo, em contraponto à pintura, a exposição “Leituras Negras” reafirma o protagonismo da população negra na construção da nova capital. 
 
Ainda no térreo, três arrematam o tour: uma reproduz o gabinete de despacho do governador, outra exibe os retratos de todos os governadores de Minas Gerais desde 1889, e uma, ainda, uma sala de cinema. No corredor até o cinema, uma parede faz a cronologia da construção da capital. O garoto Pedro, 8, fica boquiaberto com os equipamentos que projetam em uma tela um filme antigo, em preto e branco, sobre a construção da cidade. Ainda anestesiada, a irmã Alice, 11, não sabia elencar direito o que mais a impressionou. “Gostei um pouco de tudo”. 
 
Bianca Chamone, dona de casa, 43, e Felipe Almeida, bancário, 36, pais de Pedro e Alice, pareciam incomodados por não poderem visitar os quartos. Bianca foi ao palácio pela primeira vez em uma excursão de escola, quando ainda era permitido o acesso aos aposentos íntimos. Alice parecia, no entanto, mais estupefata com o fato de a sanha modernista dos anos 1960 ter quase levado o prédio ao chão. Se dependesse do arquiteto Oscar Niemeyer, o palácio riscado do traçado geométrico para dar lugar a uma torre de vidro de 80 m de altura. Cinquenta e seis anos depois, a história, enfim, venceu! 
Serviço
 
Novo site: Acesse Palácio da LIberdade.
 
Ingressos: Devem ser sempre retirados gratuitamente na plataforma Sympla a partir das 8h da quinta-feira anterior à visita.
 
Palácio, com acesso à exposição "Hinos do Brasil"
 
Público de todas as idades. Duração: até 50 minutos. Horário:  10h, 11, 12h, 13h, 14h e 15h. Local: interior do palácio. Grupos: até 25 pessoas. dias 25 e 26/6,
 
Somente Jardins
 
Público de todas as idades. Duração: até 50 minutos. Horário: 10h15, 11h15, 12h15, 13h15, 14h15 e 15h15. Local: jardins. Grupos: até 20 pessoas. dias 25 e 26/6
 
Caça aos Detalhes
 
Público-alvo: todas as idades. Duração: até 1h. Horário: 10h30 e 14h30. Local: jardim/fachada. Grupos: até 20 pessoas. Data: 25 e 26/6.
 
Para mais informações sobre a vista, acesse APPA Arte e Cultura.
 
Para checar as regras de visitação, acesse APPA Arte e Cultura.
 
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