Rio de Janeiro. A grave crise do Estado do Rio, que em junho decretou estado de calamidade pública pela crise financeira, teve efeitos especialmente dramáticos nos setores da saúde e segurança. Há hospitais carentes de materiais, funcionários públicos lutando para receber seus salários e delegacias sem papel para registrar denúncias ou sem gasolina para patrulhas.
Além de tudo, os cariocas observam a intensificação da violência e dos tiroteios. “Se, na crise atual que o Rio está passando, a polícia fica com pés e mãos atados, o que vai ser de nós?”, argumenta Maria Thereza Sombra, 82, professora aposentada e presidente de uma associação de moradores do Flamengo.
A idosa elegante sabe que a coleta de produtos é apenas um paliativo para o problema. Mas ela empilha com satisfação em uma mesa da portaria do seu edifício os rolos de papel higiênico, os produtos de limpeza e os pacotes de de papel ofício doados nos últimos dias por moradores dos 35 condomínios que administra. Assim que recebe as provisões, Maria Thereza as risca da lista que recebe periodicamente da chefe da 9ª Delegacia Policias do Rio.
“Juntos com a Polícia”. A falência do segundo Estado mais rico e populoso do Brasil é tão grave que, no início de novembro, a polícia oficializou esse tipo de doação em um programa batizado como “Juntos com a Polícia”. O objetivo era pedir aos cidadãos e às empresas doações de material de escritório, de limpeza e, inclusive, ajuda para “pequenos reparos” nas instalações.
O plano de auxílio “busca garantir a prestação de um serviço essencial para a sociedade e com a qualidade que o cidadão merece”, limitou-se a comentar a Polícia à AFP.
Depois de estourar champanhes e esquecer momentaneamente seus problemas com os Jogos Olímpicos, a realidade bate à porta do Rio: um buraco avaliado em R$ 17,5 bilhões no orçamento de 2016.
“As Olimpíadas tiveram seu efeito, mas não tanto. A crise chegou antes no Rio por uma falência na arrecadação por cargas salariais de funcionários muito elevadas e, principalmente, pela crise dos preços do petróleo”, resume Vilma Pinto, professora da economia da Fundação Getúlio Vargas.
Cidade de Deus
Moradores criticam operação
Rio de Janeiro. O prédio em que o rapper MV Bill mora, na Cidade de Deus, na zona Oeste do Rio de Janeiro, teve três apartamentos arrombados pela polícia nessa quarta-feira (23), em uma operação. Pelas redes sociais, Bill criticou a operação policial. “São moradores que conheço e sei que saíram para trabalhar”, escreveu o artista, que usou a hashtag #CombataOCrimeMasRespeitemOMorador. Também pelas redes sociais, moradores se queixam de arrombamentos cometidos por militares.
O delegado Felipe Cury, responsável pelas operações dessa quarta-feira (23), disse que a decisão judicial que autoriza busca e apreensão na Cidade de Deus só começou a ser cumprida nessa quarta-feira (23) e que somente a Polícia Civil pode fazer as buscas. “A PM não está autorizada a cumprir mandado de buscas. Se cumpriram ontem (terça-feira) ou hoje (quarta), eles não estão autorizados. Colocamos 25 delegados, divididos em quatro áreas, coordenando todas as ações para assegurar as garantias constitucionais dos moradores”, disse Cury.
“Em algumas residências que entramos e não havia ninguém, apreendemos fuzis, quatro pistolas, drogas. Já temos 14 presos ao longo da investigação”, afirmou. Só nessa quarta-feira (23), oito foram detidos.