O Brasil tem 1,5 milhão de pessoas que usam maconha diariamente, de acordo com o Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), feito por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e divulgado ontem.
Tereza*, 26, é usuária desde os 19 anos. "A maconha nunca me fez mal", diz. Ela tem o costume de utilizá-la diariamente e não vê qualquer problema nisso. "Quem diz que é contra geralmente fala por falta de conhecimento. Sei de muita gente que usa essa droga e tem uma vida normal, é inteligente e responsável", diz.
Para Tereza, existe muito preconceito em relação à maconha. "Muitos são mortos no trânsito por culpa de alcoólatras. Outros tantos são atingidos pelos efeitos nocivos do cigarro. Não entendo o porquê de tanto alarde em cima, justamente, da maconha", argumenta a jovem.
O médico psiquiatra Arnaldo Madruga explica que o álcool é mesmo mais prejudicial para a saúde do que a maconha. "A pessoa que fuma cigarro e para fica muito pior em relação àquela que passa pela abstinência de maconha", diz.
Assim como Tereza, 3,4 milhões de pessoas usaram maconha no último ano. Desse total, segundo o estudo, 1,3 milhão se declarou dependente - 37%. Para a psiquiatra Clarice Sandi Madruga, coordenadora do levantamento, a frequência do uso não está relacionada diretamente à dependência. "Há pessoas que fumam todos os dias e têm o cotidiano menos afetado que outras que consomem com menos frequência, mas têm maior vulnerabilidade genética", comenta.
Adolescentes. A pesquisa revela ainda que 54% dos adultos e 31% dos adolescentes acham difícil ficar sem a maconha. O levantamento evidencia que o contato com a maconha começa cedo. Antes dos 18 anos, 62% já haviam experimentado a droga - 17% conseguiram ter acesso a ela na escola.
De acordo com o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, professor da Unifesp que apresentou os dados ontem, o consumo entre adolescentes cresceu 40% entre 2006 e 2012. Segundo ele, do total de usuários diários, 500 mil são adolescentes, grupo no qual a dependência chega a 10%. "Desses 500 mil, estima-se que 50 mil podem ficar psicóticos e vão precisar de tratamento psiquiátrico".
Madruga discorda. Ele defende que a maconha pode causar alucinações no momento do uso, mas não torna o usuário esquizofrênico. "Trabalho há 40 anos nessa área e não vejo uma grande evolução no número de psicóticos", diz.
O levantamento da Unifesp revela que 75% não concordam com a legalização da maconha - alvo de diversos debates nos últimos anos no Brasil. O estudo foi feito entre janeiro e março deste ano. Os questionários eram sigilosos e continham cerca de 800 perguntas. (Com agências)
* Nome fictício