RIO DE JANEIRO. O Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas produzidas no país) acumulou queda de 7,2% no biênio 2015-2016, informou nessa terça-feira (7) o IBGE. Na série de crescimento econômico da entidade, iniciada em 1948, foi a primeira vez em que houve dois anos seguidos com queda anual do PIB. Antes da contagem do instituto, e com outras metodologias de medição, o país tinha apresentado dois anos seguidos de queda no PIB somente em 1930, com recuo de 2,1%, e em 1931, queda de 3,3%. Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, disse que é possível dizer que a recessão atual é a pior desde 1948. A pesquisadora relutou em afirmar que se trata da pior recessão da história, por causa da falta de “dados confiáveis” do período anterior a 1948.
Ainda conforme os cálculos do IBGE, o PIB encerrou 2016 com queda de 3,6%, um pouco melhor que em 2015, quando o recuo foi de 3,8%. “É como se estivesse anulando (os crescimentos) de 2011, 2012, 2013 e 2014, que tinham sido positivos”, disse Rebeca.
Além disso, a queda anual de 6,6% no PIB da agropecuária em 2016 é a maior da série histórica com a atual metodologia. A seca prejudicou muitas produções pelo país, diz o IBGE. A queda de 2,5% no PIB brasileiro no quarto trimestre de 2016 ante o mesmo período do ano anterior ocorreu no 11º trimestre consecutivo de recuo. Apesar da manutenção dos resultados negativos, a perda foi a menos intensa desde o primeiro trimestre de 2015, quando o PIB caiu 1,8%. “A gente continua com taxas negativas, mas taxas menores. A queda veio desacelerando”, definiu Rebeca Palis.
O mesmo movimento foi percebido na indústria. A queda de 2,4% no PIB industrial do quarto trimestre de 2016 ante o mesmo trimestre do ano anterior foi a mais branda em 11 trimestres consecutivos de perdas.
Avaliações. O tombo da economia brasileira em 2016 é resultado de um movimento de vários anos. A avaliação foi feita pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. “Não há dúvida que é a maior crise desde que o PIB começou a ser medido. Isso não foi construído em pouco tempo. Aconteceu em anos, quando a economia foi perdendo grau de confiança”, disse.
Meirelles explicou que a retração também é resultado do aumento da presença do Estado na economia brasileira e que, atualmente, esse processo está sendo revertido. O ministro da Fazenda afirmou também que o governo prevê crescimento de 2,4% da economia no quarto trimestre de 2017 em comparação com o quarto trimestre de 2016. O governo trabalha com hipótese de alta de 1% no acumulado de 2017.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores ( Anfavea) classificou como “dramática” a situação da economia retratada pelo PIB do ano passado. “O Brasil nunca passou por uma experiência como essa”, disse o presidente da associação, Antonio Megale.
Já divulgado
Resultado é o mais fraco do mundo
RIO DE JANEIRO. O Brasil amargou o pior resultado no Produto Interno Bruto (PIB) num ranking de 39 países que já divulgaram seus dados oficiais de atividade econômica, segundo informações compiladas pela Austin Rating. O PIB brasileiro registrou queda de 3,6% em 2016 ante 2015. O resultado foi inferior ao de países que notadamente enfrentam desafios na área econômica, como a Grécia (0,3%), ou passaram por guerras recentes, como a Ucrânia (2,0%) e a Rússia (-0,8%).
A Rússia foi o único país a fazer companhia ao Brasil no território negativo em 2016, dentro do ranking da Austin, que utiliza informações preliminares sobre o fechamento do ano passado fornecidas pelos países listados. A Índia liderou o ranking com um crescimento de 6,9% no ano passado. Todos os países apresentaram melhora entre 2016 e 2015.
Ranking
Alguns PIBs de 2016 já divulgados:
1 - Índia: 6,9%
2 - Filipinas: 6,9%
3 - China: 6,7%
4 - Indonésia: 5,0%
5 - Malásia: 4,3%
6 - Israel: 4,0%
7 - Peru: 3,9%
8 - Eslováquia: 3,4%
9 - Espanha: 3,2%
10 - Tailândia: 3,2%
15 - México: 2,1%
19 - Reino Unido: 2,0%
20 - Colômbia: 2,0%
22 - Alemanha: 1,8%
23 - Estados Unidos: 1,6%
26 - Portugal: 1,4%
30 - França: 1,2%
31 - Estônia: 1,0%
35 - Itália: 0,9%
37 - Grécia: 0,3%
38 - Rússia: - 0,8%*
39 - Brasil: -3,6%
Fonte: Austin Rating
Investimentos recuam 10,2%
BRASÍLIA. O tombo de 10,2% na Formação Bruta de Capital Fixo (investimentos) em 2016 foi consequência de um recuo de 8,7% na construção e redução de 16,0% no investimento em máquinas e equipamentos.
“A queda da importação de máquinas e equipamentos e de automóveis rebate lá na queda dos investimentos. Mesmo automóvel, porque tudo o que é comprado por empresa, a frota, é investimento. E também táxi, van. Isso tudo é considerado investimento”, explicou Rebeca Palis, do IBGE.