Foi-se o tempo em que plantar se resumia a terra, sementes, máquinas, defensivos, fertilizantes e braços para cuidar de tudo. A tecnologia está chegando ao campo, e deve promover a próxima grande revolução na produtividade do agronegócio. Já existem aplicativos para controlar produção, identificar pragas, irrigar e fertilizar automática e milimetricamente. Também já rodam nos campos tratores e colheitadeiras com sensores que calculam sozinhos quanto e o quê o solo ou a planta precisam. O próximo passo na era da internet das coisas – objetos e máquinas conectados à internet – será um trator autônomo, desvia de obstáculos e é comandado até por um tablet.
É possível monitorar toda uma fazenda em tempo real sem sequer estar lá. As empresas que oferecem tecnologia voltada para a agricultura já têm até nome: são as agritechs. “A tecnologia deixou de ser novidade, é uma realidade de mercado”, observa o CEO da Strider, Luiz Tângari.
Sua empresa criou, em 2013, o primeiro software brasileiro de monitoramento e controle de pragas com uso de Tecnologia da Informação (TI). A ferramenta auxilia o produtor rural na tomada de decisões para proteger as plantações contra pragas a partir do uso controlado de agrotóxicos, resultando na redução dos custos.
A startup mineira foi listada pela “Forbes” como uma das 25 agritechs mais inovadoras do mundo. Hoje, a Strider tem cerca de 2.000 clientes e monitora, de sua sede em Belo Horizonte, aproximadamente 2,5 milhões de hectares no Brasil, com culturas como cana-de-açúcar, soja, algodão, café, frutas cítricas, tabaco e batata, além de atender fazendas na Austrália, Estados Unidos, Bolívia, Moçambique e México.
“Neste ano, triplicamos de tamanho; em número de funcionários, dobramos”, diz Tângari. A empresa tem 55 trabalhadores. Para ele, o desafio é desenvolver produtos que sejam úteis e que possam ser incorporados à rotina do homem do campo.
Os conceitos de cultivo inteligente e fazendas conectadas estão no centro do trabalho da Agrosmart, segundo o sócio e diretor de operações Raphael Pizzi. Com sistema integrado a uma plataforma e um aplicativo móvel, em tempo real é possível monitorar mais de 14 variáveis ambientais como chuva, umidade, propensão de pragas, entre outras, por meio de sensores de solo e imagens.
“O relatório gerado, de forma simples, mostra para o produtor informações exatas da plantação e o auxilia nas tomadas de decisões”, ressalta. Ele relata que clientes tiveram economia de até 60% no consumo de água, 40% no de energia e até 15% de aumento da produtividade.
Minas Gerais é responsável por cerca de 40% dos negócios da startup, seguido por São Paulo, que detém em torno de 20%. “Neste ano, vamos crescer quatro vezes mais que em 2016”, diz.
A empresa foi convidada pela Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) para um programa de transferência de tecnologia e foi selecionada pelo Google para participar do programa Launchpad Accelerator. A mineira Mariana Vasconcelos, CEO da empresa sediada em Campinas (SP), ressalta a necessidade de investimentos em produtividade. “Hoje nos deparamos com um problema sério para a população mundial, pois em pouco mais de 25 anos, se não superarmos os atuais níveis de produtividade no campo, não haverá alimento suficiente para todos”, analisa.
Expansão. O número de agritechs cresceu 70% em 2016 frente ao ano anterior no país, com previsão de triplicar até o final do ano, conforme dados da Associação Brasileira de Startups.
Produzir é preciso
Em 2050, conforme estudos da Organização das Nações Unidas (ONU), a população mundial alcançará a marca de 9 bilhões de habitantes
Com o aumento da população, será necessário aumentar em até 70% toda a produção de alimentos
20% de toda a plantação mundial é irrigada, e essas culturas produzem em torno de 40% do total de alimentos, diz a Agrosmart
FOTO: Reprodução/App Store |
Banco de imagens em app gratuito ajuda a identificar pragas |
Agricultura já adota mais que a mineração
Os gastos e o interesse em internet das coisas (IoT) deverão disparar nos próximos cinco anos no setor de agritech – ramo de startups que unem tecnologia e agricultura –, segundo levantamento mundial encomendado pela empresa de comunicações por satélite Inmarsat.
A Vanson Bourne, especializada em pesquisas de mercado, fez entrevistas com cem grandes empresas de agritech em todo o mundo para o relatório “The future of IoT in enterprise – 2017” e descobriu que o setor está rapidamente adotando a internet das coisas: 62% das firmas já haviam implantado, total ou parcialmente, soluções baseadas em IoT, superando os níveis de adoção nos setores de mineração, transporte e energia. Outros 27% declararam que planejam fazer isso nos próximos seis meses.
O levantamento mostra que 66% das empresas agritech entrevistadas preveem gastar de 10% a 20% de seu orçamento de tecnologia da informação no desenvolvimento de internet das coisas até 2022.
Gigante do setor está de olho nas startups de agronegócio
A multinacional Monsanto vai investir em duas ou três startups nos próximos 12 meses, segundo o líder comercial da empresa e membro do time da Monsanto Growth Ventures (MGV) – braço da empresa que identifica empreendedores promissores e novas tecnologias –, Bernardo Monteiro. “Temos alguns investimentos em vista”, diz.
A última aposta da empresa, por meio do fundo BR Startups, foi na mineira Tbit – uma empresa de análise de imagem nascida em Lavras que atua no agronegócio brasileiro. O aporte é de R$ 1 milhão.
Em 2013, a Monsanto adquiriu, por quase US$ 1 bilhão, uma startup nos Estados Unidos, a Climate, cujo principal produto, o FieldView, chegou ao Brasil neste ano. O produto é uma plataforma de monitoramento de lavouras em tempo real. (JG)