O arroz subiu 9,65%, o feijão ficou 30,38% mais caro, o contrafilé teve aumento de 13,6% e a cervejinha subiu 13,21% no ano passado. Os dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), somados ao aumento de 50% no custo da energia e a queda do consumo, fizeram os bares, restaurantes, lanchonetes e casas noturnas da região metropolitana de Belo Horizonte cortarem cerca de 9.300 empregos do ano passado até agora. Isso significa que o quadro de funcionários do setor, que emprega cerca de 111,6 mil pessoas, encolheu 8,3%. Com esse cenário, cerca de 3.100 estabelecimentos correm o risco de fecharem as portas nos próximos 12 meses.
Segundo pesquisa da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), uma a cada seis empresas do ramo terá dificuldade em manter os negócios. “No levantamento feito com aproximadamente 700 empresas, 16% disseram que poderão fechar. Jogando para o Brasil, que tem cerca de 1 milhão de estabelecimentos, podemos dizer que cerca de 160 mil estão ameaçadas”, explica o presidente da Abrasel, Paulo Solmucci Júnior.
De acordo com o levantamento da associação, 51% dos entrevistados afirmaram que fizeram demissões e 25% disseram que estão com prejuízos. A ciranda de custos em alta e consumo em baixa sugaram o restaurante Flores para as estatísticas de fechamento. Após dez anos funcionando na Serra, região Centro-Sul da capital, o bistrô fechou as portas no fim de 2015. “Passei por várias crises, mas nada como essa. Cheguei a zerar o restaurante em algumas noites e, quando percebi que as contas estavam começando a atrasar, decidi fechar”, conta a empresária Samira Lyrio, que empregava quatro pessoas.
O diretor executivo da Abrasel-MG, Lucas Pêgo, destaca que, em tempos de redução dos gastos com alimentação fora do lar, a alternativa para enfrentar a crise é se adaptar. “A melhor estratégia é reduzir os custos, rever fornecedores, investir em equipamentos para aumentar a produtividade”, destaca Pêgo.
Promoções. Para Cezar Ferreira, dono do bar e restaurante Caixote, na Serra, a solução foi repaginar o cardápio, segurar repasses de preços e fazer promoções. Na virada do ano, depois de fazer as contas e ter que demitir seis funcionários, ele decidiu adaptar-se. “Criei pratos executivos a R$ 14,80 e, mesmo comprando a cerveja mais caro, resolvi manter os preços. Confesso que cheguei a pensar em fechar, mas, com o mercado do jeito que está, seria muito difícil arrumar um emprego”, aos 55 anos”, afirma Cezar.
“Uma em cada quatro empresas tiveram prejuízo, mas os 75% que foram capazes de investir nos ajustes demandados pelo mercado, foram capazes de voltar a crescer”, afirma Solmucci.
Espetinhos se mantêm bem na capital
Com a crise, o consumo nos bares e restaurantes diminuiu. De acordo com o dono do Caixote, Cezar Ferreira, o tíquete médio caiu pela metade. “Se antes vinha um casal e cada um pedia um prato, com gasto médio de R$ 40 cada, agora pedem só um”, afirma. De acordo com a Abrasel, enquanto em estabelecimentos onde o tíquete médio gira entre R$ 25 e R$ 70 o movimento caiu até 30%, naqueles onde o gasto é de até R$ 15 houve aumento de até 15%.
“Tem muita gente substituindo refeições por lanches rápidos e até as redes de fast-food criaram promoções. Percebemos que os espetinhos continuam crescendo, e mais que dobraram na capital”, afirma o diretor executivo da Abrasel-MG, Lucas Pêgo. (QA)
FOTO: douglas magno |
Cezar Ferreira, do Bar e Restaurante Caixote, fez promoções |