São Paulo. A capitalização que dará fôlego à Usiminas está quase no fim, mas os sócios ítalo-argentinos e japoneses continuam em desavenças. Ou eles se entendem; ou se divorciam de vez e separam os bens; ou, então, chamam um terceiro para dar conta da situação. Essas são as três alternativas para salvar a Usiminas da atual situação delicada da empresa, que, em meio à crise interna e de mercado, tem que lidar com conflitos entre os sócios. As três soluções foram apresentadas ontem, em São Paulo, pelo diretor administrativo-executivo da Nippon Steel, Yoichi Furuta, que falou sobre o assunto pela primeira vez.
Ele ainda admitiu uma quarta possibilidade, que seria um sócio comprar a parte do outro. “Acreditamos no potencial de desenvolvimento do Brasil e não temos nenhuma intenção de deixar o país. Nunca houve essa conversa, mas, se houvesse essa possibilidade, seria a Nippon quem compraria a parte da Ternium”, destacou Furuta.
O executivo afirmou que, no caso da separação de ativos, a Nippon ficaria claramente com a usina de Ipatinga. “Ressalto que não há nenhuma negociação em andamento, mas a cisão seria uma possível solução. Nós temos uma forte relação com Ipatinga, que tem aços de melhor qualidade do que Cubatão, e seria mais adequado”, afirmou o diretor. A Ternium ficaria com a usina de Cubatão, na Baixada Santista.
Outra opção seria eliminar os problemas de governança, que incluem seguir o acordo de acionistas, ou seja, os dois fazerem as pazes. E mais uma saída apresentada pelo executivo japonês foi a entrada de outra siderúrgica no capital da empresa. “Há excesso na área primária, e não só para a Usiminas, mas para todas as siderúrgicas, é necessário uma otimização das empresas”, disse ele, destacando que a alternativa poderia ser a fusão da Usiminas com outra siderúrgica brasileira.
Nesse último caminho, a CSN estaria no páreo. A concorrente tem parte das ações da Usiminas, mas tem uma determinação do Conselho de Defesa Administrativa e Econômica (Cade) para vendê-las. Apesar da restrição, o órgão autorizou recentemente a participação de dois conselheiros para representar a CSN no conselho de administração da Usiminas. E essa decisão é alvo de processos tanto por parte da Nippon Steel como da própria administração direta da Usiminas.
Furuta destaca que, apesar de ser difícil prever uma solução para um futuro próximo, os dois acionistas procuram entendimento. “Os executivos buscam tentar resolver o mais breve possível”, afirmou. Recentemente, a briga foi ainda mais acirrada pela troca do comando da Usiminas de Rômel Erwin de Souza, ligado aos japoneses, por Sergio Leite, ligado aos ítalo-argentinos.
Especulação
Fusão. A Nippon Steel não detalhou como seria uma possível fusão. Hoje, além da CSN, grandes siderúrgicas que atuam no Brasil poderiam ser atores nessa fusão como Arcellor, Gerdau e CSA.
A repórter viajou a convite da Nippon Steel
Japoneses questionam eleição
A Nippon Steel vai continuar brigando na Justiça para anular a eleição do presidente Sergio Leite, que assumiu a Usiminas no dia 25 de maio, no lugar de Rômel Erwin de Souza, indicado pelos japoneses. “O que aconteceu foi uma decisão ilegal. Estamos processando todos que não cumpriram o acordo de acionistas, incluindo o presidente do conselho de administração ( Elias Brito) e os representantes da previdência da Usiminas”, destacou o diretor administrativo-executivo da Nippon Steel, Yoichi Furuta
A Nippon já teve dois pedidos de liminares para anular a eleição negados. Está marcada para a semana que vem uma reunião de conciliação no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), antes do julgamento do mérito. Leite foi eleito com seis votos entre os 11 membros do conselho. Entretanto, a Nippon ressalta que o acordo de acionistas determina que é preciso haver consenso entre os controladores na indicação do nome, mas ela defendia a permanência de Rômel.
Carta. A Nippon Steel afirmou, em carta publicada na imprensa ontem, que suspeita que o novo presidente da Usiminas, Sergio Leite, administre a companhia sob instrução da Ternium. Os japoneses também dizem que a eleição foi ilegal.
Por meio de nota, a Usiminas afirmou que o diretor-presidente da Usiminas, engenheiro Sergio Leite de Andrade, trabalha há quase 40 anos na empresa, mantendo um relacionamento de mais de 35 anos com a Nippon Steel e de mais de 25 anos com o grupo Techint.
“A empresa reitera que o momento é de trabalhar com foco exclusivo na melhoria dos resultados e na conclusão do aporte de capital e da renegociação da dívida, fatores fundamentais para a sustentabilidade da Usiminas e para a recuperação de sua capacidade de gerar valor para os acionistas e para a sociedade em geral”, destaca a nota. (QA)
Miranda rebate acusações de carta
Representante dos trabalhadores e aposentados no conselho de administração da Usiminas, Luiz Carlos Miranda disse que não há por que contestar a indicação de Sergio Leite para a presidência da Usiminas, uma vez que ela agradou à maioria. Em nota, Miranda disse que “estranhamente, e desvirtuando a realidade dos fatos, a Nippon afirma que me tornei candidato à vaga no conselho em razão de reiterados discursos em apoio ao ex-presidente Rômel, chegando ao absurdo de me acusar de ter mudado completamente de opinião ao apoiar o nome de Sergio Leite, sem quaisquer motivos aparentes, me acusando ainda de ter cometido uma ‘súbita traição’”.
Segundo ele, enquanto legítimo representante dos trabalhadores e aposentados, ficou “surpreso com esse posicionamento”. E completou: “Reitero que não tenho por obrigação seguir as determinações de qualquer acionista, tampouco da direção da empresa”.
Miranda disse ainda que votou em Sergio Leite por sua história de serviços prestados à companhia e “pelas suas demonstrações de maior disposição em ouvir e buscar soluções conjuntas para o atual momento da empresa, como há muito tempo não se via na Usiminas”. (Da redação)