Não é só uma boa ideia que garante o sucesso de uma empresa. Novas startups mineiras enfrentam dificuldades para abrir e se manterem no mercado, que, a cada dia, está mais competitivo e exigente em relação à inovação. De acordo com um censo realizado pelo governo de Minas Gerais, o número de startups e Empresas de Base Tecnológica (EBT) no Estado cresceu 556% desde 2010. Mas, apesar do crescimento significativo dos últimos anos, de acordo com o censo, a ausência de capital inicial e de recursos financeiros impedem que as empresas se consolidem.
O questionário virtual enviado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sedectes) a 439 empresas apontou que 38% delas não possuem CNPJ ou ainda estão em processo de formalização. O órgão estima que hoje, em Minas Gerais, existam 1.050 empresas do ramo atuando em diversos segmentos, como TI e/ou telecom, serviços profissionais, científicos e/ou técnicos, serviços de saúde, educação, vendas por varejo e atacado, além de agronegócios. Segundo a pesquisa, apenas 5% das que participaram do censo disseram estar sólidas no mercado.
Para o professor dos cursos de MBA do Ibec, Frederico Vidigal, além da falta de investimentos financeiros, toda a burocracia para se abrir e formalizar uma empresa torna-se um desafio para os novos empreendedores. “São muitos obstáculos até se consolidar no mercado. Além das taxas e seus prazos, o empreendedor precisa investir em marketing, estrutura e capital de giro”, avalia. De acordo com o especialista, o ecossistema de negócios hoje é favorável ao novo empresário. Porém, é preciso alinhar a inovação com um bom planejamento. “O desafio hoje é oferecer ao mercado soluções eficazes, equilibrando preço do produtos e gastos internos. Para isso, é preciso abusar da criatividade”, recomenda.
E é com muita criatividade que há cinco meses a startup ufrilla, especializada em agenciamento de mão de obra de freelancers universitários, se mantém no mercado mineiro. Com 2.500 pessoas cadastradas na plataforma, o sócio-fundador, Hernane Ferreira, conta que, apesar do crescimento da empresa, a falta de potenciais investidores ainda é um obstáculo. “Ter uma startup é começar o negócio já no vermelho. São muitos gastos para formalização e poucos recursos”, conta o empresário.
Para enxugar os gastos, Ferreira optou por não fazer a contratação formal de funcionários e conta com uma equipe de sócios que têm participação nos negócios. Além disso, para não gastar com os custos de um escritório formal, o sócio diz ser “um parasita de coworkings”, por estar a cada dia atuando em um local diferente da cidade. “Fechamos 2017 com mais de 500 intermediações e nossa meta, até o final do ano, é fazer 200 por semana. Hoje, realizamos, em média, 25 parcerias entre prestadores de serviços e estabelecimentos e recebemos uma taxa de 15% sob cada uma delas” conta o empresário.
Mulheres são minoria ainda
Segundo o censo, as 439 empresas participantes geram mais de 2.300 empregos qualificados, mas, 61% delas não possuem mulheres como sócias e 42% não contam com presença feminina na equipe. A maior parte das empresas está em apenas três regiões do Estado: a região metropolitana de Belo Horizonte concentra 41% das startups, seguida pela região Sul, com 17%, e Triângulo Mineiro, com 16%.
FOTO: Seed/Flickr/10.10.2017 |
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O governo do Estado estimula as startups por meio da Seed |
Investimento público resulta em case de sucesso
Desde 2015 no mercado, a BeerOrCoffee conta com quase 375 espaços na rede e aproximadamente 70 mil usuários. Atualmente, de acordo com o sócio Pedro Vasconcellos, a empresa, que cresce 54% ao mês, usa a tecnologia ao seu favor. “Meu negócio é escalável e tenho baixo custo com pessoal”, diz o empresário, que hoje emprega 13 funcionários.
Para atingir o sucesso que é hoje, a empresa participou da terceira turma do Startups and Entrepreneurship Ecosystem Development (Seed) – um programa de aceleração de startups para empreendedores que mantém seus negócios em Minas Gerais.
O programa, que este ano lança sua quinta edição, atende a 40 empresas de todo o mundo, durante seis meses. Cada startup pode receber investimento de até R$ 80 mil do programa, que pede, em contrapartida, que o conhecimento adquirido seja difundido no Estado. Para o agente de aceleração do Seed, Bruno Scolari, o ecossistema de inovação ainda está em formação, e, por isso, as pessoas não desenvolveram a cultura do investimento.
Porém, para o agente, a maior dificuldade das empresas que estão começando é saber qual é o objetivo do seu negócio. “Os novos empreendedores tendem a querer ‘abraçar o mundo’, o que, muitas vezes, faz com que não priorizem corretamente as ações do seu plano, além de sugerirem soluções baseadas em suas hipóteses, esquecendo de validá-las com os clientes”, avalia.