A queda do avião da Malaysia Airlines na Ucrânia, na quinta-feira (17), foi o estopim para a britânica Sara Firth. No dia seguinte à tragédia, a jornalista deixou o Russia Today, um dos meios de comunicação aliados ao presidente Vladimir Putin.
Fundada em 2005, a emissora possui canais e sites em árabe, espanhol e inglês e critica o Ocidente, sendo um contraponto à visão de europeus e americanos em temas como a guerra civil na Síria e o conflito na Ucrânia.
Na semana passada, o Russia Today sugeriu que o governo da Ucrânia era responsável por ter derrubado o avião e matado os 298 passageiros. A narrativa contraria a versão ocidental, de que separatistas pró-Rússia teriam abatido a aeronave.
O canal se baseou em dois integrantes do Ministério da Defesa da Rússia de que havia um caça ucraniano próximo ao avião malasiano e que o sistema antiaéreo ucraniano estaria ativo.
Diante da acusação contra os rebeldes e a Rússia, a emissora explorou a versão do Kremlin de que a tragédia teria sido usada como bode expiatório para acusar os russos de terem provocado a crise na Ucrânia.
Para Firth, foi o fim da linha dos cinco anos em que afirma "ter organizado fatos para construir uma fantasia". "O que eles fazem é uma forma bastante inteligente e habilidosa de manipular a realidade", disse, em entrevista à revista "Time".
"Nós mentimos todos os dias na Russia Today. Há milhões de formas de mentir, e foi lá onde eu as aprendi de verdade".
Fascinação
Assim que se formou em jornalismo investigativo, em 2009, a britânica recebeu uma oferta atrativa do canal. Ela diz ter aceitado pela chance de fazer reportagens globais e pela fascinação pela Rússia.
Porém, afirma que foi obrigada a ultrapassar os princípios do jornalismo para conseguir se manter na empresa. "Sou uma só em uma longa fila de pessoas que deixaram a empresa pelo mesmo motivo. Todos aguentam até um certo ponto".
Firth não é a primeira jornalista estrangeira a deixar o Russia Today neste ano. Em março, a americana Liz Wahl, que trabalhava em Washington, pediu demissão no ar dias após a anexação da Crimeia.