Brasília. Líderes da base e ministros avaliam que a vida da presidente Dilma Rousseff irá melhorar no Congresso após a reforma ministerial, que contemplou, principalmente, PMDB e PDT. Com pedidos de impeachment pendentes na Câmara, Dilma admitiu em seu discurso que a reforma visa o fortalecimento da sua base. Mas a avaliação de congressistas é que a eficácia da reforma vai depender de como os novos ministros vão atuar, e se ela conseguirá unificar o PMDB e outros partidos que estão rachados.
Afastar a ameaça do impeachment e aprovar um novo imposto para fechar as contas do governo, avaliam interlocutores de Dilma, vão depender de sua capacidade de demonstrar que está fazendo sua parte para reequilibrar as contas e reduzir o tamanho do Estado.
Por mais que o PMDB tenha saído fortalecido na reforma ministerial, reservadamente ministros e lideranças do partido consideram que isso, por si só, não garantirá vida fácil para a presidente no Congresso. As negociações deixaram sequelas dentro do próprio PMDB, e, com exceção do PDT, que ganhou a estratégica pasta das Comunicações, nos demais partidos da base que estão votando divididos não houve movimento para melhorar a relação.
“O mais bobo de nós sabe que a presidente Dilma usou a lógica de dividir para reinar. O que vamos buscar agora é a unidade do partido, seja para fortalecer seu governo, seja para tomar uma decisão contrária. No PP e no PR, 50% continuam votando contra, e as insatisfações continuam. O PDT aumentou sua franquia, mas, no PMDB, a divisão continua”, avaliou um dos integrantes da cúpula peemedebista.
CPMF. Apesar do racha, após ampliar o seu peso político no governo, o PMDB passou a defender publicamente a recriação da CPMF. As declarações favoráveis ao novo tributo começaram no mesmo dia do anúncio da reforma ministerial.
O movimento a favor do imposto foi puxado pelo novo ministro da Saúde, Marcelo Castro. Indicado pela bancada do PMDB na Câmara, Castro afirmou que a CPMF “é o melhor imposto que existe” e argumentou que, apesar de todo tributo “ser impopular”, as pessoas mal iriam sentir o seu impacto no fim do mês.
O líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), afirmou que vai trabalhar para aprovar o tributo o quanto antes. “A situação pela qual passa o país impõe a aprovação de alguma medida que resolva esse problema. A CPMF é a mais adequada. Se não houver alternativa, o plano é a CPMF”, disse.
Mudou de lado
Contra. Até o início da semana, o PMDB era o principal empecilho no Congresso para o Planalto levar adiante a proposta de aumentar tributos para equilibrar as contas públicas.
Posse marcada
Dia 5. A presidente Dilma Rousseff marcou a posse dos novos ministros para esta segunda. Inicialmente, o governo tinha pensado em realizar a cerimônia na terça, já que a presidente estaria em viagem oficial à Colômbia.
TCU. Dilma, porém, adiou a visita de Estado para quinta-feira para poder acompanhar a votação das contas do governo no Tribunal de Contas da União (TCU).
Novatos. Ao todo, dez ministros vão tomar posse na cerimônia que será realizada no Palácio do Planalto. A principal mudança será na Casa Civil, que passa a ser comandada por Jaques Wagner. Aloizio Mercadante, que estava no posto até esta semana, foi transferido para a Educação.
“NYT” diz que Lula agiu nos bastidores
Brasília. Em uma luta para conseguir reagrupar um governo fragmentado e prosseguir com o ajuste fiscal, a presidente Dilma Rousseff deu novos passos em direção à austeridade ao reduzir o número de ministérios e cortar seu próprio salário e o de ministros, afirma o “The New York Times” em reportagem publicada neste sábado.
O diário norte-americano destaca ainda que o “poderoso” ex-presidente Lula agiu nos bastidores da reforma ministerial e conseguiu emplacar Jaques Wagner no comando da Casa Civil.
Cunha quer barrar nova sessão
Brasília. Após os turbulentos impasses que inviabilizaram a votação dos vetos presidenciais a projetos da chamada pauta-bomba na última semana, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), mesmo negando publicamente qualquer movimento contra a sessão do Congresso agendada para a próxima terça-feira, articula para esvaziá-la.
Segundo aliados de Cunha, o peemedebista está insatisfeito com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a quem cabe convocar as sessões conjuntas de deputados e senadores, desde que o colega se negou a colocar na pauta da sessão da última quarta-feira o veto ao financiamento privado de campanha eleitoral. A presidente Dilma Rousseff vetou este trecho da reforma política após o Supremo Tribunal Federal julgar inconstitucional a doação de empresas.
A avaliação de Renan, ao negar colocar o tema em pauta, é que não seria bom criar um ambiente de instabilidade e acirramento de ânimos entre os Poderes. Pesou ainda o fato de estar em curso a operação Lava Jato, com vários parlamentares mencionados em situações que envolvem financiamento empresarial de campanha.
Para evitar a sessão do Congresso que votaria os vetos de Dilma à pauta-bomba, Cunha marcou sessão da Câmara no mesmo horário e prolongou a reunião até a noite. Desta vez, o deputado já conversou com aliados e combinou que eles articulem que suas bases retornem mais tarde à Brasília na terça-feira. Renan convocou a sessão para 11h30, horário em que normalmente as comissões da Câmara e do Senado já estão em pleno funcionamento. Na sexta, Cunha ironizou o horário. “Só não sei se vai ter quórum terça”.
Picciani vira opção na Câmara
Brasília. Na semana em que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), sofreu outro revés com a divulgação de que contas secretas atribuídas a ele foram bloqueadas na Suíça, o Planalto passou a avaliar a hipótese de interrupção do mandato do peemedebista. Em razão das acusações que envolvem Cunha no âmbito da operação Lava Jato, o governo já acredita na possibilidade de PMDB e PT formarem uma chapa para suceder o fluminense.
FOTO: Luis Macedo/ag. Câmara - 12.5.2015 |
Lugar de Cunha. Aliado do presidente da Câmara, líder do PMDB tem se aproximado do governo Dilma |
Essa composição seria encabeçada por Leonardo Picciani (PMDB-RJ), caso o presidente da Câmara não tenha mais condições de concluir seu mandato de dois anos. A ideia do governo é apoiar uma chapa liderada por um peemedebista não hostil e evitar repetir a derrota para Cunha – que passou a atuar na Casa contra os interesses da gestão Dilma.
Eleito líder do PMDB com apoio do presidente da Câmara, Picciani tem se distanciado de seu correligionário e se aproximado do governo, movimento que se aprofundou durante as negociações para a reforma ministerial. Apesar de não se dizer governista e negar o afastamento de Cunha, sua movimentação em direção ao Planalto rendeu dois ministérios à bancada do partido na Câmara.
Picciani afirma não haver qualquer discussão envolvendo a sucessão de Cunha, até porque diz acreditar em sua inocência. Mas afirma que tentar a presidência é um “caminho natural”, mesmo que somente em 2017, quando haverá nova disputa pelo comando da Câmara. “Não é o momento de se falar em candidatura. Isso vai acontecer com o tempo, naturalmente”, disse.