BRASÍLIA. O subprocurador Nicolao Dino foi responsável pela acusação no caso da chapa Dilma-Temer, quando pediu a cassação do mandato do atual presidente. A escolha do sucessor de Janot se dá em um cenário de tensão entre o Ministério Público Federal (MPF) e o Poder Executivo por causa dos desdobramentos da operação Lava Jato e da primeira denúncia contra Temer oferecida na última segunda-feira.
Nicolao Dino liderou a lista tríplice com 621 votos do total de 1.108. Ele é tido como o mais próximo a Janot, entre os postulantes ao cargo de procurador geral da República. Segundo a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), 85% dos procuradores da República votaram.
Segundo a ANPR, cada um dos 1.300 membros do MPF, ativos e inativos podia votar em até três nomes. Também era possível votar nulo ou branco. No total, 205 unidades do MP estavam habilitadas para receber os votos. A votação é secreta e com urna eletrônica.
Em meio a esse atrito, Temer terá que escolher quem será o responsável por todas as investigações de políticos e pessoas com foro por prerrogativa de função, o foro privilegiado.
Na prática, o novo procurador geral da República pode ser qualquer um dos procuradores do MPF. Entretanto, como cita a ANPR em seu site, a consulta com os procuradores para a formação da lista tríplice é acatado por todos os presidentes desde 2003.
Após a nomeação do presidente Michel Temer, para tomar posse, o novo procurador deverá passar por uma sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e ter o nome aprovado pelo plenário da Casa.
Resultado surpreendeu Planalto
O presidente Michel Temer já indicou a assessores e auxiliares que não nomeará o primeiro da lista tríplice. Além de Nicolao Dino ser próximo de Rodrigo Janot, ele é irmão do governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), que faz oposição ao governo federal.
Em conversas reservadas, no entanto, o presidente disse que escolherá um nome da lista. Aliados têm afirmado que seu favorito é Mário Luiz Bonsaglia, visto como moderado e aberto ao diálogo. Mas que, com Dino em primeiro, o presidente poderá optar por Raquel Dodge, que faz oposição a Janot.
A avaliação é de que seria mais fácil justificar a escolha dela, sem respeitar a ordem da lista, com o argumento de que Temer optou por fazer uma indicação histórica ao nomear a primeira mulher procuradora geral da República.
O resultado da votação surpreendeu Temer, que esperava Bonsaglia em primeiro lugar, seguido por Raquel e Dino. Momentos antes da divulgação, porém, assessores captaram o crescimento de Dino e a queda de Raquel na preferência dos procuradores, mas ainda tinham dúvidas sobre o impacto dessas mudanças.
No Planalto, há auxiliares de Temer que defendem uma indicação breve, já em julho, qualificando uma voz dissonante da de Janot, mas também há quem avalie que o presidente não deva fazer a escolha “no afogadilho”, para não parear seus atos aos do procurador geral, a quem acusa de agir com pressa.
Pela Constituição, Temer pode indicar qualquer membro da carreira com mais de 35 anos de idade.