Um dos presos na operação Sordidum Publicae, que investiga esquema de irregularidade em contratos de publicidade na Câmara Municipal de Belo Horizonte, o ex-superintendente de Comunicação da Casa Márcio Fagundes declarou que a Mesa Diretora do Legislativo, então presidida pelo vereador Wellington Magalhães (PSDC), era a única responsável pelos certames. Ele disse nesta quinta-feira (19), a uma comitiva de parlamentares, que vai provar sua inocência. O jornalista foi preso na quarta-feira (18) e está no Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp) Gameleira, na região Oeste da capital.
Estiveram na unidade prisional para visitar Márcio Fagundes os deputados estaduais Durval Ângelo (PT), Alencar da Silveira (PDT), Ivair Nogueira (MDB) e Gustavo Corrêa (DEM), além de representantes do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, entre outros. A reportagem de O TEMPO entrou no Ceresp com os parlamentares para acompanhar a visita. No entanto, cerca de 30 minutos depois, teve que se retirar sem que pudesse ter contato com o detento.
Líder de governo na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Durval Ângelo disse que o jornalista contou que nunca tratou de verba de publicidade na Casa, mesmo sendo superintendente de Comunicação da Câmara. A suspeita da investigação, que é conduzida pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) e pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), é que foram desviados pelo menos R$ 30 milhões no esquema, cujo mentor era Magalhães.
“Ele falou que nunca tratou de verba de publicidade, e que podem perguntar a todos os donos de jornais, de rádio e de televisão de Minas Gerais. Isso não era competência dele, era a Mesa Diretora da Câmara Municipal que fazia. Isso nunca fez parte da função dele, e ele garantiu aquilo que todos nós temos certeza: que ele nunca recebeu um recurso público”, afirmou.
O deputado estadual Ivair Nogueira relatou que Fagundes disse que está com a consciência tranquila e que a defesa vai conseguir provar a inocência dele, o que o jornalista espera que ocorra o mais rápido possível. “O tempo todo ele falava: ‘Olha, não levei nenhum centavo, não ganhei nada, nunca participei de nada’”, declarou Ivair.
“Ele frisou que nunca mexeu com a parte financeira da comunicação. O papel dele ao ser contratado foi bem designado: cuidaria da relação com a imprensa, e não de contratos. Ele disse que está trabalhando no Ministério Público de Contas (Fagundes foi exonerado após a prisão) e que fizeram um levantamento da vida dele antes de ser contratado e não encontraram nada”, relatou Kerison Lopes, representante do Sindicato dos Jornalistas.
Detalhes. O ex-superintendente Márcio Fagundes alegou que, durante a operação na residência dele, os agentes da Polícia Civil foram truculentos, apontando a arma para a cabeça dele, e a filha teve que interferir. Ainda segundo o relato, pessoas teriam cercado as viaturas e o xingado, enquanto era retirado do apartamento. Na delegacia na região Centro-Sul de Belo Horizonte ele disse ter ficado em um cubículo amontoado.
Após isso, segundo Durval Ângelo, o tratamento dado a ele melhorou, e o jornalista contou que está sendo bem tratado no Ceresp. Na quarta-feira, ele teria ficado em uma cela comum, juntamente com outro preso da operação, mas foi transferido na quinta para a cela daqueles que têm ensino superior, após entregarem seu diploma.
Ainda conforme aqueles que conversaram com Márcio Fagundes, que estava com o uniforme da Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap) – chinelos, calça vermelha e blusa branca –, o sentimento que ele mais expressava era de indignação. Ele teria dito que ainda não havia conseguido chorar e que comeu muito pouco porque não conseguiu digerir tudo que aconteceu.
Fagundes também relatou aos presentes que sentiu-se humilhado com a situação e quer aconselhar os dois filhos a se mudarem para Alemanha, já que possuem cidadania. Ele ainda afirmou que, enquanto estiver na cadeia, quer ajudar os presos que não sabem escrever a enviar cartas para os familiares.
Denúncias
Retorno. A reportagem entrou na noite desta quinta-feira em contato com a assessoria da Polícia Civil, para repercutir a acusação de truculência dos agentes, mas as ligações não foram atendidas.
Versões
“Ele é um grande injustiçado. É realmente fruto um pouco do que estamos vivendo no Brasil, de direito de exceção e onde prisões preventivas são usadas para coação e tortura. É um absurdo que na fase preliminar ele não foi nem ouvido como testemunha. Então, acho que os agentes policiais que fizeram apreensão na casa dele ficaram até preocupados com o grau de empobrecimento dele.”
“Eu vou reportar ao governador Fernando Pimentel (PT) a forma como a polícia chutou a porta e entrou na casa. E uma rede de televisão já estava lá antes de a polícia chegar, e um deputado anunciou um dia antes que ia ter essa operação. Está na hora de a Corregedoria agir.”
Durval Ângelo
dep. estadual (PT)
“Se ele tivesse envolvido, nem teria coragem de encontrar com a gente. Ele falou o tempo todo que não tem culpa, que não levou vantagem em nada e que vai provar isso.”
Ivair Nogueira
dep. estadual (PDT)
Civil mantém sigilo sobre buscas
Outros dois alvos da operação, que investiga irregularidades em contratos de publicidade da Câmara Municipal de Belo Horizonte, continuavam foragidos até o fechamento desta página. O vereador Wellington Magalhães (PSDC), que é acusado de ser o mentor do esquema, e o assessor dele, Rodrigo Dutra de Oliveira, tinham sido encontrados pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) até o fechamento desta edição.
A reportagem pediu à Polícia Civil mais detalhes sobre as buscas que estão sendo realizadas, como quantos agentes estão envolvidos e se a procura deles se estende a outros Estados. No entanto, por meio da assessoria de imprensa, o delegado responsável pela operação Sordidum Publicae (traduzido do latim como “política suja”), Fernando Lima, informou que nenhum detalhe seria repassado porque isso poderia atrapalhar as investigações, que estão sob sigilo.
O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), que também é responsável pela operação, foi questionado sobre o andamento das investigações. Por meio de nota, o promotor de Justiça Leonardo Barbabella, da Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público, afirmou que todo o aparato policial disponível está sendo utilizado para que os foragidos sejam localizados e a determinação judicial, de prisão preventiva, cumprida.
“As denúncias já foram oferecidas à Justiça, e o processo segue seu curso”, informou o promotor. Ele ainda acrescentou que demais informações são sigilosas. Na manhã de quinta-feira, Leonardo Salles, advogado de Magalhães, disse que não havia nenhuma novidade sobre a situação de seu cliente. À noite, ele não atendeu as ligações.