Com duas movimentações, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PHS), que até essa terça-feira (21) não tinha base na Câmara Municipal nem líder de governo, conseguiu reverter esse quadro. Após 33 dias sem uma liderança na Casa, o Executivo anunciou nessa terça-feira (21) que o vereador Léo Burguês (PSL) aceitou assumir o cargo. Paralelamente, a maioria dos 41 vereadores decidiu alinhar-se ao governo.
Com esse cenário, a possível aprovação da proposta da reforma administrativa, que ainda vai ser enviada para o Legislativo, se torna mais real. Porém, parlamentares alertam que a garantia de uma base sólida virá com o tempo.
O posto estava vago desde 15 de fevereiro, quando o vereador Gilson Reis (PCdoB) deixou o cargo menos de um mês depois de assumi-lo. Também foi anunciado nessa terça-feira (21) que Álvaro Damião (PSB) e Elvis Côrtes (PSD) foram escolhidos como vice-líderes.
Burguês disse na tarde dessa terça-feira (21) que aceitou o posto após receber o apoio dos colegas. “Assumo este cargo depois de o prefeito conversar com vários vereadores, no entendimento de que o líder foi feito para servir, e não para ser servido. Tive apoio de vários colegas para essa missão”, disse.
Segundo a assessoria de imprensa da prefeitura, Kalil escolheu os representantes na Casa após conversar com vários parlamentares e constatar que a maioria se mostrou favorável quanto aos nomes dos indicados. Ainda foi dito que a demora da escolha do líder se deu por conta do diálogo que Kalil realizou separadamente com os vereadores.
Construção. E foi justamente com esse diálogo, apostam parlamentares, que o prefeito “virou o jogo” no Legislativo. Como o Aparte adiantou, Kalil estava se reunindo em grupos e individualmente com vereadores, recebendo demandas e tentando atendê-las. Essa construção resultou na transferência de 13 dos 15 parlamentares que eram do grupo independente para a base. Álvaro Damião faz parte dessa ala.
“Fizemos várias reuniões e decidimos apoiar o Kalil. Levamos ao prefeito nossas preocupações em discutir os projetos para a cidade, em criar uma interlocução com a prefeitura. E ele também se dispôs a receber nossas propostas, sentar e discutir os projetos. É uma parceria mais independente”, afirmou Dr. Nilton (PROS), completando que, mesmo com o líder, não vão abrir mão da interlocução direta com Kalil.
Também é dito nos bastidores que, pelo menos, 12 dos 20 parlamentares que fazem parte do grupo do presidente da Casa, Henrique Braga (PSDB), resolveram aderir à base. Burguês e Côrtes fazem parte dessa turma. Com esse indicativo, a prefeitura contava, até essa terça-feira (21) , com 25 vereadores. Para aprovar propostas como o novo Plano Diretor da capital, Kalil precisa de quórum qualificado, ou seja, o voto de 28 parlamentares.
Ao mesmo tempo, há parlamentares que ponderam sobre a criação dessa base. “O Léo é uma boa escolha, conhece o regimento da Casa, mas é preciso ponderar que não é fácil manter uma base. Isso depende muito mais do Executivo do que do líder. A prefeitura tem que atender as demandas dos vereadores. Caso contrário, não funciona”, afirmou um parlamentar.
Questionado sobre a escolha de Burguês para a liderança, o ex-líder Gilson Reis afirmou que “essa é uma responsabilidade do prefeito”. Outro representante da esquerda no Legislativo, Pedro Patrus (PT) observou que é hora de aguardar para saber como o líder vai agir na Casa e como a base vai ser construída, mas que o PT se mantêm independente.
Já Mateus Simões (Novo), que também é independente, disse que ausência de líder deixou, ao longo deste mês, a Câmara perdida no que diz respeito à posição da prefeitura sobre os projetos. “Espero que com a escolha consigamos pelo menos discutir os projetos de um jeito diferente do que foi feito pelo Gilson, que foi pouco respeitoso”, declarou.
Importante. Segundo Burguês, a proposta de reforma administrativa é uma das prioridades do governo. “O projeto vem num momento de dificuldade econômica. Ele tem o objetivo de diminuir a máquina pública, principalmente os cargos de confiança”, disse.
Minientrevista
Léo Burguês
Líder do governo na Câmra
Quais são as prioridades?
A prioridade é construir uma relação com os vereadores de acordo com a determinação do prefeito. As pessoas querem uma política sem fisiologismo, mais republicana. O prefeito vai respeitar as bandeiras de cada vereador e ajudar a desenvolver os projetos dessas bandeiras que refletem aquilo que as urnas disseram, aquilo que a cidade quer.
Vários vereadores criticam o vice-prefeito e secretário de Governo, Paulo Lamac (Rede), sobre as supostas nomeações políticas na prefeitura. Como o senhor vai lidar com isso?
Vejo não apenas o Lamac, mas todos os secretários fazendo indicações para compor as secretarias. As pessoas que foram indicadas pelos secretários são pessoas de grande qualidade técnica. Mas qualquer indicação que não seja técnica, seja política, pode ser revista pela prefeitura, sem nenhuma dificuldade.
O senhor é visto por vários colegas como uma figura bastante polêmica e por estar envolvido em polêmicas...
Eu nunca tive dificuldade com a diversidade, com o embate político, sempre fui uma pessoa de construção. Construímos grandes avanços (na presidência da Casa), acabamos com 14º e 15º salários, instauramos o voto aberto para todos os projetos na capital, a revisão do regimento interno. Quando eu era presidente, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostrou que a Câmara avançou mais do que outras Câmaras das capitais do país.