O balanço oficial do último ano da Mendes Júnior só deve ser publicado em março. Mas as avaliações de agências de risco do mercado indicam que a empresa encerrou 2014 com prejuízo de R$ 60 milhões. Hoje, o maior temor da direção, assim como nas demais empreiteiras citadas na operação Lava Jato, é ser incluída no Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas (Ceis) e, assim, ser proibida de participar de licitações com órgãos públicos.
Atualmente a mineira está no seleto grupo das classificadas no setor como “mega”, aquelas com capacidade e know-how para executar as principais obras estruturantes e rodoviárias do país.
A Mendes Júnior tem em andamento 23 projetos, segundo dados do seu site. Desse total, apenas quatro contratos não são firmados com o poder público –, o que dá a dimensão do estrago que a restrição nas licitações causaria na companhia.
Enquanto não há certeza se o golpe poderá levar à hemorragia fatal nas contas da construtora, a direção tenta estancar problemas periféricos, como o ocorrido na última semana. A SH Fôrmas, Andaimes e Escoramentos acionou a Justiça de São Paulo com pedido de falência da mineira. O valor da dívida não foi revelado.
A Engevix, outro alvo da Lava Jato, sofre ação semelhante. O pedido foi feito pela Locar Transportes Técnicos e Guindastes, em função de uma dívida de cerca de R$ 895 mil.
A OAS, outra citada no escândalo, está com o fantasma da falência batendo à porta. Neste mês, a empresa deixou de honrar dívidas no Brasil e no exterior. Só o fundo de investimento Crédito Corporativo Brasil cobra uma fatura de R$ 1,5 bilhão.
Assédio. O ex-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) Paulo Safady analisa que, além dos problemas individuais, a Mendes Júnior e as demais empreiteiras envolvidas no escândalo da Petrobras podem sofrer um efeito colateral da crise: o interesse dos estrangeiros pelos negócios no Brasil. “Vai ser um momento de adaptação. Vamos receber um grupo de empresas estrangeiras querendo entrar no nosso mercado. Outra possibilidade é que as pequenas e médias formem consórcios”.
Segundo Safady, de toda forma as grandes construtoras sofrerão com o aumento da concorrência, num mercado que já não vive um bom momento.
Alerta. Um dos agravantes da atual situação é que um número muito pequeno de empresas brasileiras – a maior parte delas envolvida no escândalo da Lava Jato – é capaz de executar obras estruturais e rodoviárias de grande porte como as contratadas atualmente. Assim, poucas terão condições de entrar na fila dos empreendimentos ainda a serem licitados.
A preocupação com uma possível paralisia diante da crise financeira das gigantes também preocupa o Palácio do Planalto. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, encomendou um rastreamento do volume de papéis negociados pelas companhias e do prazo de vencimento de cada um.
Além da paralisação das obras, o medo do governo é que a insegurança e a dificuldade de conseguir crédito atinjam outras empresas que não estão envolvidas nas denúncias de corrupção.
“Vai ser um momento de adaptação. Além dos problemas na Justiça e nos bancos, pode sofrer assédio dos estrangeiros e de empresas menores, que podem formar consórcios.”
Paulo Safady - Ex-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC)
Rebaixada
Confiança. As agências Standard & Poor’s e Moody’s Investors Service rebaixaram a nota da Mendes Júnior em relação à capacidade de honrar suas obrigações financeiras no prazo previsto.