O mau tempo é apontado como o responsável pelo acidente com um bimotor que matou pai e filho na manhã de ontem, na serra do Curral, em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte. A bordo da aeronave estavam o empresário e piloto Tanus Sales, 76, e o filho dele, também piloto, Rafael Tanus Pascoal Sales, 27, que estaria no comando avião.
A família é proprietária da empresa Tanus Táxi Aéreo que funciona em um hangar do aeroporto da Pampulha. Rafael era piloto particular da rede supermercados BH e do presidente do Cruzeiro, Zezé Perrella. No entanto, ontem, estava de folga e viajou com o pai a trabalho.
O avião decolou, no início da manhã, com destino a Goianá, na Zona da Mata (ver quadro na página). A tragédia aconteceu no retorno à capital. No caminho, o bimotor precisou fazer uma escala em Leopoldina devido a forte neblina. Quando o tempo pareceu melhorar, pai e filho seguiram viagem.
O avião, um modelo Cessna Aircraft 310, prefixo PT-OID, com capacidade para quatro ocupantes, bateu a 5 m do topo da serra do Curral e, em seguida, explodiu no ar. Faltavam apenas 12 km para o pouso no aeroporto da Pampulha.
Com a força da batida, destroços da aeronave se espalharam por vários pontos da serra. "O acidente ocorreu no trecho que pertence a Nova Lima, mas pedaços da aeronave e os corpos foram localizados na área que pertence a Belo Horizonte", explicou o tenente-coronel Miguel Novais Borges, comandante do 1º Batalhão do Corpo de Bombeiros.
A área onde ocorreu o acidente fica em um terreno da mineradora Vale. Por isso, quem acionou o Corpo de Bombeiros foi um segurança da empresa, que teria ouvido o forte barulho provocado pela explosão.
Quando os cerca de 22 militares chegaram ao local, um foco de incêndio provocado pela explosão ainda estava ativo. "Tivemos que apagar o fogo para depois tentar verificar o estado da aeronave e das vítimas", revelou o capitão Eduardo Ribeiro, subcomandante do 1º Batalhão.
Um helicóptero e duas aeronaves, das polícias Militar e Civil, auxiliaram no resgate dos corpos que estavam em área de difícil acesso. Eles precisaram ser içados. A aeronáutica vai investigar as causas do acidente. O laudo deve ficar pronto em 30 dias.
O bimotor pertencia à família. De acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a aeronave estava com toda a documentação em dia - Certificado de Aeronavegabilidade (CA), Inspeção Anual de Manutenção (IAM) e seguro aeronáutico. Os dois pilotos possuiam o Certificado de Habilitação Técnica (CHT).
Experiência. O empresário e o filho eram considerados por amigos e pela família pilotos experientes, que dedicaram a vida à aviação. "Os dois conheciam muito bem a área. Meu marido tinha mais de 30 anos de aviação. Posso dizer que meus meninos crescerem dentro do aeroporto. Desde pequenos, eles viajavam com pai até poderem fazer o curso de piloto. Estamos muito abalados. Foi uma tragédia", contou Márcia Pascoal Sales, mulher do empresário.
O publicitário Alexandre Diniz Andrade, primo de Rafael Tanus, chegou ao local do acidente acompanhado de outros familiares. Segundo ele, a notícia do acidente surgiu como uma bomba para todos. "Os dois são pilotos experientes. O pai do Rafael tem mais de 30 anos de aviação e nunca se envolveu em nenhum tipo de acidente", afirmou.
O publicitário contou à reportagem que, no último Carnaval, Tanus Sales revelou, com alegria, aos parentes que se preparava para iniciar um curso de pilotagem de helicópteros. A empresa Tanus Táxi Aéreo seria responsável pelo transporte de políticos e autoridades mineiras.
Sonhos interrompidos
A tragédia com o bimotor Cessna 310, prefixo PT-OID, além de desestruturar a família, interrompeu os sonhos do piloto Rafael Tanus Pascoal Sales, 27, que estava de viagem marcada com a namorada e, segundo amigos, pretendia oficializar o noivado em breve.
"Imagine uma pessoa alegre, alto astral, de bom coração. O Rafael era assim. Ele pretendia viajar e ficar noivo da minha irmã. Os dois namoravam há quatro anos", contou a cunhada dele, que preferiu não se identificar. (HM)
Outra colisão
Vítimas. Há dois anos, no dia 23 de fevereiro, outras quatro pessoas morreram após o monomotor Corisco II, PT-VHK, da Embraer, também bater na Serra do Curral, entre Nova Lima e Belo Horizonte.