Se o primeiro crime na capital chamou atenção por sua precocidade, para o coordenador do centro de estudos em segurança pública da PUC Minas, Luis Flavio Sapori, Belo Horizonte era uma cidade relativamente tranquila. A evolução da criminalidade na capital é um fato recente, dos últimos 30 anos, segundo o especialista.
O tráfico de drogas é a principal causa de violência no país, de acordo com Sapori. O professor conduziu um estudo sobre a relação entre o tráfico e os assassinatos em Belo Horizonte e Maceió (AL) e diz que metade dos homicídios está diretamente ou indiretamente ligada ao comércio de drogas. A outra metade dos crimes, segundo o especialista, tem como causas retaliações entre familiares, sócios ou vizinhos, seguidas de crimes passionais e vinganças.
Segundo Sapori, até a década de 90, a taxa de assassinatos em Belo Horizonte relacionados ao tráfico de drogas era de dez homicídios por 100 mil habitantes. Atualmente, essa média dobrou; são 20,5 homicídios por 100 mil habitantes. No Brasil, a taxa é de 29,9 homicídios, o que representa uma média de sete assassinatos por hora.
“Os estudos que temos são a partir da década de 90, que foi quando a arma de fogo começou a ser mais utilizada. A violência não é um caso isolado em Belo Horizonte, faz parte de um contexto nacional. BH não tem como ser uma ilha de tranquilidade e segurança em um país violento”, ponderou.
De acordo com o pesquisador, a presença do crack no mercado de tráfico de drogas desempenhou papel decisivo no aumento dos homicídios na capital, principalmente a partir de meados da década de 90. O comércio ilegal da droga na capital instalou-se, inicialmente, na Pedreira Prado Lopes. “O traficante não mata apenas por motivos econômicos, mata muitas vezes por conflitos banais, para se impor”, ressalta.
Resposta. Procurada pela reportagem, a PM ressaltou o aumento da corporação nas ruas, o trabalho de inteligência voltado para o desmantelamento do crime organizado, além da proximidade com a população.
Estável, mas ainda insegura
No ano passado, foram registrados 519 homicídios na capital, o que significa que, a cada dois dias, três pessoas são executadas em Belo Horizonte. De acordo com o sociólogo do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da UFMG Bráulio Silva, o perfil das vítimas se repete na maioria dos casos: são jovens pardos ou negros da periferia.
Para o especialista, os homicídios na capital seguem uma cronologia. “Podemos dividir Belo Horizonte em quatro períodos: de 1980 até 1994 tivemos um período estável de criminalidade, se comparado a outras cidades. A partir daí até 2004, percebemos um crescimento da taxa de homicídios. Depois, tivemos uma pequena redução, e o que temos hoje é uma estabilidade, o que não quer dizer que temos uma cidade extremamente segura”, pontuou. “A discrepância entre os índices de homicídios nas regiões é que resulta essa média e dá essa impressão. Dificilmente veremos um homicídio na Savassi ou no Belvedere, mas em alguns locais temos taxas próximas às da América Latina”, avaliou.