Uma adolescente de 15 anos foi torturada, surrada com um fio elétrico e ainda levou uma coronhada na cabeça como castigo por ter agredido a avó de 61 anos. Pelo menos foi essa a justificativa dos três agressores que a levaram para um matagal conhecido como Cascalheira, no bairro Teodoro Batista de Freitas, em Pedro Leopoldo, na região metropolitana de Belo Horizonte, onde a menor foi torturada.
“Você pode até estar achando que vamos fazer covardia com você, mas vamos te bater porque você bateu na sua avó”, teria dito um agressores, segundo relatou a vítima à Polícia Militar (PM). A adolescente sofreu várias lesões e foi socorrida no Pronto-Socorro da cidade. A PM foi acionada e conseguiu prender um dos envolvidos, Henrique Carlos Matos Salves, de 20.
A menor contou à PM que estava na casa de uma amiga, por volta das 16h de terça-feira, e um rapaz identificado por Paulo Antônio a chamou na rua. O rapaz, acompanhado de Henrique Carlos e um terceiro jovem, identificado por Nícolas, a levaram sob ameaça para o matagal.
Além de ser surrada com o fio elétrico, a adolescente contou que foi ameaçada por Henrique com um pedaço de pau. Os agressores só pararam de agredi-la quando surgiu uma irmã de Henrique e impediu que continuassem batendo na menor. Ainda assim, Henrique, que estava armado com uma pistola semiautomática, teria dado uma coronhada na cabeça da adolescente, segundo a PM.
Ainda de acordo com a polícia, Paulo Antônio e Nícolas agrediram a vítima várias vezes com o pedaço de fio, querendo que ela confessasse a agressão contra a avó. Após a tortura, os três fugiram.
Henrique Carlos foi preso mais tarde. Ele se trancou em casa ao perceber a presença da PM e foi interceptado quanto tentava escapar pela porta dos fundos. Segundo a PM, ele teria confessado a agressão, mas disse ter dado apenas uma coronhada na vítima. A arma estava no quarto dele. Há suspeita de que a violência tenha relação com drogas.
A avó paterna da adolescente, a aposentada Elza Rodrigues de Oliveira Pereira, negou ter sido agredida pela neta. “Uma menina veio aqui me avisar que eles tinham levado a minha neta para bater nela, pois ela tinha me esfaqueado. Não aconteceu nada disso. Eu estava aqui lavando roupa”, contou a avó.
No entanto, Elza contou que a neta fica agressiva quando usa drogas. “Ela já me empurrou uma vez. Queria brigar com o primo dela e não deixei. Ela, então, furou o pneu da bicicleta dele”, conta a aposentada.
De acordo com a avó, a adolescente perdeu a mãe muito cedo e saiu da casa do pai, que constituiu outra família, por não obedecer ninguém. “Largou o pai e agora vive na rua. Ninguém sabe o que acontece com ela. Hoje, ela fica um dia na casa de um, na casa de outro. Não para em lugar nenhum. Vive na rua”, lamentou a avó.
Quando soube que a neta estava sendo espancada, Elza conta que se armou com um porrete e foi defendê-la, mas já a encontrou ferida na rua, sendo socorrida. “Ela ficou bastante machucada nas mãos, nas costas e nas pernas. Levou uma coronhada na cabeça. Acho um desaforo isso. Por mais que a minha neta seja desobediente, quem tem que educá-la é a família. Se ela ela tivesse feito isso comigo, de me esfaquear, como eles falaram, quem tinha que pegar ela sou eu. Mas, nem eu tinha coragem de fazer com ela o que eles fizeram”, reclamou a avó.
A esperança de Elza é que a neta aprenda a lição, que volte para casa e retome os estudos. “Espero que ela mude. Isso não é vida, não”, lamentou. “Ela fuma drogas e bebe. Agora, vender drogas eu não tenho certeza. Teve uma vez que ela chegou aqui em casa com os olhos vermelhos e eu não deixei ela fumar droga dentro de casa. Mesmo sem fumar, ela me xinga, fala o nome da pelada. Meu coração chega a doer. Fico muito triste”, lamenta a avó.
O avô materno, o lavrador aposentado João de Jesus Medeiros, de 70, também foi procurado pela reportagem e contou que a neta foi criada no meio da malandragem. “Minha filha morreu e ela ficou com o pai. Uma pessoa da minha idade não aguenta isso. Já perdi uma filha, que é um sofrimento muito grande, e agora estou com uma neta dessa idade jogada na rua”, lamentou o avô.
Segundo João de Jesus, a neta o deixa desorientado quando aparece em sua casa com outras adolescentes para usar drogas. “É uma bagunça, uma discussão. As meninas ensinaram ela a usar drogas. Ela foi criada no meio desse povo. Eles apertam ela pegar dinheiro comigo e levar para fumar droga. Minha neta chega estressada, querendo dinheiro para levar para as meninas, e eu fico sem saber o que eu faço com essa criança. É difícil para mim", lamenta o avô, que decidiu recorrer à
Justiça para retirar a menina das ruas
"Meus filhos nunca me deram trabalho. São uns anjos de Deus. O pior é que a mãe dela morreu e o pai colocou a filha na rua. Ela não tem amparo” , lamentou o avô. A reportagem não localizou o pai da adolescente.
A Polícia Civil informou que a ocorrência foi registrada como tortura na delegacia de plantão de Vespasiano. O caso será encaminhada à delegacia de Pedro Leopoldo para abertura de inquérito.