Quatro dias após o ‘tsunami de lama’ que assolou Bento Rodrigues e região, ainda há gente ilhada. Ontem, o Corpo de Bombeiros conseguiu resgatar em Pedras, com helicóptero, sete pessoas, incluindo idosos e crianças. Como fica em uma parte mais alta, o distrito não foi atingido, mas os acessos estão bloqueados pelo lamaçal. Além da dificuldade de alcançar o vilarejo, os bombeiros esbarram em outro obstáculo: o apego dos moradores à terra onde nasceram.
“Eu só saio daqui se a água chegar e me levar junto. Minha casinha é meu cantinho e é tudo que eu tenho”, afirma a dona de casa Dalva Martins Viana, 62, que tem andado mais de uma hora até a estrada para buscar doações de mantimentos e roupas que são deixados por quem quer ajudar.
Segundo ela, o maior problema é a falta de água. A idosa também conta que ainda tem muita gente em Pedras que não pretende deixar o local. “Tenho uma vizinha de mais de 80 anos, diabética, que precisa de insulina e não tem como conservar porque não tem energia. Mas ela não quer sair”, conta Dalva.
O Corpo de Bombeiros e a Cruz Vermelha chegaram ao local após informações de moradores que têm parentes por lá – a reportagem de O TEMPO acompanhou a visita. Hoje, as buscas vão continuar. Segundo o bombeiro William Vasconcelos, as equipes rodaram ontem durante todo o dia, levando mantimentos e água. “Passamos no distrito de Paracatu, mas já foi totalmente evacuado. Fomos a Borbas e lá ainda tem cerca de 15 pessoas, que não querem sair”, afirma.
O apego é realmente uma dificuldade no resgate. Aos 70 anos, Walter Elias Cerceau, morador de Pedras, não quer deixar o local e, para manter sua criação de animais, tem ido buscar ração por trilhas, em cima de uma mula. Um filho dele, que mora em Mariana, vai até onde o carro consegue ir, e o pai o encontra no meio do caminho. “Os bichos são meu sustento”, diz Walter.
Acesso. Ontem, equipes da Samarco começaram a abrir os acessos em quatro frentes de trabalho para ligar Santa Rita Durão à Gesteira, e Paracatu a Pedras. Segundo o engenheiro mecânico Diego Santana, 35, são 30 pessoas, sete caminhões e seis pás carregadeiras.
Voluntários também tentam ajudar como podem. O engenheiro Rômulo Cerceux, 54, está rodando a região para ver como pode colaborar. “Eu vi um senhor gritando da sua fazenda, que fica numa parte baixa. Pedi ajuda à máquina da Samarco para tentarmos abrir o acesso. Como ele está bem, vamos voltar amanhã (hoje) para tentar buscá-lo”, conta Rômulo.
Um grupo de jipeiros também está ajudando a levar mantimentos para quem está ilhado. “Tudo que vimos é muita tristeza. Como conseguimos chegar onde nem todos conseguem, estamos rodando com água e roupas”, explica Flávio Barbosa, 32.
“Eu só saio daqui da minha terra se a água chegar e me levar junto. Minha casinha é meu cantinho e é tudo que eu tenho.”