Os arrombamentos a residência aumentaram 66% em Belo Horizonte se comparado o primeiro trimestre do ano passado com o deste ano, segundo dados da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds). De acordo com os números, de janeiro a março de 2015 foram 518 arromabamentos a residência na capital mineira e em 2016 foram 861 crimes registrados no mesmo período. A Seds não tem dados regionalizados sobre o crime.
Para especialistas na área de segurança pública a vulnerabilidade das residências é um dos principais fatores para as ocorrências deste tipo de crime. “É uma combinação de fatores, ano passado se falava muito em explosão de caixa eletrônico, que estavam em alta, neste ano é o roubo a residência. Os criminosos estão se especializando neste crime. Além disso, as residências são locais vulneráveis. Atualmente as mulheres não estão ficando mais em casa, elas saem para trabalhar e as residências ficam vazias, muitos prédios não tem mais porteiros e isso facilita os crimes”, considera Ludmilia Ribeiro professora da Universidade Federal de Minas Gerais e membro do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp).
O sociólogo com estudos na área de segurança pública em São Paulo, Lúcio Freitas, também considera a vulnerabilidade um dos principais fatores para o crime. “Os bandidos estão usando cada vez técnicas mais avançadas, acontece muito deles se passarem por agentes de saúde ou pessoas de alguma empresa para ter acesso a casa das pessoas. Acaba que o morador abre a porta para o bandido. O ideal é que o morador se certifique sempre se o serviço foi pedido para a casa”, explica Freitas.
O capitão Flávio Santiago, Chefe da Sala de Imprensa da Polícia Militar, relata que um dos grandes problemas em relação a esses crimes é que os criminosos presos, logo são soltos e voltam a cometer o ato. “Só em Belo Horizonte 700 pessoas foram presas mais de uma vez e muitas delas tem envolvimento com crimes de residência. Temos casos de prender a mesma pessoa quatro vezes”, conta o capitão.
De acordo com ele, algo que facilita a redução do crime é a rede de vizinhos protegidos, uma parceria entre a polícia e os moradores para combater os crimes. “Essa comunicação e as tecnologias ajudam muito e onde tem o sistema a gente percebe uma queda no número de crimes. A polícia recebe pedidos e se organiza para facilitar a criação de novas redes”, diz Santiago.
Em Belo Horizonte pelo menos 30% dos bairros já aderiram ao uso de redes sociais, em especial o WhatsApp para tentar combater a violência. A Polícia Militar atua junto com os moradores e há inclusive uma recomendação do comando da corporação para que todos os batalhões do Estado realizem ações em conjunto com a comunidade. Com isso eles criam uma rede própria de proteção e conseguem avisar a polícia sobre a circulação de suspeitos no bairro, por exemplo.
Segundo Ludmila a tecnologia é uma grande aliada no combate ao crime. “As câmeras eu acho que trazem uma falsa segurança, porque elas acabam ajudando a identificar o suspeito depois que o crime ocorre, já o whatsapp é uma boa ferramenta para aproximar os vizinhos e ajudar uns aos outros. O policiamento comunitário também é fundamental”, conclui a especialista.
Quem tem a casa assaltada não esquece trauma
A residência da sogra do analista de trânsito Carlos Xavier, 55, foi arrombada em setembro do ano passado e os bandidos levaram o equivalente a R$ 20 mil em eletrodomésticos e móveis. "Eles entraram pelo telhado, furaram o forro e levaram todos os objetos que já estavam preparados para mudança. Tinha louças de quase 100 anos que tinha um grande valor material e sentimental por ser herança de família. Eles pararam uma Kombi e levaram tudo", explicou.
Ele revela que depois do assalto a família desistiu da casa. "Eu cresci em Santa Tereza, criei minha filha em uma casa com um muro pequeno. Hoje não tem segurança para viver tranquilo. Decidimos demolir a casa e vender o lote", conta Xavier.
Um dos casos mais marcantes de assalto a residência em Belo Horizonte, no primeiro trimestre deste ano, ocorreu em fevereiro, quando a mulher de um delegado da Polícia Federal foi feita refém durante um assalto a casa dele no bairro Santa Lúcia, na região Centro-Sul de Belo Horizonte.
Durante o crime dois adolescentes arrancaram o portão e entraram na residência. Eles fizeram a mulher refém e ameaçaram matar o cachorro da família por causa dos latidos.
Um dos adolescentes identificados pela polícia tinha sido solto duas semanas antes do crime, após cometer um roubo no Belvedere, também região Centro-Sul.