Verdade ou mentira? Quem nunca recebeu no WhatsApp um texto denunciando um crime que o governo está querendo esconder ou a história triste de uma criança pedindo ajuda? Nesta terça, dia 12/09, uma das mensagens mais compartilhadas foi sobre uma travesti que teria sido morta saindo de um motel, perto de um shopping de Belo Horizonte. Segundo a Polícia Militar, o crime até existiu, mas na região de Brasília, na semana passada. A boataria, além de alarmar os usuários sem motivo e prejudicar o comércio citado na mensagem, faz a Polícia Militar (PM) gastar dinheiro público desnecessariamente e ainda deixar de atender ocorrências que realmente existem, enquanto apura se o caso que viralizou é verdade ou não.
No caso de Taguatinga, a 21 km de Brasília, a travesti foi morta dentro de um carro, onde estava com um suposto namorado, perto de um terminal rodoviário. O homem ficou ferido e foi socorrido em estado grave. O caso é investigado.
De acordo com o chefe da Sala de Imprensa da PM, major Flávio Santiago, a corporação tem uma equipe especialmente para checar a veracidade das informações que recebe. “Para a PM, é muito rápido. Nós checamos a informação no momento. Quando a notícia chega pelo WhatsApp é diferente de quando chega pelo 190. As do aplicativo necessitam de uma confirmação”, diz.
Segundo ele, essa checagem é feita pela inteligência da PM, que através de ligações e da internet investiga se o fato é verdadeiro. Mesmo assim, em muitos casos é preciso deslocar uma viatura até o local, o que gera gastos e o principal: os policiais deixam de atender a ocorrências reais. A PM não mede quantas notícias falsas recebe. Mas no caso dos trotes, que movimentam a corporação do mesmo jeito, só no ano passado foram mais de um milhão.
Agências
Especializadas. A veracidade de textos é checada por agências especializadas como a Lupa (piaui.folha.uol.com.br/lupa), Aos Fatos (aosfatos.org) e Truco (apublica.org/truco/).
Rapidez. “Com o WhatsApp, a notícia vem e vai muito rápido, e o pior é que para muitos nunca vai chegar a notícia correta. Nesse caso, as pessoas continuam acreditando que a travesti foi morta em Belo Horizonte”, afirma o major Flávio Santiago.
Lorena Tárcia, professora de webjornalismo no UniBH, explica que esse fenômeno da notícia falsa tem sido chamado de “pós-verdade”. “As notícias ganham popularidade. Temos que ensinar as crianças a utilizar a rede corretamente”, afirma.
Site checa casos falsos na rede
Dedicado a esclarecer fatos e boatos que circulam online, o site E-Farsas checa pelo menos uma mensagem por dia. Democráticos, os posts trazem desde alertas sobre casos policiais até declarações atribuídas a políticos, passando por conspirações para esconder a cura de doenças ou combinar resultados de partidas e campeonatos de futebol.
O trabalho começou em 2002, quando as mensagens eram espalhadas por e-mail. Criado pelo analista de sistemas Gilmar Lopes, o site entrou no ar na sugestiva data de 1º de abril, o Dia da Mentira.