Computadores de escolas estaduais de Minas Gerais estão estragando por falta de uso e de manutenção, fazendo com que milhões de reais sejam gastos por Estado e União sem que programas de melhora na qualidade de ensino cumpram seu propósito. A reportagem de O TEMPO comprovou o desperdício em visitas a duas escolas de Belo Horizonte e ouviu relatos de professores de outras cidades, mostrando que o problema é comum e acontece, muitas vezes, por falta de qualificação dos educadores.
Na escola infantil José de Alencar, no bairro Goiânia, na região Nordeste da capital, há 16 computadores, mas apenas quatro funcionam. Segundo funcionários, as máquinas foram adquiridas em 2009, mas só começaram a ser usadas em março de 2014. Durante a visita, nove crianças se dividiam em duplas e trios para usar os computadores. A professora que supervisionava disse que todos os equipamentos funcionavam quando foram abertos, mas foram estragando por falta de manutenção.
No mesmo bairro, na Escola Estadual Luiz de Bessa, dos 12 computadores adquiridos em 2008, oito estão estragados há quatro meses. Segundo professores que estavam no local, a sala da informática não é usada desde então. “Não dá para trazer uma turma com cerca de 40 alunos para usar apenas quatro computadores”, lamentou um deles.
No caso dessa escola, os computadores danificados estavam desconectados desde as eleições. “A sala foi desarrumada para a votação nas eleições, mas como ninguém está usando esses computadores, eles continuam desmontados”, contou outro funcionário.
Diretoria. O diretor da Escola Estadual Luiz Bessa, que se identificou apenas como Antônio Carlos, disse que não proíbe o uso das máquinas e que solicitou a manutenção dos computadores para a Secretaria de Estado de Educação (SEE) logo que eles estragaram, mas não teve resposta. A secretaria, por sua vez, informou que a última solicitação da escola foi feita e atendida no segundo semestre de 2013. Segundo o órgão, a escola receberá 12 novos computadores até o fim do ano, assim como todas as escolas do Estado que oferecem o Ensino Médio.
A reportagem ligou para a diretoria da José de Alencar várias vezes ao longo do dia de, mas ninguém atendeu o telefone. A SEE informou, por nota, que, segundo a direção da escola, o laboratório tem capacidade para até 17 alunos por vez e professores foram capacitados em março deste ano para desenvolver atividades com os alunos. “A escola usa o laboratório no desenvolvimento de um projeto pedagógico multidisciplinar.”
A secretaria informou ainda que 3.395 computadores foram adquiridos em 2014 e estão sendo distribuídos para 1.915 unidades escolares. A verba é do programa estadual Reinventando o Ensino Médio e soma R$ 32 milhões.
Quem recebe
Tecnologia. A distribuição de computadores é feita levando em conta variáveis como o espaço físico para o laboratório de informática, a demanda por equipamentos e o número de alunos atendidos.
Saiba mais
Programas. Os computadores entregues aos alunos das escolas estaduais de Minas chegam por meio de recursos estaduais ou federais. Em 2014, o Estado adquiriu 3.395 computadores apenas por meio do programa Reinventando o Ensino Médio. No caso da União, a compra é pelo programa Proinfo, do Ministério da Educação. O MEC não informou quantos computadores enviou para Minas nos últimos anos, nem a verba usada. O Estado também não informou quantas máquinas adquiriu por meio de outros programas em anos anteriores.
Brasil. O desperdício de dinheiro e de computadores não é uma realidade apenas de Minas Gerais. Em 2013, um levantamento da Controladoria Geral da União (CGU) mostrou que 12,6 mil dos 56,5 mil equipamentos distribuídos pelo MEC em todo o país ficavam guardados em caixas por até três anos.
Na prática
Segundo o MEC, com o computador, o processo de ensino fica mais dinâmico. São “aulas mais criativas, mais motivadoras e que despertem o desejo de aprender”. O professor de história Adriano de Paula afirma que, com a informática, seus estudantes entendem melhor o conteúdo. “Com vídeos e charges, tudo fica mais próximo do aluno”.