Depois dos médicos, os engenheiros podem ser os próximos convocados a atuarem no “serviço público” brasileiro. Rumores dão conta de que a presidente Dilma Rousseff estaria estudando um plano para importar engenheiros, a exemplo do que ocorre com o programa Mais Médicos. O principal destino deles seriam cargos nas prefeituras do interior do país. Mesmo ainda sem confirmação oficial, as especulações já são recebidas com reprovação pelas entidades que representam a classe.
O projeto atenderia uma demanda antiga de prefeituras por engenheiros dispostos a trabalhar na elaboração de projetos básicos e executivos, requisitos para que os municípios recebam verbas federais e estaduais para obras. A Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência confirma que uma nova ação para atrair profissionais estrangeiros qualificados está em desenvolvimento, mas não detalha se o setor seria um dos focos.
Com um cadastro formado por 640,9 mil engenheiros na ativa em todo Brasil – cerca de 90 mil deles em Minas Gerais –, o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) e sua representação regional, o Crea-MG, negam que falte profissionais e que haja a necessidade da vinda dos estrangeiros. Antecipando-se a qualquer anúncio de Dilma, a Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) enviou, na última semana, um ofício à presidente, reprovando a iniciativa.
“O que ocorre é uma desvalorização do engenheiro no setor público. Ainda há concursos com salário de R$ 1.500. Não tem profissional porque não há reconhecimento”, criticou o presidente do Crea-MG, Jobson Andrade. O piso da categoria é de R$ 6.000 para uma jornada de 40 horas semanais.
Ainda segundo Andrade, essa situação leva os profissionais a buscarem regiões onde são oferecidos os melhores salários, o que explicaria a diferença na distribuição deles pelo país. Segundo levantamento do Confea, a maior parte está no Sudeste, com mais de 373 mil engenheiros, enquanto o Norte concentra o menor número de profissionais, cerca de 27 mil. Mas os dois conselhos garantem que são capazes de preencher todas as vagas em aberto no país com profissionais brasileiros caso ocorra uma primeira chamada nacional, assim como foi feito com os médicos.
Apesar de também ser contra a importação, a FNE é a única das três entidades que defende haver um déficit de profissionais. Conforme a federação, cerca de 40 mil novos engenheiros entram no mercado todos os anos para atender uma demanda de 60 mil. O déficit estaria principalmente nos setores de inovação tecnológica e de extração de petróleo.