Após a prisão de Antônio Moreira Pires, o "Pedrão", de 37 anos, nessa quinta-feira (19), a polícia o colocou frente a frente com o outro suspeito, o encarregado de obras Matuzalém Ferreira Júnior, de 49 anos, que pode ser o pai dos gêmeos Ana Flávia e Lucas, assassinados a sangue frio na última semana, assim como a mãe, Izabella Marquez Gianvechio, de 22 anos.
A jovem estaria pressionando Matuzalém, que é casado e tem dois filhos, para assumir a paternidade dos bebês, que tinham apenas 40 dias de vida. Essa teria sido a motivação para que ele negociasse a execução das vítimas com "Pedrão". O crime chocou a população de Uberaba, no Triângulo Mineiro, e o advogado de defesa de Matuzalém, decidiu deixar o caso após ver o corpo de um dos bebês.
Na acareação, os suspeitos apresentaram versões contraditórias sobre o crime e colocaram a culpa um no outro. Na tarde desta sexta-feira (20), durante entrevista coletiva na penitenciária Professor Aluízio Ignácio de Oliveira, em Uberaba, onde os dois suspeitos estão presos, o delegado Ramon Bucci, chefe do 5º Departamento de Polícia Civil de Uberaba, e a delegada Carla Bueno, que presidiu as investigações, revelaram que Matuzalém, suposto pai dos bebês, insistiu em manter a versão apresentada desde sua prisão, ocorrida no dia 17, alegando que teria sido "Pedrão" o autor dos disparos que mataram a mulher e os bebês.
Já "Pedrão" diz que teria procurado Matuzalém em Uberaba porque recebeu uma promessa de emprego como pedreiro e que não sabia que estaria prestes a presenciar as execuções, atribuindo o triplo homicídio a Matuzalém.
FOTO: DIVULGAÇÃO/ POLÍCIA CIVIL |
"Pedrão" e Matuzalém (de costas) acusaram um ao outro na acareação |
"Pedrão" estava foragido em uma fazenda da cidade de Sacramento e foi detido na tarde dessa quinta-feira, em uma operação montada especialmente para sua captura. Condenado a 17 anos de prisão por tráfico, ele estava em liberdade condicional.
Segundo a delegada, familiares de "Pedrão" acionaram a polícia informando que ele estava disposto a se entregar. "Ele se apresentou de forma pacífica, sem resistência", disse. A delegada afirma, ainda, que o pagamento que ele teria recebido pelo crime não foi revelado. "Como ele nega a participação, não falou de nenhuma recompensa", diz.
A família de Izabella havia registrado queixa do seu desaparecimento, juntamente com os bebês, no dia 12 de fevereiro. Desde então, o caso começou a ser investigado pela delegada Carla Bueno, na Delegacia de Orientação e Proteção a Família. As investigações revelaram que, ainda neste dia, Matuzalém teria mantido contato por telefone e marcado um encontro com Izabella, com quem havia mantido um relacionamento extraconjugal. A jovem pressionava o suspeito para que ele assumisse a paternidades do casal de gêmeos. Na ligação, Matuzalém pediu a ela que levasse os filhos ao encontro, pois queria conhecê-los e resolver a questão sobre a paternidade das crianças.
Izabella seguiu com os bebês até o parque de exposições da cidade, onde se encontrou com Matuzalém às 16h, seguindo todos de carro para outro local. Em seguida, o veículo parou para que "Pedrão" embarcasse. As diferentes versões apresentadas para o crime surgem a partir deste momento, quando o veículo seguiu em direção à BR-050, rumo a São Paulo.
A delegada conta que Matuzalém demonstrou muita frieza em seu depoimento, quando confirmou que sequestrou Izabella e os bebês, informando ainda que havia pedido a "Pedrão" que o acompanhasse, para “dar um susto” na vítima. Ele alegou que teria sido "Pedrão" o autor do disparo que matou Izabella. Disse ainda que os gêmeos também tinham sido mortos pelo comparsa.
Diante da versão contrária apresentada por "Pedrão", que atribuiu a autoria dos disparos a Matuzalém, a delegada informou que aguardará apenas o laudo pericial dos locais dos crimes, da arma usada nas execuções e das necropsias dos corpos para indiciar os dois presos por triplo homicídio, triplamente qualificado, sequestro qualificado e ocultação de cadáver.
O crime
De acordo com a delegada Carla Bueno, após alguns quilômetros, os suspeitos saíram da rodovia Anhanguera no sentido a cidade de Buritizal e escolheram um local deserto, às margens da rodovia, onde pararam o veículo e obrigaram Izabella a desembarcar. Ela foi morta com um tiro na cabeça, disparado por um dos autores. O corpo foi arrastado e jogado ao lado da rodovia.
Após se afastarem aproximadamente quatro quilômetros do local em que o corpo de Izabella foi abandonado, Matuzalém e "Pedrão" pararam em uma estrada vicinal, retiraram as crianças do carro, entraram em uma mata, colocaram os bebês no chão e os executaram a tiros. A seguir, os dois seguiram para a cidade de Limeira, onde Matuzalém desceu do veículo e deixou que "Pedrão" seguisse com o carro até a cidade de Sacramento.
No sábado (14), a equipe de investigadores esteve em Sacramento e localizou o irmão de Matuzalém. Em depoimento, ele disse aos policiais que seu irmão havia feito um contato, dizendo que tinha sofrido um sequestro-relâmpago e que teria sido abandonado em Limeira, ficando sem o carro.
Após ser informada que um corpo de mulher, sem identificação, tinha sido encontrado na estrada próxima a Buritizal, e que após necropsia havia sido enterrada em cova rasa, a delegada Carla Bueno se dirigiu ao local, acompanhada do pai de Izabella, que reconheceu a filha através das fotos tiradas pelos peritos.
Prisões
Devido à grande extensão da mata, foi solicitado pela delegada o auxílio ao Corpo de Bombeiros Militar local, que forneceu uma equipe para vasculhar a área em busca dos gêmeos que ainda estavam desaparecidos, acreditando que ainda havia a possibilidade de encontrá-los com vida. Os policiais mineiros apuraram ainda que Matuzalém havia seguido de táxi até a capital paulista, onde se hospedou na casa de um cunhado.
A busca por Matuzalém revelou que ele prosseguiu na fuga, seguindo para a cidade de Teodoro Sampaio, próximo as divisas de Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo. Para cercá-lo, a delegada Carla Bueno, já de posse de um mando de prisão temporária expedido pela Justiça contra o suspeito, enviou cópia do documento para os três estados, juntamente com uma foto de Matuzalém.
Vendo que estava acuado, Matuzalém fez contato com seu advogado e anunciou que iria se apresentar. Ele chegou a protelar por três dias o comparecimento à delegacia, em Uberaba, mas sentindo que já não tinha mais para onde fugir, finalmente compareceu à unidade policial, no dia 17, quando foi preso.
Matuzalém já tinha duas passagens na polícia pelo crime de ameaça, registrados na cidade de Sacramento, e "Pedrão" tem passagens pelos crimes de tentativa de homicídio, tráfico de drogas, receptação e dano, todos na cidade de Sacramento.