Um fóssil de mais de 10 mil anos, encontrado na década de 70 em Lagoa Santa, na região metropolitana de Belo Horizonte, e conhecido como “O Homem de Lagoa Santa”, teve o seu rosto revelado por meio de um programa de reconstituição facial. O trabalho foi feito em uma parceria entre o Museu da Lapinha – que abriga um dos maiores sítios arqueológicos do Brasil, com mais de 700 fósseis descobertos – e pesquisadores do país.
A história ganhou vida com o sonho do pesquisador e designer catarinense Cícero Moraes, 34, de contribuir com os registros históricos do país. Com alguns trabalhos de reconstrução de crânios no currículo, Cícero só havia encontrado um caso brasileiro em toda a carreira, de um fóssil no Paraná. Há dois meses, enquanto realizava outro trabalho, o pesquisador chegou ao Museu da Lapinha e descobriu que lá estava o crânio do Homem de Lagoa Santa.
O trabalho consistiu na digitalização de mais de 30 imagens da ossada em 3D por meio de um programa de computador. Segundo Cícero, as fotos foram feitas por pesquisadores parceiros para se evitar transportar o fóssil, o que poderia comprometer as características naturais dele.
O especialista explicou que, com as imagens de vários ângulos do crânio, um algoritmo calculou os pontos e o formou em terceira dimensão. Após entrar em contato com um legista do Rio de Janeiro, foi feito um trabalho para levantar as características físicas do que seria o Homem de Lagoa Santa – por exemplo, como se é asiático ou europeu, os tipos de olho e cabelo – e com isso formar o que seria o rosto dele.
“Ele apontou que, pela formação óssea e demais características, se tratava de um asiático de aproximadamente 28 anos. Com os dados, fiz uma reconstrução anatômica. Não temos o DNA, mas tomamos a liberdade de pegar dentro da paleta de cores dos asiáticos, o tom da pele e dos cabelos, que fizemos desgrenhado por se tratar de um homem de 10 mil anos atrás”, afirmou Cícero.
Entenda
Em 1840, o dinamarquês Peter Lund encontrou os primeiros achados do Homem de Lagoa Santa.
Um total de 30 esqueletos, provavelmente da família dele, já foram localizados. Todos os crânios tinham um fecho de pedra preta em baixo da nuca, como se fosse de um ritual.
Descoberta atrai mais visitantes
Quem visita o Museu Arqueológico de Lagoa Santa, também conhecido como Museu da Lapinha, pode encontrar centenas de fósseis em exposição. Fundado em 1972 pelo arqueólogo húngaro Mihály Bányai, o museu ficou conhecido por abrigar Luzia, o fóssil mais antigo da América, que agora está exposto no Rio de Janeiro. Com a reconstrução do rosto do Homem de Lagoa Santa, os administradores do museu já notam aumento no público visitante.
"Agora, com um rosto, as pessoas se sentem mais curiosas. Os livros didáticos das décadas de 80 e 90 só falavam do homem de neandertal, subespécie do Homo sapiens, mas, com Luzia, as coisas já começaram a mudar”, afirmou Erika Suzanna Bányai, 44, filha do criador do museu.
O local está aberto para visitação de terça-feira a quinta-feira, das 9h30 às 16h; e sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 17h. Telefones para agendamento: (31) 3681- 1363/ 99158-7211.