A morte misteriosa de um detento no dia 29 de janeiro em Contagem só foi revelada a família 12 dias depois. Mesmo assim, a causa da morte ainda não foi esclarecida e, enquanto a Secretaria Municipal de Saúde afirma que o homem já chegou morto na unidade, a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) afirma que ele chegou ainda com vida ao local.
Tudo começou com um roubo no qual Piter Januário, de 28 anos, estava envolvido no dia 28 de janeiro. Conforme o boletim de ocorrência, Piter e outros dois suspeitos passaram em um Santana cinza pela rua José Rodrigues Guilherme, no bairro Fonte Grande, em Contagem, onde estavam duas mulheres.
Dois dos suspeitos desceram armados do veículo e disseram às vítimas para passarem as bolsas. Pouco depois do crime, a Polícia Militar localizou o trio, que foi reconhecido pelas mulheres e confessou o crime. Eles, então, foram encaminhados a 6ª Seccional de Contagem.
Segundo a Seds, Januário foi encaminhado para o Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp) Contagem já no dia seguinte, 29. Ao chegar a unidade às 12h, funcionários do Ceresp se recusaram a receber o preso sem que antes ele passasse pelo Instituto Médico Legal (IML) para realizar os exames de corpo de delito, já que ele tinha diversos ferimentos pelo corpo.
Januário, então, foi levado ao IML e, por volta das 12h30, retornou ao Ceresp Contagem. Minutos depois, ainda segundo a Seds, presos que dividiam a cela com o recém-chegado alertaram os agentes penitenciários de que ele estava passando mal. Januário foi levado à enfermaria da unidade, onde a enfermeira solicitou encaminhamento imediato para uma unidade de pronto-atendimento devido a seu estado de saúde.
De acordo com a Seds, Januário deu entrada na Unidade de Pronto-Atendimento JK, no bairro Eldorado, às 13h15, e o médico constatou o óbito do detento às 13h40. Já a Secretaria Municipal de Saúde de Contagem informou que Januário deu entrada na unidade às 13h45 já em óbito. Ainda segundo o órgão, foi quando o corpo do paciente foi encaminhado ao IML junto com o prontuário médico e o relatório de identificação para que fosse indicada a causa da morte.
Sem notícias
A mãe do detento, Marli Silva, informou que em nenhum momento foi informada sobre a morte do filho. Segundo ela, no último domingo (7), a família tentou visitar Januário, mas foi informada de que não tinha autorização, mas que o detento estava bem e, inclusive, alguns pertences foram deixados para serem entregues ao homem.
Somente nessa quinta-feira (11) a família recebeu um telefonema da unidade informando que o detento estava morto. A mãe, assim que recebeu a notícia, foi até o Ceresp e foi informada de que o filho passou mal 30 minutos após chegar ao local. Nesta sexta-feira (12) a família esteve no IML de Belo Horizonte para fazer o reconhecimento do corpo, que ainda estava sem identificação.
A Seds informou que a unidade geral do Ceresp Contagem solicitou à Polícia Militar o preenchimento do Registro de Ocorrência (Reds) e abriu investigação preliminar para apurar as circunstâncias do ocorrido.
"Desde então, os servidores da unidade, com a ajuda das Polícias Civil e Militar, passaram a tentar localizar parentes do falecido. Na tarde da última quinta-feira (11) o serviço de inteligência da PM conseguiu, por meio de um Boletim de Ocorrência registrado anteriormente pelo irmão do detento, um número de telefone para contato", disse o órgão por meio de nota.
A Seds também informou que o irmão, pai e mãe de Januário estiveram no Ceresp Contagem na manhã desta sexta (12) para obter mais informações sobre o ocorrido e receber toda a documentação relativa à entrada dele no sistema prisional. "A unidade prisional não teve tempo hábil de fazer um cadastro completo de admissão do mesmo, tendo em vista a necessidade de atendimento médico em caráter de urgência", informou ainda.
O órgão também esclareceu que, por permanecerem em média seis dias na unidade, os presos do Ceresp não têm esquema de visita de parentes e recebimento de pertences pessoais. "No dia 04/02, a unidade prisional encaminhou um ofício ao delegado regional de Polícia Civil, ao juiz e ao promotor da área, relatando o falecimento do detento", concluiu a nota.
O primeiro laudo do IML para identificar a causa da morte foi inconclusivo, segundo a Polícia Civil e, por isso, o detento deverá passar por mais exames de necrópsia para que o motivo do óbito seja, enfim, identificado. Não há previsão de quando esse segundo laudo ficará pronto.