A família da criança que teve o rosto substituído pela imagem de um macaco em uma foto promete levar o caso à Justiça. A informação é da mãe da vítima, a manicure Ludmila Falcão, de 39 anos. Já a Polícia Civil infomrou que vai apurar os fatos narrados.
Em meio à correria dos afazeres no salão de beleza e também em casa, a mulher recebeu a reportagem de O TEMPO na residência onde mora com os filhos, no bairro Capitão Eduardo, na região Nordeste de Belo Horizonte. A mulher conta que está recebendo contatos de advogados se oferecendo para representar a família na Justiça.
"Vamos entrar com processo contra a família [da criança que fez a montagem]. Já estamos olhando tudo. Realmente fiquei muito indignada", dispara. Ela conta que tem recebido apoio de amigos e também da vizinhança onde mora. "As pessoas têm sido muito solidárias. Tenho recebido muitas mensagens. Nem da escola posso me queixar", relata.
A mulher conta que, mesmo depois do episódio, a filha continuou indo à escola onde passou pelo episódio normalmente, porém tem ficado mais agitada que o normal. A mulher pede medidas mais firmes da instituição de ensino para que a filha possa seguir a vida escolar com o máximo de tranquilidade possível.
"O que eu espero da escola é uma conscientização mais pesada. Minha filha estuda e vai continuar estudando lá. E ela vai continuar convivendo com a aluna, porque as duas têm o direito de estudar. As duas vão continuar convivendo. Então, a escola precisa ser mais consciente em relação ao racismo", diz.
Não foi a primeira vez
Um grande combustível para Ludmila querer ir à Justiça é o fato de que não foi o primeiro episódio do tipo sofrido por um membro da família. O outro filho dela, hoje com 22 anos, já sofreu com o preconceito na infância e na adolescência. Com tristeza e revolta, ela relembra os episódios.
"Alunos e coleguinhas falaram com ele que ele era um macaco. E também um professor uma vez falou do corte de cabelo dele. Ele tinha 16 anos", revela a mulher. Segundo Ludmila, até hoje, o rapaz carrega cicatrizes dos episódios, como baixa autoestima e timidez.
"É um rapaz bonito, mas que se acha feio. Ele não consegue se socializar por causa disso. Não deixa a gente fazer festa de aniversário dele de jeito nenhum, nem escondido. A gente procura respeitar, mas a gente sabe que é reflexo do que ele viveu", lamenta a mulher, que não quer ver a filha passando por algo parecido.
"Por isso, eu e o pai dela tomamos essa decisão, senão, ela vai crescer se achando uma adolescente feia e que ninguém gosta dela", diz.
O que diz a prefeitura
Procurada, a Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Smed, informou que as famílias das duas crianças envolvidas foram chamadas pela direção da escola com o objetivo de apurar os fatos e adotar medidas pedagógicas.
“A Smed está acompanhando o desenrolar dos fatos, dando todo o suporte para a escola por meio da Gerência de Clima Escolar e da Gerência de Relações Étnico-Raciais. Além disso, a instituição de ensino conta com as orientações do material ‘Escola: lugar de proteção — Guia de orientações e encaminhamentos’, produzido pela equipe da Gerência de Clima da Smed”, esclareceu.
A direção da escola também foi orientada pela pasta a acionar o Conselho Tutelar para dar suporte à família da criança que supostamente publicou a foto alterada. “A Smed reitera o seu compromisso de atuar sempre na prevenção e orientação pedagógica em casos como esses envolvendo crianças da rede”.