No lugar de uma academia desativada, a construção de quartos de aluguel para que prostitutas possam trabalhar é o projeto do dono de um shopping popular no centro Belo Horizonte. A intenção do proprietário é ajudar que profissionais do sexo saiam de áreas de vulnerabilidade.

O Uai Shopping, que conta com quatro andares, sendo o último da academia, 80 lojas abertas e 30 fechadas, apoia o Miss Prostitutas, e foi a partir dele que o dono, Elias Tergilene, começou a ter contato direto com a Associação das Prostitutas de Minas Gerais (Aprosmig). “Sabemos que uma das reivindicações das meninas é a melhoria do local de trabalho na Guaicurus, que é muito ruim. Como estamos com uma área muito grande disponível no shopping, vamos fazer o projeto e oferecer para quem queria operar na área de hotelaria para elas”, explicou o empresário Elias Tergilene.

A ideia, que prevê 55 quartos, uma sauna gay, uma área de trabalho para travestis e um scoth bar, ainda não foi levada ao conhecimento da prefeitura, e o empresário afirma que, antes de qualquer intervenção no espaço, estudos serão realizados e órgãos como Ministério Público e Direitos Humanos serão acionados.

Mesmo sem nenhum projeto certo, lojistas ouvidos pela reportagem de O TEMPO, sob anonimato, estão com medo que o prostíbulo possa afastar os clientes.

“Isso aqui é um shopping, lugar de família. Se construírem quartos mesmo, não vou mais trabalhar aqui”, disse um comerciante, que está no local há sete anos.

Questionado de como seria a fiscalização para evitar a entrada de menores de idade no espaço, Tergilene afirmou que qualquer pessoa continuará podendo frequentar os três primeiros andares. Já o último andar terá portaria para controle dos clientes, detector de metais e câmeras de segurança. O valor que será cobrado por cada quarto ainda não foi pensado. Na próxima semana, o empresário pretende propor uma audiência pública na Câmara Municipal de Belo Horizonte para discutir o tema junto com a população.

“Não vamos deixar de apoiar nenhuma categoria em vulnerabilidade. Quem não quiser, que procure um estabelecimento que mais convenha com seus princípios éticos e religiosos. Pode sair normalmente, não haverá multa”, finalizou o empresário.

Alvará

De acordo com a Secretaria de Serviços Urbanos, em Belo Horizonte, para obter um alvará de localização e funcionamento de atividade econômica, qualquer empreendedor precisa abrir uma consulta prévia no site da prefeitura e inserir o índice cadastral da área para verificar se a atividade pretendida é permitida no espaço. No entanto, um pedido de construção de motel no shopping não seria possível, já que uma lei sancionada no ano de 2000 garante que “os motéis e os drive-in somente podem ser localizados em terrenos lindeiros a vias de ligação regional”.


Frases

“Cada um faz o que quiser da vida. Se o dono quer colocar, quem está de fora não tem que reclamar. Vai quem quer.”
Fernanda Souza, 25
Vendedora

“Instalar quartos para trabalho de prostitutas dentro de um shopping é totalmente absurdo. Eu não entro para comprar nada.”
Maria dos Santos, 46
Professora


‘A sociedade é preconceituosa’

Segundo a presidente da Aprosmig, Cida Vieira, houve uma pesquisa entre as prostitutas, e elas gostaram da possibilidade de mais um local para atendimento de clientes. “As meninas são regulamentadas, e alugar um espaço não é crime nenhum. O que existe é o preconceito da sociedade. Na área boêmia de Belo Horizonte rola muito dinheiro devido a essas mulheres. O comércio lucra, mas não quer perto”, afirmou.

Na opinião de Cida, se outros shoppings aderissem à ideia, haveria uma quebra de preconceito e ajudaria as profissionais do sexo.

“Não vai atrapalhar os comerciantes. As meninas já frequentam o shopping e gastam lá, com alimentação e várias compras. Não estamos incentivando a prostituição, mas é mais uma opção para quem já trabalha na profissão”, afirmou.

Ainda conforme a presidente, assim como acontece nos hotéis da rua Guaicurus e em outros locais de serviço das garotas, caso o empreendimento seja realizado, a associação ficará responsável por fiscalizar o local e as condições de trabalho das prostitutas.

FOTO: Carolina Caetano
Shopping Uai
Ideia prevê que prostitutas trabalhem no 4º andar