Lançado em março do ano passado, o projeto para criar as Zonas 30 – que visava reduzir a velocidade máxima de algumas vias de Belo Horizonte para 30 km/h – ficou apenas no papel. Sem nenhum avanço desde o seu lançamento, o projeto poderia ser uma forma de garantir mais segurança a quem transita pela cidade, com destaque para ciclistas e pedestres. Em São Paulo, que já tem implantadas áreas semelhantes desde 2013, a queda no número de mortes no trânsito foi expressiva, chegando a 20,6% em 2015, revelando os bons resultados da medida.
Já na capital mineira, há uma tentativa de mudança cultural em trânsito. Com a criação do Plano Diretor de Mobilidade Urbana (PlanMob), em meados de 2009, as mudanças já se integram ao planejamento municipal. Aos poucos, percebe-se a necessidade de um transporte público de qualidade, espaço para bicicletas, pedestres e que as políticas não sejam exclusivamente voltadas para carros. No entanto, para especialistas, é preciso que as coisas sejam de fato realizadas.
A redução do limite de velocidade das vias pode ser feita com investimentos não tão altos. De acordo com um estudo da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) de São Paulo, a queda de 20,6% no número de mortes no trânsito em 2015 está diretamente associada ao Programa de Proteção à Vida (PVV), em que uma das medidas é exatamente a criação de Áreas 40 – que têm a mesma premissa das Zonas 30. Na capital paulista, já são 13,2 km² de Área 40, e a velocidade das marginais e das vias expressas também sofreu redução, passando de 70 km/h para 50 km/h.
Em reportagem divulgada nessa sexta-feira (15), o jornal “Folha de S.Paulo” informou uma estimativa de queda de 11% nos acidentes nas marginais Pinheiros e Tietê, um ano depois da implantação da redução. Segundo dados da CET, na comparação entre 2014 e 2015, as marginais tiveram queda de 33% nas mortes.
Análise. O levantamento paulistano mostra que 257 vidas foram salvas na comparação entre janeiro e dezembro de 2014 com o mesmo período do ano passado. A gerente de Transportes Ativos e Gestão da Demanda por Viagens do Instituto de Políticas de Transporte & Desenvolvimento (ITDP) Danielle Hoppe acredita na importância de trabalhar na redução das velocidades e no redesenho viário.
“A longo prazo, especialmente na região da avenida do Contorno, é preciso trabalhar em suas interseções, com essa discussão da Zona 30. Mas isso não é só em BH, a gente tem visto esse assunto crescendo em outras cidades também. Não se pode implantar ciclovias em toda a cidade, mas os ciclistas podem circular em todas as ruas”, afirma.
Para Danielle, que já atuou em vários trabalhos em Belo Horizonte, principalmente com a equipe do Pedala BH, grupo que envolve técnicos da prefeitura e da sociedade civil, trata-se de uma mudança de cultura. “A gente tem a falsa ideia de que velocidade soluciona congestionamento, quando não é verdade. É possível começar redesenhando nossas vias para que elas comportem todos de forma mais segura”, pontua.
A sugestão da especialista é usar tinta e balizadores no redesenho, em um primeiro momento. Ela explica que, dessa forma, não é preciso um grande investimento e pode servir como uma espécie de teste de adaptação.
De acordo com os dados de acidentes de trânsito da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), 80,1% das batidas de Minas foram em vias urbanas, e 26,5% do total ocorreu em Belo Horizonte. No Estado, uma pessoa morre no trânsito a cada três horas e 58 minutos.
Resposta
BHTrans. Procurada, a Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) não concedeu entrevista sobre o projeto e não enviou posicionamento sobre o assunto.
Projeto-piloto
Estímulo ao compartilhamento
O projeto inicial da Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) era de implantar, até o fim do ano passado, as Zonas 30 em vias onde a velocidade de circulação normalmente já é baixa. O objetivo era estimular o compartilhamento dos espaços entre carros, bicicletas e pedestres.
O projeto-piloto contempla as vias dentro do perímetro das avenidas Afonso Pena, Getúlio Vargas, Cristóvão Colombo e Brasil, todas na região Centro-Sul de BH.
Aprovação. Em São Paulo, já são 12 áreas com velocidades até 40 km/h e uma com 30 km/h. Além disso, as vias expressas e as marginais Tietê e Pinheiros também passaram por uma redução no limite.
Uma pesquisa do Ibope, divulgada no mês passado, apontou que 51% dos paulistanos entrevistados aprovam a redução de velocidade nas vias da cidade e a instalação de ciclovias e ciclofaixas por São Paulo. (BF)