Brasília. Concentração de profissionais na região Sudeste do país, alto índice de desgaste no trabalho e salários defasados. Essas são as principais conclusões da pesquisa Perfil da Enfermagem no Brasil, conduzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pelo Conselho Federal de Enfermagem. O estudo foi feito em metade dos 5.570 municípios brasileiros, em todas as 27 unidades da federação. O levantamento inclui desde profissionais em começo de carreira até aposentados.
Considerando a renda mensal de todos os empregos e atividades exercidas, a pesquisa constatou que 1,8% dos profissionais, cerca de 27 mil pessoas, recebem menos de um salário mínimo por mês, enquanto 16,8% declararam ter renda mensal total de até R$ 1.000.
Os setores em que há mais subsalários, segundo o estudo, são o privado e o filantrópico. Em ambos, os vencimentos de mais da metade do contingente empregado não passam de R$ 2.000. “A pesquisa nos surpreendeu e eu diria que foi uma surpresa negativa”, avaliou a coordenadora geral do estudo e pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, Maria Helena Machado. “O estudo aponta dados preocupantes e que precisam de soluções urgentes do Congresso Nacional, governo federal, governos estaduais e municipais”.
Para ela, o cenário é de desvalorização da enfermagem no país. “Há muita gente vivendo de subempregos ou bicos, sem carteira assinada e nenhuma garantia nem a garantia de trabalho no dia seguinte. É o que chamamos de subjornada”, explicou. Maria Helena lembrou que 66% dos profissionais entrevistados relataram desgaste no ambiente de trabalho.
O presidente do Conselho Federal de Enfermagem, Manoel Carlos Nery, acredita que a categoria representa, atualmente, a maior força de trabalho na saúde, mas precisa de cuidados. “Os dados mostram que os profissionais trabalham em jornadas muito altas, recebem salários, em sua maioria, muito baixos e que obrigam o profissional a ter mais de um vínculo de trabalho e em condições muito ruins.”
Os números da pesquisa mostram que a enfermagem brasileira é composta por um quadro de 80% de técnicos e auxiliares (nível médio) e 20% de enfermeiros (nível superior). No quesito mercado de trabalho, 59,3% das equipes estão no setor público, 31,8%, no privado, 14,6%, no setor filantrópico, e 8,2%, no ensino.
Desempenho
Escolaridade. O levantamento aponta que os técnicos e auxiliares apresentam escolaridade acima da exigida para o desempenho de suas atribuições, com 23,8% reportando nível superior incompleto e 11,7% tendo concluído curso de graduação.
Vagas. Ainda assim, a dificuldade de encontrar emprego foi relatada por 65,9% dos profissionais, sendo que 10,1% indicaram situação de desemprego nos últimos 12 meses.
Pela pesquisa, mais da metade dos enfermeiros (53,9%) e técnicos e auxiliares de enfermagem (56,1%) se concentram na região Sudeste, enquanto a região Norte reúne 17,2% do total das equipes.
IBGE
Contingente. Números do IBGE indicam que a área da saúde no Brasil é composta por um contingente de 3,5 milhões de profissionais – sendo cerca de 1,7 milhão na enfermagem.