Em tempos de informações que vão e vêm na acelerada velocidade da internet, criar uma revista pode, à primeira vista, parecer uma iniciativa um tanto anacrônica. Na contramão desse pensamento, entretanto, está um crescente número de jovens criadores mineiros, que têm encontrado no centenário suporte impresso o meio ideal para expressar, cada qual à sua maneira, críticas, reflexões e ideias sobre a realidade que compartilhamos.
Bom exemplo disso é a "Revista Marimbondo", cujo primeiro número, a ser lançado oficialmente na tarde de hoje, oferece como tema uma série de questões e acontecimentos relacionados às ruas de Belo Horizonte. Criada pelas jornalistas Carol Macedo e Júlia Moysés e patrocinada pela Vivo, a revista tem distribuição gratuita e coloca em pauta assuntos como o revigorado e iminente Carnaval de rua da cidade.
"Já há algum tempo, tínhamos a ideia de lançar uma revista sobre Belo Horizonte, e os acontecimentos de 2011 serviram como grande estímulo para colocar essa ideia em prática. Na Marimbondo, voltamos nossos olhar para questões que vivemos e percebemos a sociedade vivendo, sempre a partir de um olhar menos pontual e mais voltado aos contextos em que as coisas se dão", conta Carol, que enxerga no formato revista a possibilidade de criar uma memória consistente, crítica e acessível acerca da história recente da cidade.
Mesmo que a realidade belo-horizontina tenha sido definida como eixo de ligação entre o primeiro e os próximos números da revista, a jornalista acredita na universalidade de boa parte das questões tratadas na publicação, que reúne ensaios, matérias, entrevistas e ensaios fotográficos.
Pensamento semelhante tem o arquiteto Roberto Andrés, que divide com Fernanda Regaldo, Renata Marquez e Wellington Cançado a editoria da revista "Piseagrama", lançada no início de 2011 e caracterizada por uma abordagem ampliada sobre a noção de espaço público. "Em certo sentido, as grandes cidades contemporâneas compartilham uma série de questões e problemas, e, de igual modo, podem compartilhar soluções", pontua Andrés, que entende a ideia de revista como um suporte mais aberto ao diálogo do que um livro ou uma exposição, por exemplo.
"Por meio da distribuição nacional da revista, temos encontrado um alcance considerável e estabelecido diálogos com pessoas de todo o país", acrescenta. Patrocinada pelo Ministério da Cultura, a revista tem tiragem de 10 mil exemplares e conta com pontos de distribuição em todo o Brasil.
A partir de esquemas mais independentes e não menos potentes, é possível listar uma série de outras revistas criadas em Belo Horizonte e disparadas, com crescente vigor, para outras praças. Organizada como um zine e recheada de ousadia e crítica social, "A Zica" é uma das mais expressivas representantes dessa leva. Seu segundo número foi lançado em evento paralelo à mais recente edição do Festival Internacional de Quadrinhos, garantindo uma distribuição quase autônoma para diferentes partes do país.
"Por mais que boa parte do conteúdo esteja online, é impossível comparar à sensação de ter o trabalho impresso nas mãos, que você pode trocar ou emprestar para alguém. No fim das contas, esse tipo de publicação sempre culmina em ótimos encontros entre ideias e pessoas", destaca Marcelo Lustosa, que assina a edição dA Zica ao lado de Luiz Navarro e João Perdigão.
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