Lia do Vagão foi uma figura popular em Contagem. Famosa por viver em um vagão de trem da extinta Central do Brasil, que customizou e transformou em uma aconchegante casa, ela tem uma peculiar história de vida. A narrativa está em “Viagem no Vagão da Lia”, de Celina Coelho, que terá seu evento de lançamento hoje, no Memorial Minas Gerais.
Celina conta que se encantou por Lia ou Maria de Oliveira (1941-2013) durante uma procissão de Semana Santa, há mais de dez anos. “Percebi uma rua toda ‘bordada’ e depois ouvi um sino tocando. Aquilo me chamou a atenção. Foi quando notei que vinha da casa dela”, diz. A escritora relata que a casa não tinha porta ou janelas. Repleto de objetos surpreendentes, o local tinha uma decoração sui generis. “A ‘cama’ dela era uma janela. Ela era catadora e via beleza em coisas que, geralmente, não notamos”, diz.
Feito sua morada, o próprio vagão é um caso à parte, pois, segundo Celina, foi uma “cisma” de sua dona. “Assim como ela catava coisas, ‘catou’ esse vagão. O livro narra a peleja em torno da conquista. Ela lutou por ele na rede ferroviária, foi atrás de várias pessoas até conseguir a que o transferissem para o nome dela. Depois, teve de buscar o transporte e conseguir alguns tratores para abrir uma estrada onde ele pudesse passar”, diz. O local, conquistado a partir de uma troca por uma casa que ela possuía em uma favela no entorno do ribeirão Arrudas, tornou-se atração turística na cidade.
História difícil. Segundo Celina, o apuro estético de Lia do Vagão era impressionante. “Ela conseguia transformar lixo em arte”, diz. Mas isso, explica, não veio por acaso. Lia teve uma dura história de vida, que a levou a ser quem era. “Quando criança, teve um ferimento na perna e foi adotada por uma madrinha, que a levou para o Rio de Janeiro para curá-la. Essa pessoa a tratou, mas tornou-a sua prisioneira”, conta Celina.
“Era uma mulher rica, refinada, e transmitiu todo esse refinamento a Lia. Porém, também a escravizava. Quando começou a amadurecer, Lia fugiu e foi morar no interior. Mais tarde, recebeu essa madrinha com todo o refinamento que lhe foi passado, mas o episódio a perturbou. Assim, ela novamente se libertou e fugiu, vindo parar em Contagem”, diz.
Agenda
O quê. Lançamento do livro “Viagem no Vagão de Lia”, de Celina Coelho (ed. Aquarela, 160 páginas, R$ 15)
Quando. Hoje, a partir das 11h
Onde. Memorial Minas Gerais (Praça da Liberdade, s/nº, centro)
Quanto. Entrada gratuita
A autora
Celina Coelho é funcionária pública aposentada e realiza seu sonho de infância com o primeiro livro publicado