Na esteira de diversas ações artísticas que têm buscado refletir sobre a vida urbana, foi lançado, na semana passada, um edital que pretende levar arte contemporânea aos muros de Belo Horizonte.
"Minha ideia inicial tratava das relações entre imagem e espaço público e da possibilidade de que essas imagens pudessem provocar pequenas transformações sociais. Aos poucos, o projeto foi se transformando, e chegamos a esse edital, aberto a boas propostas elaboradas por qualquer pessoa", explica Bruno Vilela, artista visual e coordenador do projeto Muros: Espaços Compartilhados.
A escolha dos muros urbanos como suporte à criação artística, esclarece Vilela, foi motivada pela livre visibilidade dos mesmos, assim como pela recorrente apropriação desses espaços como suporte para a veiculação das mais diversas mensagens.
"Os muros da cidade sempre foram muito utilizados pela propaganda, com seus cartazes, e também pelos grafiteiros e pichadores. Se os muros são o grande suporte da cidade, podem servir também para aproximar a população dos trabalhos de arte contemporânea", justifica o artista, ressaltando o desejo de que o projeto alcance regiões da cidade onde a arte ainda encontra pouco espaço.
"O projeto estimula o contato da sociedade com a produção simbólica, de modo que as pessoas que não frequentam os ambientes da arte também possam ter contato com esse universo", destaca Vilela, sempre em busca da aproximação entre arte e vida.
Um público bastante específico, entretanto, terá papel fundamental ao longo do processo: os proprietários dos muros onde serão realizadas as intervenções.
"Realmente, não sei se as negociações para a ocupação dos muros vão ser fáceis, mas fazem parte do processo. Depende muito da natureza do trabalho, do artista e do proprietário do muro, de como eles enxergam essa barreira", afirma, para logo completar que o estabelecimento de relações entre artistas e proprietários de muros podem, por outro lado, enriquecer as criações.
No que se refere às linguagens artísticas, Vilela esclarece que o edital não oferece restrições.
"Todas as linguagens nos interessam, não só a pintura e o grafite, mas também a dança, a performance e o vídeo. O critério central é a criatividade, mas também a capacidade de tratar o muro como suporte, de estabelecer relações com o entorno. Vale qualquer proposta que seja interessante, que tenha a intenção de provocar alguma sensação, de dizer alguma coisa sobre o espaço e a realidade", adianta.