Além dos projetos comemorativos que vão celebrar seus 20 anos de carreira, Vander Lee também assume um lado mais autoral ainda da carreira, ao levar para seus shows algumas de suas canções até então não registradas em sua voz. Em entrevista ao Magazine, ele falou sobre influências na composição, a nova pegada estética de seu som, o posicionamento do artista diante ao delicado momento político instaurado no Brasil e de sua vontade de voltar a cantar sambas, como no início da carreira, nos anos 1990.
Como tem sido assumir canções que você escreve há vários anos e só agora vai interpretá-las com arranjos mais robustos?
Foi um sopro de vida na minha obra, com certeza. Eu tenho a alegria de poder dizer que pelo menos 2/3 daquilo que eu escrevi não foi cantado por mim. Tem músicas com mais de dez interpretações diferentes. Isso é demais. Mas confesso que o fato de eu assumir algumas de minhas canções é uma correção tardia na minha carreira, digamos assim. Essas canções que só estavam em disco ao vivo, em versões simples de violão, tiveram limitação de circulação, deixaram de poder tocar em novelas ou filmes porque nunca tinham sido gravadas em estúdio.
Você é conhecido pelos toques líricos em praticamente todas as suas letras. O que mudou na sua forma de compor do início da carreira para cá? O Brasil contemporâneo te atiça a escrever?
Eu tenho composto, mas obviamente não com a intensidade de começo de carreira. Por que compor também é uma coisa que vai ficando mais difícil, quanto mais aumenta a obra, maior a probabilidade de ficar se repetindo. Quanto ao momento brasileiro, eu preciso primeiro aprender o que está acontecendo, entender o mundo. É muito fácil protestar. Mas a minha música em momento algum deixa de ser social porque ela fala da minha trajetória e de vivências que tive num mundo e país difíceis.
Como é ser um artista independente aos 50 anos, com 20 de carreira?
Eu tenho muito orgulho disso, de ser independente. Mesmo com tanta falta de estrutura para as carreiras seguirem, dificuldades de espaços, patrocínios, leis de incentivo e todas as dificuldades para alguém independente – não importa o tempo de estrada. A minha prova maior de que ser independente deu certo é que ainda estou no palco e sem qualquer vontade de abandonar esse espaço. Tenho shows marcados da divulgação desse novo trabalho em São Paulo, Pernambuco e Bahia.
Além do DVD e de um disco inédito programados, você planeja outros projetos futuramente?
Na minha carreira, o samba está ali, sempre pedindo para ser tocado. Eu tenho muita vontade de maturar algo inspirado em coisas como “No Balanço do Balaio” (disco de samba lançado em 1999 pelo selo Kuarup). É uma formação da minha identidade e vou voltar a isso ainda.