Em um primeiro momento, olhar para a programação do Palco Giratório pode causar certo estranhamento. Na relação dos espetáculos, muitos dos nomes dos artistas e dos grupos de diversos cantos do país que circulam pelo projeto são em sua maioria desconhecidos do grande público.
Mas a escolha não é aleatória. Segundo uma das curadoras do projeto, Carol Fescina, a seleção é um reflexo da sociedade e da política brasileira atuais. “Buscamos entender o território que estamos e é curioso que o que vemos no cenário de Belo Horizonte se repita em cadeia em diversas capitais. A verdade é que nunca foi fácil fazer arte, temos vivido a revitalização dos centros e da força periférica, uma resistência de existir da arte no país”, explica.
Estreando pela primeira vez na capital, o projeto, que está em sua 21° edição, desembarca por aqui a partir de sexta-feira, com várias atividades gratuitas. Além de vir a Belo Horizonte, o Palco Giratório também levará apresentações a outras sete cidades do Estado. Araxá, Contagem, Montes Claros, Poços de Caldas, Juiz de Foram Uberlândia e Paracatu entram no circuito. No Brasil, serão 132 municípios de todos os Estados e do Distrito Federal.
O pontapé inicial ficou a cargo do homenageado Biribinha, 67. De Alagoas, o palhaço traz sua bagagem de 60 anos e a experiência que transita entre o circo tradicional e o novo palhaço. “O circo era a única casa de diversão no Brasil, mas tem se tornado uma das últimas opções. À noite, competimos com bares, shopping, novelas. Fico triste, porque há crianças que nunca entraram em um picadeiro, não entendem o que é um palhaço”, lamenta. “Mas não desisto: circo é ouro, não acaba nunca e brilha sempre. O artista arrisca sua vida, o palhaço é ser um denunciador da vida”, diz, esperançoso.
Além das oficinas com artistas dos grupos participantes, o Palco Giratório irá trazer também bate-papos com temáticas relacionadas ao teatro – o primeiro é sexta, às 18h, no Sesc Palladium, exatamente com Biribinha.
(Re) existência. Entre os mineiros, “Fauna”, do Grupo Quatroloscinco, foi um dos selecionados. Mergulhando nas noções de corpo individual e de corpo coletivo, e a dimensão política dos afetos, o grupo irá circular por 34 palcos do país.
A partir da itinerância, a ideia é estrear um novo trabalho em 2019. “Estar e falar para diferentes culturas e lugares é algo muito rico. Apesar de tudo ser Brasil, tudo é bastante diferente. Queremos aproveitar da experiência para pensar em uma outra pessoa”, destaca Italo Laureano.
Serviço
Agenda. Palco Giratório, de sexta (23) ao dia 28. A programação completa pode ser conferida em www.sescmg.com.br/palcogiratorio.