Apesar de não passar nem perto dos nomes mais conhecidos do cinema norte-americano, George Kuchar foi um dos realizadores mais importantes da cena underground dos EUA a partir dos anos 60. O artista, falecido em 2011, produziu uma incontável série de filmes em que aliava seu interesse pelo universo queer de Nova York e São Francisco a um alto grau de experimentação, ao diálogo com seu trabalho como pintor e a sua ligação com quadrinistas independentes.
“Vi o trabalho dele em uma mostra sobre o cinema underground norte-americano há alguns anos e fiquei bastante impactado pelo filme e pelo modo de construção estética do Kuchar”, conta Leonardo Amaral, cujo interesse o levou a uma pesquisa que resulta na mostra sobre o diretor no Sesc Palladium, a partir desta quinta (9) e até o dia 18.
Na programação, Amaral selecionou dez importantes trabalhos do cineasta, que revelam a mistura de registro pessoal, experimentação e influência do melodrama e de gêneros clássicos em sua obra.
“É uma filmografia que experimenta bastante com a linguagem e procura romper com certos artifícios do cinema narrativo clássico, ao mesmo tempo em que se filia a gêneros como o melodrama, os filmes de aventura e tem uma forte ligação com o cinema noir, feito de forma experimental”, descreve o curador.
Na seleção, estão alguns dos curtas mais aclamados de Kuchar, como “Hold me While I’m Naked” e “I, an Actress”, trabalhos do início da carreira nos anos 60 e 70 em que ele brinca com suas primeiras impressões do trabalho com película de 16 mm. Outro elemento marcante nos trabalhos é o retrato do cenário gay underground da época. “Ele aborda questões da homossexualidade e do corpo queer de maneira muito latente”, explica Amaral.
Um dos grandes destaques, porém, é a série “Weather Diaries”, que ele realizou em vídeo nos anos 80. “É um trabalho muito ligado ao cinema em primeira pessoa, de se filmar e colocar sua impressão em relação ao universo em que ele transita”, analisa o curador. Nos filmes, Kuchar viaja para uma cidade no interior de Oklahoma com o objetivo de filmar um furacão que estava previsto para dali uns dias. Enquanto espera, ele se hospeda em um hotel de estrada e fica filmando o tempo.
Os dez trabalhos, no entanto, são uma pequena amostra do trabalho do artista. Estima-se que Kuchar tenha realizado mais de 200 filmes, e mesmo o instituto que cuida de sua obra não sabe o número certo. Uma boa parte dessa obra está disponível no YouTube e no Vimeo, e o instituto espera digitalizar o que permanece só na película para que o material possa circular.
Agenda
O quê. Mostra ‘Tempos de Kuchar’
Quando. De 9 a 18/12
Onde. Sesc Palladium (avenida Augusto de Lima, 420, centro)
Quanto. Entrada gratuita