Esqueça o espectrômetro de massa, o luminol e os testes de DNA com os quais shows como “CSI” nos deixaram tão familiarizados. Em “The Killing”, cuja última temporada entra no ar no Netflix amanhã, a investigação policial se baseia na observação do ser humano e do quão baixo ele pode chegar. A série é a adaptação norte-americana do sucesso dinamarquês “Forbrydelsen” e começa absolutamente fiel à original – até no figurino –, com cada episódio cobrindo um dia de investigação do assassinato de uma jovem.
A diferença é que a original, de 2007, teve três temporadas, cada uma seguindo uma investigação de assassinato diferente. A versão americana agora estreará uma quarta – consequência de ter “esticado” a primeira temporada original em duas, entregando episódios mais lentos do que o suportável. Mas o canal AMC deu a volta por cima na terceira, que terminou com um “cliffhanger” de tirar o fôlego, e promete ainda mais emoção na quarta.
“The Killing” é muito mais do que descobrir quem matou. Ao contrário da maioria dos dramas de procedimento, em que há um crime por episódio, aqui uma temporada inteira se arrasta investigando um único caso. E mais: a estrutura se divide em três núcleos emocionais: os policiais – e o significado de todo trabalho para cada um deles –; as famílias das vítimas – com seus dramas e sua sujeira varrida para debaixo do tapete –; e a sucessão de possíveis suspeitos.
“The Killing” não tem heróis; ninguém é perfeito. Os personagens principais são mais atormentados que os assassinos que perseguem. A investigadora Sarah Linden (Mireille Enos) não consegue manter uma relação amorosa, parece incapaz de cuidar bem do próprio filho e está sempre a um passo de chutar o balde e largar tudo. Até no hospital psiquiátrico ela vai parar. E seu parceiro, Stephen Holder (Joel Kinnaman), é um viciado em drogas em recuperação.
Mais timidamente que a dinamarquesa, a norte-americana também não deixa de lado a crítica social. Trata de prostituição infantil, corrupção política e corporativa, da difícil inserção de tribos indígenas numa sociedade capitalista, de preconceito racial… Enfim, encontrar o assassino é importante, mas está longe de ser o “x” da questão.
Não foi só a série em si que melhorou com o tempo. A atuação de Mireille Enos, que nos primeiros episódios estava dura e seca como um “robocop”, acabou lhe valendo recomendações para vários prêmios. Nunca ganhou, mas valorizou seu currículo com mais de uma indicação como melhor atriz no Saturn Awards, no Globo de Ouro e no Emmy, entre outros.