“O rock n’ roll sabe a hora certa de acordar”, diz Branco Mello, ao contar que os Titãs caíram na estrada há dois anos com uma proposta arriscada: abrir todos os shows com uma sequência de dez canções novas, só para depois introduzir clássicos pesados como “Polícia” e “Desordem”. Dessa experiência, nasceu praticamente todo o disco “Nheengatu” (Sony Music, 2015): uma obra que parece pensada pelas mesmas cabeças dinossauro de quase 30 anos atrás, preenchida por guitarras sujas, gritos roucos, palavrões e ataques diretos – da pedofilia ao machismo, sem descontos.
Nessa síntese espinhosa, quem for ao Music Hall assistir ao show dos Titãs, hoje, vá avisado por Paulo Miklos: “A banda que vocês verão no palco vai cuspir rock, como em 1982”, diz o titã, em alusão à fundação de uma das maiores bandas do BRock.
Ainda que evitem falar em “retorno às raízes”, gravar ao vivo o clássico “Cabeça Dinossauro” (Warner Music, 1986) durante a turnê comemorativa de 30 anos da banda, em 2012, resgatou a vontade dos Titãs em meter o de pé na porta das imoralidades do Brasil. “Sem dúvida, conviver com o repertório do nosso disco mais clássico trouxe a gente de volta, desembocou esses temas ácidos e latentes do disco. Não é reciclar nada, mas fez cada um de nós botar uma certa raiva para fora”, revela Paulo Miklos.
Essa atitude punk da banda aparece logo no início dos shows, quando Branco Mello, Sergio Britto, Tony Bellotto, Paulo Miklos e o baterista convidado Mario Fabre – substituto de Charles Gavin desde 2010 – surgem no palco usando máscaras macabras. A novidade foi ideia do videomaker Oscar Rodrigues Alves, diretor do clipe do primeiro single do disco, “Fardado”, considerado um “Polícia II” pelo refrão inspirado nas jornadas de junho de 2013 (“você também é explorado, fardado!”). “As máscaras e pinturas são uma tradição do rock mundial, desde David Bowie até Slipknot. Queríamos fazer isso depois do clipe. O legal é que tocamos quatro músicas novas em sequência com as máscaras. É uma forma de chocar mesmo, dar um recado sem explicar, enquanto as músicas falam diretamente o que está estampado em nosso rosto”, avalia Branco Mello.
As letras novas, aliás, são “tapas na cara da hipocrisia fantasiada de moral que paira sobre o Brasil”, como define Paulo Miklos. Tudo em recados diretos, como “Fardado”, “Pedofilia”, “Fala, Renata” – questionando o machismo diário tratado como raiz comum na sociedade brasileira – e “Canalha”, única versão do álbum adaptada da canção de Walter Franco (“falamos diretamente com o Walter e ele pediu a guitarra mais pesada possível, só isso”, diz Paulo Miklos).
Enquanto boa parte das canções foi escrita entre quartos de hotel, na estrada e em encontros esporádicos no estúdio, outras nasceram de parcerias inéditas. É o caso de “República dos Bananas”, inspirada numa história do quadrinista Angeli, e moldada em versos por Branco Mello. “Pegamos alguns personagens da história dele, ele cedeu vários desenhos para gravarmos um clipe. Foi ótimo porque o Angeli tem o mesmo caráter desse disco: criticar abertamente o que deve ser criticado”, diz o músico.
CLÁSSICOS. Para encorpar o repertório de “Nheengatu”, os Titãs reviraram o baú em busca de canções antigas que tivessem a mesma verve punk rock das novas – e que há anos não entravam no set list dos shows, principalmente dos álbuns. Além dos clássicos “Polícia”, “Homem Primata” e “Desordem”, a banda ressuscita canções como “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas” (1987), “Pela Paz” (1995), “32 Dentes” (1989) e o hino “Cabeça Dinossauro” (1986). Todos os arranjos foram feitos para vibrar principalmente com a guitarra pesada de Tony Bellotto e a bateria rápida de Mario Fabre. “É um som ruidoso, cru, virtuoso e virulento. É o rock n’ roll com as críticas que sabemos fazer muito bem. E está presente o tempo todo na trajetória dos Titãs. Em ‘Cabeça Dinossauro’, ‘Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas’, ‘Vossa Excelência’ e agora ‘Fardado’”, diz Branco Mello.
Agenda
O QUE. Titãs apresenta “Nheengatu”
ONDE. Music Hall (av. do Contorno, 3.239, Santa Efigênia)
QUANDO. Hoje, às 22h
QUANTO. Os ingressos variam de R$ 65 (pista – meia-entrada) à R$ 140 (camarote)
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O retorno dos bichos escrotos
Banda lança “Nheengatu”, hoje à noite, no Music Hall, comparando discurso do novo disco com “Cabeça Dinossauro”
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