Em uma reportagem publicada por Vania Toledo na década de 80, a personagem principal é elogiada por Marília Pêra, Elis Regina e, especialmente, Wayne Shorter, à época saxofonista do grupo de jazz norte-americano Weather Report. O curioso é que não há uma aspas de Naïla Skorpio e, quem procurar, dificilmente encontrará alguma entrevista da percussionista, letrista e, acreditem, como exalta Shorter na dita matéria, uma cantora do naipe da alemã Marlene Dietrich (1901-1992).
“Senti como um grande elogio, mesmo sem conhecer realmente o trabalho dela. Mas era Dietrich, um ícone, interessante, misteriosa, especial”, define Naïla. Avessa a fotografias e sucinta em suas respostas nessa exposição praticamente inédita, a autora de canções propagadas pelo canto poderoso e grave de Angela Ro Ro, Maria Bethânia (“Vinho”) e Cazuza, através de álbuns fundamentais, finalmente conta, “de próprio punho”, um pouco da sua história.
Trilhas. Carioca, Naïla gravou quatro músicas que entraram em trilhas de novelas da Globo, “A Cara do Espelho” (Guto Graça Mello e Nelson Motta), “Rapte-me, Camaleoa” (Caetano Veloso), “Aranha Cor-de-Rosa” (versão de Haroldo Barbosa) e “Marilyn Forever” (Xixa Motta e Maria Carmen Barbosa). Todas estão disponíveis nas plataformas digitais. O que causou furor, no entanto, e ainda hoje causa, foi a maneira sussurrada da interpretação. “Nunca fui cantora, sou percussionista. Comecei a cantar porque eu gaguejava, e gostei. Aos 13 anos, minha mãe me deu um violão, aprendi ouvindo Françoise Hardy. O jeito de cantar foi natural, fluiu, meu jeito mesmo. Quanto às trilhas, aconteceu que eu estava gravando percussão na casa do Lincoln Olivetti e, por brincadeira, gravei ‘Rapte-me’ nesse meu estilo. Ouviram e gostaram”, recorda Naïla.
Mas ela também pode ser encontrada em discos de Fafá de Belém e do Barão Vermelho, nas composições, assim como atuou como instrumentista para Edu Lobo, Gilberto Gil, Maysa e Rita Lee. O grande encontro na música, porém, aconteceu com Cazuza, para quem compôs, ao lado de Roberto Frejat, “O Que a Gente Quiser”, do segundo disco do Barão. “Conheci o (produtor) Ezequiel Neves na praia, onde ficava a galera da música. Ele me apresentou ao Cazuza e ficamos super amigos, tenho uma composição com ele, mas nunca gravamos”. Afim de conservar sua aura misteriosa e lendária, Naïla não revela o título da canção. Já em “Exagerado”, Cazuza exalta a amiga.
Verve. Letrista de “Vou Lá No Fundo”, gravada por Angela Ro Ro no álbum “Escândalo!”, de 1981, Naïla enumera suas referências sem perder a verve iconoclasta. “João Gilberto, Billie Holiday, Ray Charles, Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Godard, Michael Jackson, Isadora Duncan”. Para quem começou a tocar bateria aos 6 anos, não há dúvidas. “Superar crise, só se for com a arte do ilusionismo”.
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Os mistérios da lendária Naïla Skorpio
Compositora tem músicas em álbuns marcantes de Angela Ro Ro e do Barão Vermelho
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