“Como Perder um Homem em 10 Dias” é provavelmente a última comédia romântica que funcionou seguindo à risca a fórmula do gênero. A trama é bem pensada, os diálogos são engraçados, Kate Hudson e Matthew McConaughey têm uma química natural indispensável. E no final (spoiler alert), a garota abre mão da grande chance de sua carreira por causa de um homem.
“Um Senhor Estagiário” existe para dizer às garotas que assistem a esses longas que isso é absurdo e ofensivo. E machista. E para mostrar que, em 2015, já passou da hora de declarar moratória à pergunta “como mulheres equilibram carreira e família?”. A resposta: do mesmo jeito que qualquer homem. E o fato de que isso é importante e necessário, infelizmente, não significa que este seja um bom filme.
Nancy Meyers (“Simplesmente Complicado”, “Alguém Tem que Ceder”) é uma diretora conhecida por seu “cinema show room”, com escritórios, casas e cozinhas que parecem saídos de um catálogo de decoração. E o problema é que, em “Um Senhor Estagiário”, o design de interior é mais rico que o interior de seus personagens.
A trama segue Ben (Robert De Niro), viúvo entediado com a aposentadoria, que ingressa num programa de estágio para a terceira idade em uma start-up de vendas de roupa online. Lá, ele se torna assistente pessoal da fundadora da empresa, Jules (Anne Hathaway) que, sem tempo para dormir, respirar e para a família, está sendo pressionada pelos investidores a contratar um CEO para administrar o negócio que ela criou. O resto não traz muitas surpresas.
De gerações e personalidades opostas e complementares, Ben e Jules se tornam amigos (o filme tem o mérito de nem cogitar a péssima ideia do romance) e, com seus anos de experiência e sabedoria, ele vai ajudá-la a superar seus desafios pessoais e profissionais.
Sem um grande conflito em termos de trama, o roteiro precisa ser carregado por seus personagens. Só que eles são tão plastificados quanto os cenários de Meyers. Robert De Niro é disparado a melhor coisa do longa, com um engajamento e um carisma que há tempos não se via em uma performance sua. Mas seu Ben é tão legal – o pai/tio/avô que todos gostariam de ter – que não tem falhas: ele conquista a todos, sabe dizer a coisa certa na hora certa, é um gentleman, mas não tem um arco dramático. E Jules – assim como todo o visual de sua empresa, em um galpão de tijolo com bicicletas e smartphones – é o equivalente à sua tia tentando imaginar o que seja uma start-up.
O longa parece mais interessado em fazer julgamentos do que uma representação orgânica daquele ambiente. E Hathaway nunca vai além da superfície da “geração Facebook” com mil iPhones na mão. O fato de que ela não consegue imprimir muito carisma ou autenticidade à personagem, somado à banalidade de sua trama familiar, compromete fatalmente “Um Senhor Estagiário”. Ele acentua ainda mais o caráter “white people’s problems” do longa: questões pequeno-burguesas de gente muito rica vivendo em casas muito bonitas e por quem é difícil sentir muita pena.
É necessário parar de dizer às garotas que o amor é mais importante que carreira. Mas também é necessário achar uma história melhor para fazer isso.
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