Em 1965, Chico Buarque de Hollanda ainda não era um cantor tão conhecido no país, até a gravação de “Pedro Pedreiro” em um compacto simples do Quarteto em Cy. Mais de 50 anos depois de lançar o primeiro sucesso do compositor carioca, considerado divisor de águas na carreira de Chico, as quatro vozes femininas emblemáticas da MPB voltam a homenagear o ídolo com o show “Olhos Nos Olhos – 70 anos de Chico Buarque”, que terá única apresentação no Teatro Bradesco, amanhã à noite.
Chamado de “vozes de plumas da música brasileira”, o Quarteto em Cy comemora neste ano cinco décadas de história – uma trajetória iniciada nas boates do Rio de Janeiro sob a bênção de Vinicius de Moraes, até o estouro internacional com discos lançados no Japão nas décadas de 1960 e 1970. Com mudanças na formação do conjunto ao longo da carreira – até a recente morte de Cybele, devido a uma isquemia pulmonar, no mês passado –, atualmente o grupo é formado por Cyva, Cynara, Sonya e Keyla, mas sem perder a essência original.
“Engraçado é que a gente trocou algumas vezes de formação, mas conseguimos preservar a tradição das quatro vozes, o que é muito difícil quando se constrói uma carreira de décadas muito sólida. A Keyla, que entrou por último há um ano, e estreou no Quarteto em Cy justamente em Belo Horizonte, tem os graves que prezamos, é uma sintonia ótima que parece fluir com um espírito construído há 50 anos”, atesta a cantora Cynara.
Apesar de terem transitado por compositores como Toquinho, Dorival Caymmi e Tom Jobim durante toda a carreira, Chico Buarque ainda é o preferido das meninas – o próprio compositor chegou a declarar publicamente que ao lado da gravação de “A Banda” (1966), na voz de Nara Leão, a interpretação do Quarteto Cy de “Pedro Pedreiro” foi a sua entrada na carreira artística, na efervescência cultural carioca da década de 1960.
Por isso, o show “Olhos Nos Olhos”, que estreou em abril deste ano no Theatro Net, no Rio de Janeiro, carrega mais de 15 canções do compositor carioca escolhidas a dedo pelo quarteto, em uma espécie de segunda homenagem prestada a Chico. Mas, diferente do álbum “Chico em Cy” (Fama/CID, 1991), onde as meninas fazem reverência ao compositor carioca se revezando em lados A e B da carreira de Chico Buarque, neste show a maior parte das canções é conhecida do grande público, como “João e Maria”, “Futuros Amantes”, “Roda Viva”, “Samba de Orly”, “A Banda” e “Construção”.
Para a capital mineira, o quarteto ainda prepara uma música especial que não está no roteiro oficial do repertório. “Uma diferente que vamos fazer é ‘Tamandaré’, censurada pela ditadura em 1965, e que só quem gravou em disco fomos nós. Por isso essa canção é tão especial para a gente”, completa Cynara.
Os arranjos vocais do show são divididos entre Bias Paes Leme, Célia Vaz e Oscar Castro Neves, além da própria Cynara, que remodelou algumas canções interpretadas ao lado dos músicos Vitor Neto (sopro), Jeferson Lescowich (baixo), Camila Dias (piano) e João Cortez (bateria). “A gente sempre procura os melhores tons para nossas vozes, mas os arranjos das canções são bem próximos ao original, a banda mesmo explora flauta e piano muito bem, como é uma marca do Chico”, diz Cynara.
O show ainda tem participação especial do cantor e compositor Chico Faria, filho de Cynara, que interpreta “Cotidiano” e “As Vitrines” acompanhado do cavaquinho.
Serviço. Quarteto em Cy apresenta o show “Olhos Nos Olhos – 70 anos de Chico Buarque”, no Teatro Bradesco (rua da Bahia, 2.244, Lourdes), sábado, às 21h. Os ingressos custam R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia-entrada), e podem ser adquiridos na bilheteria do teatro, de segunda a sábado, das 12h às 20h; e domingo, das 12h às 19h, ou pelo site www.ingressorapido.com.br.