Literatura

Leminski, que faria 75 anos, retomou sucesso postumamente e é hit da web

Obra do poeta segue apreciada por leitores veteranos e conquista novos interessados, sendo as redes sociais um das principais aliadas desse processo

Por Carlos Andrei Siquara
Publicado em 18 de agosto de 2019 | 00:03
 
 
 
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Quando a publicação do volume “Toda Poesia”, de Paulo Leminski (1944-1989), saiu em 2013 pela editora Companhia das Letras, já havia uma forte garantia do interesse do público pela obra do poeta, romancista, tradutor e compositor paranaense que faria 75 anos no dia 24 e morreu há três décadas. Alice Ruiz, também poeta, com quem Leminski foi casado, avalia que, apesar de ter demorado para ser organizada, a obra começou a circular em um ótimo momento.

Afinal, os versos de Leminski encontraram na internet um meio poderoso para conquistar novos leitores e sustentar a apreciação dos veteranos, mantendo vivos os versos do poeta. “A poesia do Paulo sobreviveu nas redes sociais. Acho que isso aconteceu porque a escrita dele tinha uma característica comum à dos autores de sua geração, que era produzir uma poesia mais coloquial, apesar de ela ser culta. Porém, ela era acessível, perfeita para as redes sociais”, observa Alice.

De lá para cá, o título já vendeu cerca de 170 mil cópias. O crítico e poeta Tarso de Melo acrescenta que isso era algo esperado, porque Leminski estourou em 1983 com o tomo “Caprichos e Relaxos”. Ele, contudo, morreria seis anos depois, no auge de sua carreira, vítima de uma cirrose hepática. 

“Ele reuniu o que tinha feito em pequenas edições nesse livro e conseguiu se projetar muito mais do que a média dos poetas brasileiros. Em pouquíssimo tempo, a versão que saiu pela editora Brasiliense teve três edições e ganhou outra em 1987 pela editora Círculo do Livro. ‘Caprichos e Relaxos’ chegava à casa das pessoas por meio de um esquema de assinatura de revista”, recorda Melo, que ressalta o engajamento do poeta em ser lido. 

“Leminski nega aquela ideia de que a poesia era para poucos. Ele sempre foi, já nos anos 80, um poeta para muitos”, sublinha o crítico. 
Áurea Leminski, filha do autor e uma das responsáveis por cuidar do espólio dele, pontua que, embora seu pai expressasse muitos interesses, travando parcerias com músicos, como Caetano Veloso e Moraes Moreira, ele privilegiava a poesia.

“Ele transitou por diversos gêneros literários: poesia, prosa, romance, ensaio, conto, biografia, tradução, entre outros, e cada obra é singular e inovadora. Mas a poesia estava presente em toda a sua produção, ele mesmo se definia essencialmente como poeta”, diz. 

Melo compara as trajetórias de Leminski e Vinicius de Moraes (1913-198) para reforçar justamente o fato de que, ao contrário do parceiro de Tom Jobim (1927-1994), o paranaense não teve suas composições iluminando sua poesia. “Isso coloca Leminski numa posição ainda mais rara, porque quem quer ouvir as canções dele é porque é apaixonado primeiro por seus poemas”, conclui o crítico.

 

 

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