Estreias

As telas de cinema pós-Oscar

Finda a temporada de prêmios, é hora de conferir as novas apostas dos estúdios, como o suspense “O Homem Invisível

Por Patrícia Cassese (com agências)
Publicado em 27 de fevereiro de 2020 | 03:00
 
 
 
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Passada a cerimônia de entrega do Oscar, que praticamente encerra a temporada de premiações dos filmes lançados no ano passado, entra em cena a nova safra de apostas dos estúdios – sejam os grandes, sejam os de viés independente. Não por outro motivo, a lista de estreias de cinema desta sexta-feira corresponde a um cardápio para atender a todos os paladares, do engajado cineasta britânico Ken Loach a um novo remake do clássico “O Homem Invisível”, passando pelo cinema autoral de Terrence Malick e uma boa estreia nacional, “Jovens Polacas”, de Alex Levy-Heller.

Ocupando vários cinemas, “O Homem Invisível”, dirigido por Leigh Whannel, tem como epicentro a questão dos relacionamentos abusivos, por meio do personagem icônico criado por H.G. Wells. Aqui, Elizabeth Moss é Cecília Kass, uma mulher que recebe a notícia que seu ex-marido, Adrian (Oliver Jackson-Cohen), teria se matado. Ela tenta retomar a vida e seguir em frente, até que passa a suspeitar que o rapaz não está realmente morto. Com um suspense desenvolvido em tons sombrios, o roteiro também trabalha a questão da loucura, pecha que paira sobre a personagem central diante de suas angústias e dúvidas.

Volta em grande estilo. Quando terminou o elogiado “Eu, Daniel Blake” (2016), Ken Loach, 83, acreditava que seria seu último trabalho. O encerramento de uma carreira marcada essencialmente pela crítica social e simpatia pelos desvalidos. Mas, durante a pesquisa realizada para aquele longa, ele e o roteirista Paul Laverty enveredaram por um ramo obscuro da sociedade: o da selva do livre mercado, em que as pessoas ganham por trabalho executado, geralmente como motoristas de aplicativos ou entregadores.

Nascia ali “Você Não Estava Aqui”, que causou comoção em Cannes e que estreia agora no país. Abbie e Ricky vivem um casal apaixonado e esperançoso de que o trabalho independente possa resolver seus problemas financeiros. Ricky compra uma pequena van para ser motorista de entrega. O que não imagina é entrar em um sistema que exige longas jornadas, quase sem descanso (é obrigado, por exemplo, a urinar em uma garrafa) e sem nenhuma garantia social. A rotina é tão alucinante que só consegue falar com os filhos por telefone. “Um novo tipo de exploração, a gig economy, que nos incentivou a rodar o filme”, disse Loach.

Já o norte-americano Terrence Malick (“A Árvore da Vida”) volta com “Uma Vida Oculta”, filme de três horas baseado em fatos reais. Mais uma vez, temos o nazismo como pano de fundo. Em cena, Franz Jägerstätter (August Diehl), um agricultor austríaco que se nega a prestar juramento a Hitler durante a Segunda Guerra Mundial, o que lhe custará caro. Vale dizer que o filme traz o ator suíço Bruno Ganz, que faleceu em fevereiro do ano passado.

Jovens Polacas

Foi por intermédio de sua avó que o cineasta Alex Levy-Heller travou contato com o livro “Jovens Polacas”, de Esther Largman, “ainda nos tempos de ginásio”. A despeito da pouca idade, a potência da narrativa ficou retida em sua memória. Recentemente, ao se enfronhar em pesquisas para um novo filme, ouviu a sugestão das escravas brancas que, no início do século passado, chegavam ao Brasil vindas principalmente do leste europeu.

Retornou ao livro, então, e assim surgiu o filme homônimo, que estreia hoje. Passado em dois espaços temporais, o longa traz atores como Flávio Migliaccio, Jacqueline Laurence e Berta Loran reconstruindo com maestria uma história ainda pouco conhecida, inclusive por ter sido em parte propositadamente coberta pela moral reinante. Uma bela e poética produção.

Também estreia “Martin Eden”, onde o personagem do título se apaixona por Elena, jovem de uma rica família. A partir daí, imagina que o sonho de se tornar escritor pode ajudá-lo a superar a origem humilde e se casar com ela. À custa de privações, Martin alcança a educação que nunca foi permitida a gente de sua classe social. Mas se envolve em círculos de discussão socialista, o que o leva a conflitos com o mundo burguês de Elena. Baseado no livro de Jack London.

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