Assim como qualquer campo cultural, a gastronomia de um povo é tão rica quanto for diversa. A do Brasil, por definição, é resultado da mistura de saberes distintos, em que pesam influências indígenas, africanas e europeias encontradas ao longo de todo o território nacional, em cada lugar com maior ou menor peso.
Descartando e minimizando o valor das riquezas regionais, porém, houve quem aproveitasse o momento de disputas eleitorais no país para encher as redes sociais de declarações preconceituosas em relação ao Norte e ao Nordeste, incluindo seus sabores típicos como motivos para detratações. Se esse comportamento revela a intolerância desses internautas, pode esconder também um profundo desconhecimento do conjunto e da beleza da culinária brasileira.
A própria construção de uma cozinha contemporânea típica do Brasil passa, afinal, pelo “descobrimento” de ingredientes e técnicas do Norte e Nordeste. Tanto que o chef mais aclamado do país, Alex Atala, que se embrenhou na Amazônia e de lá trouxe sabores antes desprezados, que colocaram o país no mapa gastronômico mundial. Em seu restaurante, o paulistano D.O.M. (sétimo melhor do mundo no ranking da revista britânica “Restaurant”), ele apresentou à elite brasileira elementos como o tucupi, a pupunha, a priprioca, o jambu e tantos outros. Defendendo a culinária regional, seu primeiro livro, “Por uma Gastronomia Brasileira”, de 2003, exalta os sabores amazônicos, em especial os paraenses – que saíram de uma posição de desconhecimento para a valorização pelas mãos de jovens chefs que seguiram o mestre.
Cada vez mais reconhecida nas últimas décadas, a culinária nordestina, por sua vez, tem vertentes bem definidas (o sertão, o litoral e o Recôncavo Baiano) que aos poucos chegam às cozinhas ditas mais sofisticadas. Em sua forma de lidar com a comida e o desperdício, os nordestinos servem ainda de exemplo ao restante do país. Como representante maior no Sudeste está o chef Rodrigo Oliveira, do Mocotó (em São Paulo), que não esconde suas raízes cravadas no sertão de Pernambuco.
O Gastrô de hoje procurou chefs para mostrar a importância desses sabores e saberes para a cultura do país, destacando atrativos típicos que devem ser apreciados sem moderação – nem preconceito.
Serviço
. Norte
BM Design.Avenida Afonso Pena, 2.881, Funcionários. (31) 3327-3372
Casa de Música. Rua Curitiba, 2.307, Lourdes. (31) 2516-2307
. Nordeste
Alguidares. Rua Pium-í, 1.037, Sion. (31) 3221-8877
Café Gonçalves. Rua. Gonçalves Dias, 166, Funcionários. (31) 3223-1371
Matusalém. Avenida General Olímpio Mourão Filho, 169, Planalto (Pampulha). (31) 3447-9973
Temático. Rua Perite, 187, Santa Tereza. (31) 3481-4646